A internet começou sua popularização nos anos de 1990 e rapidamente se espalhou pelos quatro cantos do mundo como a mais revolucionária das ferramentas de comunicação. Os fatos que se seguiram com a rede mundial de computadores depois de sua gênese somente comprovam essa tese, porém, aqui no Brasil muita coisa ainda não acontece.
Atualmente podemos realizar inúmeros serviços via internet: pagamentos, compras, transações bancárias, compartilhamento de arquivos, dados e informações, cursar faculdade, participar de reuniões, etc. Além disso, não é nada difícil encontrar diversão e entretenimento neste mundo paralelo existente dentro dos computadores.
Contudo, existe uma série de sites e serviços – para entretenimento principalmente – que ainda não estão disponíveis ou têm conteúdo bastante restrito para as terras tupiniquins, o que acaba excluindo milhões de brasileiros deste admirável mundo novo.
Entretenimento sem limites... Menos para o Brasil!
Se você é um daqueles internautas que adora fuçar o mundo virtual atrás de novidades para seu entretenimento e diversão, já deve ter esbarrado em vários sites com conteúdo dos melhores canais de televisão do mundo disponíveis na internet de modo legal e gratuito (ou então com planos de assinatura), mas na hora de acessar... “Desculpe, mas o seu IP é do Brasil”.
Sim! Um mundo de entretenimento a um clique de distância, mas não para você que está no Brasil. Para ilustrar esta realidade temos quatro bons exemplos: Hulu, Spotify, Pandora Internet Radio e o FreeAllMusic.com
Hulu
Hulu é um site que oferece via streaming conteúdo no formato Flash Video (igual ao YouTube) de grandes redes de televisão do mundo. Este serviço é o resultado de um esforço em conjunto entre NBC Universal, Fox Entertainment Group e ABC Inc., três grandes produtores de conteúdo, cujas produções são famosas no mundo todo.
São vários canais para a exibição de filmes, desenhos, seriados e eventos musicais e esportivos que podem ser acessados e acompanhados em qualquer lugar, em qualquer momento (tal qual o slogan do site “Anywhere, anytime”), mas o serviço só está disponível para os Estados Unidos e ao tentar assistir algo você recebe essa informação.
Pandora Internet Radio
Outro bom exemplo é a Pandora Internet Radio, uma rádio online gratuita em que você pode criar estações somente com artistas similares, selecionados aleatoriamente pelo próprio site. Áudio de boa qualidade, suporte para uso em celulares e gratuito, porém, disponível somente para os Estados Unidos.
Spotify
O Spotify é um serviço legal de transmissão de músicas, ou seja, você pode ouvi-las sem se preocupar por infringir leis de direitos autorais de onde quer que seja. Funcionando nos moldes do Hulu, você pode usar o Spotify onde estiver, a qualquer momento, basta acessar sua conta para ter “um mundo de música” ao seu dispor.
Este serviço é gratuito, mas também possui um plano pago em que o usuário encontra algumas vantagens como ausência de propagandas, possibilidade de ouvir suas listas de reprodução enquanto estiver offline, acessar o Spotify por meio de celulares e melhor qualidade de áudio. Independente de pagar ou não, se você não está na Suécia, Noruega, Finlândia, Inglaterra, França ou Espanha, não poderá usufruir de seus benefícios.
FreeAllMusic.com
E que tal se ao invés de pagar alguns dólares por uma música comprada você tivesse apenas que assistir a um pequeno comercial de 20 a 30 segundos? Pois é essa a ideia do FreaAllMusic.com, um site que disponibiliza músicas para download e compartilhamento irrestrito, sendo que o “pagamento” é acompanhar o comercial. Mais uma vez uma bela proposta que beneficia tanto o público quanto o artista deixa o Brasil de lado: o serviço é disponível apenas para os EUA.
Dois para lá, um para cá
Tudo bem, temos que reconhecer que não estamos completamente ilhados do entretenimento mundial, afinal muita coisa também está disponível aqui para o Brasil (leia mais sobre isso logo abaixo). Contudo, algumas coisas bastante interessantes estão disponíveis apenas parcialmente, como os serviços online Xbox Live (do console Xbox 360 da Microsoft) e a PlayStation Network (do PS3 da Sony).
Em ambos os serviços existe uma enorme limitação de conteúdo para contas brasileiras. Muita coisa como jogos completos pagos ou demos gratuitos para baixar, facilmente encontrados em contas europeias, japonesas e/ou estadunidenses, simplesmente não existem se sua conta possui um endereço do Brasil.
A App Store, loja virtual da Apple, possui um catálogo imenso de aplicativos para iPhone e iPod Touch. Pense como é divertido: uma loja virtual em que você pode acessar do computador ou do dispositivo móvel, “folhear” um catálogo e comprar os jogos e aplicativos que julgar interessante. Se você está no Brasil, porém, a variedade deste catálogo é bastante reduzida.
Leia mais em:
• Por que a App Store brasileira não tem jogos?
