O mercado de câmeras digitais tem dois lados bastante distintos. Enquanto profissionais e amadores avançados procuram as dSLR (digital Single Lens Reflex – Reflex digitais de lente única), com milhares de lentes diferentes, sensores enormes e controles complicados, as pessoas que só querem um meio de registrar seus momentos especiais procuram as compactas: simples de usar, muitas funções, leves e portáteis.
Em um paralelo com o mundo dos computadores, de um lado você tem os super equipamentos – desktops poderosos, com componentes de altíssima performance – ocupando o espaço que, na fotografia, pertence às dSLR. No outro canto estão os netbooks – tecnologia avançada voltada principalmente à portabilidade, mesmo que isso diminua a capacidade total – equivalentes às câmeras compactas.
As câmeras EVIL (Electronic Viewfinder, Interchangeable Lens – visor eletrônico e lentes intercambiáveis) pretendem ocupar – nessa comparação – o espaço de notebooks. Mais poderosos que netbooks e bastante portáteis, porém sem a mesma capacidade dos desktops.
Como chama?
Além do acrônimo EVIL, alguns as chamam de MIL (Mirrorless Interchangeable Lens – lentes intercambiáveis sem espelho), mencionando uma das principais diferenças em relação às dSLR, que usam um espelho em frente ao sensor para direcionar a imagem até o visor.
Quem vai definir o nome da categoria é o mercado – como aconteceu com os netbooks, que já foram chamados de subnotebooks, por exemplo – quando essas câmeras se consolidarem nas lojas e nas mãos do consumidor. Neste artigo, a nomenclatura EVIL será usada para facilitar, e também graças ao apelo inevitável de um acrônimo com esse resultado.
Compacta, mas quase profissional
A fotografia digital entrou no gosto do consumidor muito antes de chegar ao ambiente profissional. A qualidade das imagens – nos seus primórdios – era péssima, e levou vários anos até conseguir se equiparar ao resultado obtido em filme. Desde que isso aconteceu, entretanto, as diferenças entre uma câmera profissional e uma amadora eram claras: sensor grande e troca de lentes.
Como você já viu aqui no Baixaki, mesmo câmeras com 6 ou 8 Megapixels e um sensor grande produzem imagens de mais qualidade que compactas de 10 ou 12 MP.
Com isso em mente, em 2007 a Sigma lançou a DP1, primeira câmera compacta utilizando exatamente a mesma tecnologia de uma dSLR (no caso, a Sigma SD14). Processadores, sensor e software eram os mesmos nas duas câmeras, mas a DP1 ainda não podia ser considerada uma câmera EVIL, pois não permitia a troca de lentes.
Um pouco antes, em 2006, diversas empresas se reuniram em consórcio para a criação de um novo sistema de lentes e câmeras – o sistema Four-Thirds ou 4/3 – que ainda utilizava o espelho característico das câmeras Reflex.
Olympus, Panasonic, Kodak e vários fabricantes menores do mercado de fotografia digital se comprometeram com o formato e lançaram câmeras e lentes para ele. A grande diferença das câmeras 4/3 para dSLRs comuns era seu tamanho menor – tanto em termos de câmera quanto de sensor.
Micro 4/3
Em 2009 o consórcio responsável pelo formato 4/3 resolve inovar e, utilizando vários conceitos comuns em câmeras compactas – como a ausência de espelho e a utilização de uma tela LCD para a composição da imagem – lança o padrão Micro 4/3, explicado em detalhes aqui.
A rigor, pode-se considerar as câmeras Micro 4/3 como as primeiras da categoria EVIL, já que apresentam todas as características consideradas marcantes desse tipo de câmera. Porém o nome e a própria menção de “categoria” só aparecem em 2010.
Novidades “Made in Asia”
Apesar de quase desconhecida, uma câmera pode ser considerada precursora de todo o buzz em torno das câmeras EVIL hoje. Enquanto 2009 terminava, a coreana Samsung apresentava a NX10, com sensor APS-C de 15.1 Megapixels e baioneta NX para lentes específicas. Até agora apenas três lentes acompanham a NX10: 30mm fixa e as zoom 18-55mm e 50-200mm.
