Quando a fotografia digital foi desenvolvida, a maioria dos grandes fabricantes apressou-se em adaptar equipamentos à nova tecnologia. Mesmo com essa corrida, as câmeras e lentes de hoje ainda são construídas de forma muito semelhante aos equipamentos da era analógica. Tanto isso é verdade que diversos fabricantes ainda utilizam peças com as mesmas marcas dos tempos do filme, principalmente em termos de lentes.
Os quatro terços
Como toda adaptação, vários recursos possíveis com a tecnologia digital não são completamente explorados nos equipamentos derivados diretamente da tecnologia analógica, sem contar o grande número de peças hoje desnecessárias para o funcionamento e que continuam nas câmeras “porque sempre estiveram lá”. Casos clássicos desse fenômeno são o espelho móvel e o visor pentaprismático das dSLR (digital Single Lens Reflex – Reflex digital de lente única).
Assim como o conjunto de espelho e visor, a própria maneira de fabricar lentes continua baseada principalmente no filme. Porém o sensor das câmeras digitais – seja ele CCD, CMOS ou qualquer outro – tem propriedades bastante diferentes da película analógica. Em virtude disso uma lente otimizada para projetar imagens em um substrato químico normalmente não desempenha seu papel com tanta qualidade no sensor eletrônico.
A proposta da iniciativa Four Thirds (Quatro Terços) é exatamente esta: criar equipamentos fotográficos levando em conta unicamente as necessidades do sensor digital, para aproveitar melhor a qualidade da imagem obtida por este processo. Através de adaptações em diversas características das lentes e câmeras, o projeto inicialmente ainda contava com alguns resquícios das câmeras SLR analógicas – principalmente o conjunto espelho-visor que as caracteriza como câmeras Reflex. Ainda assim, as câmeras 4/3 já eram bem menores e mais compactas que as dSLR de outras tecnologias.
O nome do formato se deve ao tamanho do sensor utilizado nessas câmeras, que foi projetado para equilibrar qualidade de imagem e tamanho compacto, que tem as mesmas dimensõpes de uma foto 3 x 4 cm . A grande comparação, na verdade, é a diagonal útil (onde a imagem é projetada), que no formato 4/3 equivale a aproximadamente metade da diagonal útil do filme de 35mm. Com isso, para uma lente exibir um ângulo de visão equivalente, no formato 4/3, ela precisa de apenas metade do comprimento de uma lente construída com o filme 35mm como padrão.
Cada vez menor
Apesar de o padrão 4/3 já apresentar avanços significativos sobre as dSLR, ainda trabalha com uma boa parcela de tecnologia arcaica. Para compactar ainda mais as câmeras, e diminuir o peso das lentes ao mesmo tempo, a iniciativa que desenvolveu o padrão 4/3 projetou um novo formato, baseado na mesma filosofia de adaptação completa ao ambiente digital. Retirando partes desnecessárias, e refinando tecnologias encontradas em câmeras amadoras, chegou-se então ao formato Micro 4/3 que você começa a entender melhor a partir de agora.
Vantagens e desvantagens
Como as câmeras Micro 4/3 se colocam no mercado entre as poderosas dSLR e as práticas compactas, as comparações devem sempre levar em conta ambas as concorrentes. Enquanto em alguns tópicos a vantagem é clara para compactas ou dSLR, a combinação de características das Micro 4/3 permite dizer com certa segurança que, para o entusiasta da fotografia, essas câmeras são uma excelente opção.
Micro só no tamanho
Apesar de o tamanho do sensor 4/3 ser menor do que os sensores APS (Advanced Photo System – Sistema Avançado de Fotografia) ou FF (Full Frame – Sensor Completo), a qualidade da imagem oferecida por eles é equivalente – e dependendo da ótica envolvida, até melhor – à obtida com as câmeras maiores. Isso se deve à maneira como o conjunto sensor - lente é projetado. Nas câmeras Micro 4/3 a luz sempre chega ao sensor orientada perpendicularmente ao pixel, o que não ocorre em câmeras dSLR.
Mas o tamanho reduzido do padrão Micro 4/3 também traz dificuldades. Por causa de suas dimensões reduzidas, a variação de profundidade de campo conseguida nessas câmeras também é menor. Com isso, aquele belo efeito de fundo desfocado – muito comum em retratos – é menos visível nas câmeras Micro 4/3, ainda que muito mais nítido do que em câmeras compactas.
Lentes intercambiáveis
A maior vantagem do padrão Micro 4/3 sobre as compactas amadoras é a possibilidade de trocar a lente dependendo da situação. Durante muito tempo essa capacidade era exclusiva das câmeras ditas profissionais, mas desde a iniciativa Four Thirds e o subsequente Micro 4/3, câmeras mais voltadas ao público entusiasta por fotografia, mas não profissional, também contam com a variação das objetivas.
Infelizmente, devido a limitações físicas, de engenharia e principalmente econômicas, ainda não é possível construir lentes superzoom - como as encontradas em câmeras como a Sony DSC-HX1 – para sensores do tamanho do 4/3 ou maiores. Aproximações de 20 ou até 30 vezes resultariam em lentes extremamente pesadas, caras e difíceis de manusear. Graças a isso a variação entre a extensão máxima e mínima de lentes – tanto para 4/3 quanto para dSLRs – é menor.
Visor eletrônico
Usar o LiveView do visor LCD é uma lição que os profissionais vêm aprendendo com os amadores. O visor eletrônico é muito mais eficaz que o refletido em cenas de baixa luminosidade e ótimo para fotografar em posições onde a câmera não está diretamente à frente do fotógrafo. Além disso, ele permite a conferência – em tempo real – de informações de exposição e outras configurações da câmera. O lado negativo de toda essa facilidade é o consumo de energia, muito maior em câmeras com o LiveView. Outro problema é a visualização da tela em ambientes muito iluminados, bastante prejudicada por reflexos no vidro.
Ausência de espelho
Outra característica “herdada” das digitais amadoras, a ausência do espelho móvel diminui a ocorrência de tremores e vibrações mecânicas na câmera – em dSLRs esse fenômeno ocorre mesmo com a câmera fixa em um tripé e disparada remotamente – que podem prejudicar o resultado final da fotografia. Porém, como o padrão Micro 4/3 permite a troca de lentes, o sensor fica muito exposto à poeira .
Para amadores e profissionais
Como já foi dito, a posição das câmeras Micro 4/3 no mercado é intermediária entre as profissionais dSLR e as compactas amadoras. Assim, é fácil interpretar quem é o público-alvo do formato: qualquer pessoa que espere imagens com excelente qualidade, mas não tem razões ou meios para gastar os milhares de dólares necessários para a compra de equipamento profissional. O amador avançado – verdadeiro entusiasta da fotografia – é certamente o principal beneficiado com o surgimento de câmeras Micro 4/3, já que terá um equipamento capaz de proporcionar bons resultados sem tanta despesa.
Porém o tamanho reduzido da câmera aliado à qualidade de imagem também servem como atrativo para profissionais, principalmente quando o trabalho exige uma agilidade maior, ou mesmo transportes muito longos.
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