Nem tudo são espinhos
Apesar de todas as dificuldades apresentadas anteriormente, aqui no Brasil nós também temos belas iniciativas que envolvem este mundo digital. Bons exemplos acabam sendo poucos, porém, muito interessantes.
NetMovies Live
Um caso é o NetMovies, locadora virtual de filmes em que você pode locar DVDs/Blu-ray sem sair de casa. No site você encontra a NetMovies Live, uma seção que permite a exibição de filmes online, em qualquer computador e gratuitamente.
Você precisa apenas selecionar o título que deseja ver, sem download nem instalação, tal qual você faz no YouTube e em outros sites de transmissão de vídeos. Logicamente, o vídeo é carregado e a velocidade em que se dá este processo depende de sua conexão.
Saraiva Digital
Outro excelente exemplo é a Saraiva Digital, um local online da editora e livraria Saraiva onde é possível locar e comprar filmes. Diferentemente das lojas convencionais, aqui você não precisa esperar o disco com o filme chegar à sua casa: após realizar a compra, basta fazer o download do arquivo e assistir a ele.
Se não quiser comprar, a Saraiva disponibiliza títulos também para locação, ou seja, você paga um determinado valor e pode assistir ao filme quando quiser em um determinado período de tempo. Para usufruir deste serviço é preciso fazer o download do aplicativo Saraiva Digital (clique no link) e então você poderá adquirir e visualizar filmes e séries sem sair da frente do PC.
Terra TV
Mais um exemplo presente no Brasil que vale a pena ser citado é a Terra TV. Uma televisão online disponibilizada pelo portal Terra com vasto conteúdo. Este é um serviço que disponibiliza centenas de vídeos para qualquer usuário, desde filmes completos e seriados como Lost até entrevistas coletivas de jogadores de futebol e programas do Biography Channel. Todo esse conteúdo é disponibilizado gratuitamente.
Estes três serviços mostram que o Brasil se encontra sim na rota de grandes produtoras e daqueles que veem na internet um espaço amplo e produtivo para a divulgação de conteúdo para entretenimento gratuito ou não.
Steam
Apesar de não ser brasileiro, o serviço Steam está disponível para cá. Esta ótima iniciativa da produtora de jogos eletrônicos Valve pretende combater a pirataria por meio da distribuição digital. O serviço é bastante simples: você baixa o programa, faz seu cadastro e então pode realizar a compra de jogos pela internet, utilizando seu cartão de crédito internacional.
Feita a compra, você pode fazer o download do jogo em qualquer computador bastando para isso fazer o login em sua conta. O serviço é um sucesso completo e possui em seu catálogo de jogos mais de dois mil títulos, dentre eles grandes jogos como Half-Life, Gran Theft Auto, Far Cry, Call of Duty, Max Payne, Quake, Football Manager, e Tomb Raider.
Apesar de todos os jogos estarem cotados em dólar, você encontra diversos deles com preços inferiores a US$ 10, valor que, convertido, não chega a R$ 20. Além disso, existem ali centenas de versões de demonstração que podem ser baixadas gratuitamente por qualquer usuário, em qualquer lugar.
Awomo
Outro serviço nos moldes do Steam e que trabalha com a distribuição digital de conteúdo é o Awomo. Aqui também você se cadastra no site e então realiza a compra e o download dos jogos que desejar, no computador que preferir. A proliferação deste tipo de serviço mostra como a distribuição digital pode ser uma saída para o combate à pirataria de jogos e softwares.
Pirataria
Alguns apontam a pirataria como um dos grandes inimigos da expansão do mundo digital no Brasil, pois ela seria um ponto desencorajador de grandes empresas de entretenimento para se aventurarem no mercado tupiniquim.
Segundo dados do Estudo Global de Pirataria de Software de 2005, levado a cabo pela estadunidense Business Software Alliance (BSA), a cada dez softwares vendidos em nosso país, seis eram cópias piratas.
Se analisarmos o volume de jogos, músicas e filmes piratas comercializados no Brasil, este número deve ser ainda maior e isso poderia afastar da realidade brasileira as benesses deste mundo digital.
Por outro lado, todos sabem que a pirataria não é algo tipicamente brasileiro e que em países desenvolvidos a prática também é bastante comum.
Na Suécia, terra natal do The Pirate Bay (TPB) – que se autointitula o “maior tracker BitTorrent do mundo” – e já sofreu bastante com a justiça daquele país pelo fomento à pirataria, surgiu o Partido Pirata.
Este partido pretende, dentre outras coisas, colocar em voga discussões sobre revisão de leis de direitos autorais a fim de compartilhamento de informações e conhecimento e já ganhou adeptos e versões nacionais em diversas outras partes do mundo.
Leia mais em:
• Partido Pirata: você já ouviu falar?
• Debate: pirataria de software
A lei se levanta contra a pirataria
O Código Penal brasileiro em seu artigo 184 aponta como crime a violação de direitos autorais e demais direitos conexos, prevendo pena de três meses a um ano de detenção ou multa. Em 2003 foi aprovada a lei 10.695/03, uma “nova lei antipirataria” que pretende aumentar o rigor sobre a comercialização de produtos ilegais, deixando de lado aquilo que é feito sem fins lucrativos, como baixar música em seu computador doméstico.