Em janeiro de 2010 a Sony anunciou o projeto de câmeras conceito, com corpo menor que uma dSLR, mas usando o sensor de tamanho APS-C – o mesmo presente na maioria das câmeras profissionais.
A empresa é uma das maiores fabricantes no mercado da fotografia digital, produzindo sensores de diversos tamanhos, câmeras compactas variadas e também lentes e câmeras dSLR da série Alfa.
Como o padrão Micro 4/3 – devido principalmente ao alto custo dos equipamentos – nunca teve grande expressão no mercado, a aposta da Sony e da Samsung é ocupar um nicho praticamente inexplorado.
Apelos variados
Em termos de mercado, as câmeras EVIL oferecem uma situação de ganho para todo tipo de consumidor. Para o profissional e para amadores avançados os novos modelos oferecem qualidade de imagem e recursos existentes em câmeras dSLR, mas mais portáteis e práticos. Ainda que não sejam utilizadas no dia a dia do trabalho fotográfico, as EVIL se tornam uma opção válida para as fotos descompromissadas, graças à sua portabilidade.
Aos amadores a oferta é semelhante, porém vista de outro ângulo. Com este equipamento não é necessário abrir mão da praticidade e do conforto de uso de uma câmera compacta para se obter mais opções e versatilidade.
Como o mercado começa a reconhecer o espaço vazio que existia entre as câmeras atualmente disponíveis, e com a entrada de concorrentes de peso como a Sony, pode-se também esperar preços mais competitivos, além do desenvolvimento da tecnologia.
Canon e Nikon
Quando se fala em câmera fotográfica, é difícil imaginar que algo surgiu sem influência dos principais fabricantes. Apesar de existirem rumores – principalmente sobre a Nikon – de câmeras EVIL da dupla dinâmica da imagem, existem considerações a fazer.
Ambos os fabricantes têm uma longa história no mercado fotográfico – desde o tempo dos filmes essas são as marcas dominantes – e o lançamento de um equipamento compacto exigirá um investimento muito grande em tecnologia.
Também deve ser levado em conta o histórico de seus usuários, já que muita gente investiu dinheiro em lentes e equipamentos dSLR das duas marcas. Devido às diferenças de construção entre uma dSLR e uma câmera EVIL, é praticamente impossível acreditar que exista compatibilidade entre as lentes atuais e possíveis câmeras sem espelho desses fabricantes.
Outro problema que pode desestimular os grandes fabricantes a entrar na competição é a necessidade de – uma vez lançada a linha EVIL – manter não só a produção de câmeras dSLR e compactas.
Um terceiro conjunto de equipamentos, que graças à sua engenharia não deve compartilhar acessórios com nenhuma das linhas já existentes, deve ser projetado. O custo operacional de uma jogada como essa pode ser crítico, e o risco é muito alto.
E agora?
Ainda é cedo para falar se as câmeras EVIL terão a aceitação que se espera de um equipamento que preenche um vácuo na seleção disponível para compra. Uma vez que os modelos disponíveis são poucos – a Samsung NX10 e meia dúzia de câmeras Micro 4/3 –, o mesmo ocorre com a variedade de lentes.
Com a entrada da Sony no jogo, é possível que até o fim de 2010 outras fabricantes resolvam aderir ao formato, mas não é fácil prever de que maneira isso aconteceria.
Para aquelas empresas que já fabricam câmeras compactas, o investimento em tecnologia pode ser muito alto, enquanto que corporações já arraigadas no mercado profissional podem não sentir interesse em diluir sua marca em um mercado amador.
Ainda assim, é impossível não imaginar os olhos da grande maioria de fotógrafos brilhando ao perceber que é possível aliar portabilidade, versatilidade e qualidade em um único equipamento.
Que venham as câmeras EVIL, e que elas atendam a amadores e profissionais – cada um com suas necessidades. Principalmente que a categoria chegue competitiva, com preços justos, funcionalidades atraentes e imagens estonteantes.