Na França – país em que, segundo estudos, são baixados cerca de 10 milhões de filmes ilegalmente por mês – uma lei antipirataria está em debate desde abril de 2009.
Ela pretende tornar o país um dos mais rigorosos no combate à distribuição ilegal de conteúdo via internet e uma das sanções previstas inicialmente no projeto de lei era a desconexão da internet do usuário que baixar pirataria.
Na mesma Suécia do Partido Pirata e do TPB surgiu uma lei para combater a pirataria. Com base na legislação nacional, um produtor/desenvolvedor/artista, enfim, o responsável pelos direitos autorais de determinado produto, pode ir aos tribunais e solicitar à Justiça que “desvende” a identidade ligada ao IP do computador que baixou o conteúdo ilegalmente.
Em menos de 48h após a entrada em vigor da lei em 1º de abril de 2009, o tráfego de dados na internet sueca caiu de quase 140 gbps em 31 de março para pouco menos de 80 gbps. Além disso, dois indivíduos foram presos acusados de compartilhar ilegalmente arquivos protegidos por direitos autorais, o que mostra que o cerco contra a pirataria está aumentando no país escandinavo.
Distribuição digital gratuita: uma saída
Apesar de muitos verem na distribuição digital gratuita de conteúdo um fim, outros veem ali um recomeço. Alguns casos mostram como a descriminalização do download de música pode surtir efeito. Para exemplificar citaremos dois deles: o movimento Música para Baixar e o portal brasileiro Trama Virtual.
Trama Virtual
O portal Trama Virtual, pertencente à gravadora brasileira Trama, funciona como um espaço de troca entre artistas e seus fãs, além de palco para centenas de bandas independentes que divulgam seu trabalho na internet. Esta é uma plataforma em que artistas como Ed Motta, O Teatro Mágico e Móveis Coloniais de Acaju, têm todo seu trabalho disponibilizado gratuitamente para download.
Outro projeto da Trama, envolvendo apenas artistas que possuem contrato com a gravadora, é o Álbum Virtual. Aqui se encontram álbuns completos para download, juntamente com encarte, informações especiais e vídeos, tudo gratuitamente. Mais uma vez é o serviço de distribuição digital colaborando na divulgação do trabalho de artistas brasileiros.
Movimento Música para Baixar
Surgido a partir do sentido democrático que a internet dá à comunicação, o Movimento Música Para Baixar (MPB) é uma coleção de esforços de vários artistas brasileiros que pretendem descriminalizar o download de música por meio da ideia de que “quem baixa música não é pirata, é divulgador! Semeia gratuitamente projetos musicais” (trecho retirado do manifesto do Movimento).
O MPB é composto por artistas, produtores, ativistas da internet e usuários e pretende promover debates e ações entre estes públicos diversos a fim de conscientizar a todos sobre a importância do compartilhamento da música. Encabeçam o MPB artistas como Leoni, o rapper GOG e a trupe d’O Teatro Mágico, juntamente com Marcelo Branco, membro da Associação SoftwareLivre.org e vários outros “artivistas”.
O outro lado da moeda
Ainda tratando da distribuição de conteúdo, recentemente Fred 04, vocalista da banda pernambucana Mundo Livre S/A e um dos precursores do Movimento Mangue Beat ao lado de Chico Science & Nação Zumbi, deu declarações que causaram um certo mal-estar em quem apoia o download gratuito de música na internet.
Dentre outras coisas, o músico afirmou que melhor do que “música para baixar” seria um movimento “música para pagar e baixar”. Segundo o artista pernambucano, chegamos a um estágio em que “é quase proibido questionar a internet”. Além disso, ainda de acordo com Fred 04, a exclusão das gravadoras no processo de produção poderia trazer prejuízos como a diminuição da agenda de shows dos artistas.
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• Como funciona o sistema de distribuição digital?
• Sony Online Service: o Ás na manga da Sony
Conclusões...?
Se por um lado o cenário é bastante limitado, por outro vemos que há uma forte movimentação capaz de modificar os rumos da distribuição de conteúdo de entretenimento no Brasil, seja no campo da música, do cinema ou dos jogos. Independente de como, uma coisa é fato: a distribuição digital é um caminho que leva para o futuro.
A internet revolucionou a comunicação e o compartilhamento de conteúdo eletrônico e isso não tem mais volta. O que precisamos é de uma readequação que beneficie tanto o artista/produtor quanto o consumidor final. Esta é uma discussão que está apenas começando e que possui muito pano para manga, portanto, participe conosco e nos dê sua opinião.
Você acha que a pirataria realmente influencia na (não) expansão do mundo digital no Brasil? Será que existem motivos plausíveis para que o Brasil seja excluído de alguns ótimos serviços como os citados neste artigo? Você consome produtos digitais? O que pensa sobre iniciativas como as do Movimento MPB e da Trama Virtual? Concorda ou discorda com as declarações de Fred 04? Manifeste-se!
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