A história da interface gráfica

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A forma como os humanos interagem com os computadores sempre foi uma preocupação da indústria da informática. Durante algumas décadas, essa interação passou da linha de comando, em modo texto, para desktops em três dimensões e softwares que aceitam comandos por voz ou gestos com o propósito de facilitar e tornar mais intuitiva a utilização das máquinas.

Como boa parte das tecnologias existentes, a ideia de uma Interface Gráfica do Usuário (GUI) começou muito tempo antes de possuirmos a tecnologia necessária para implementá-la. Uma das primeiras pessoas a pensar nessa possibilidade foi o engenheiro, inventor e político Vannevar Bush.

O que transformou Bush em um pioneiro da área foi a percepção de que os meios de armazenamento de informações não estavam mais comportando tantos dados. A máquina imaginada por Bush, chamada de Memex, era capaz não apenas de armazenar tanta informação, como também de relacioná-las e oferecer uma maneira fácil de procurá-las em meio a tantos dados

O pai do mouse e da interface gráfica

Inspirado pelo trabalho de Vannevar Bush, o engenheiro elétrico Douglas Engelbart visualizou a possibilidade de usar computadores para aumentar o intelecto humano, em vez de substituí-lo. Ele acreditava que, com informações dispostas em uma tela, o usuário poderia se organizar de maneira gráfica e pular de uma informação para outra, sempre que necessário.

Periféricos demonstrados por Engelbart em 1968 (Fonte da imagem: Doug Engelbart Institute)

Como no caso do Memex, as ideias de Engelbart estavam muito à frente de sua época. Em 1962, até mesmo interfaces em modo texto, com comandos sendo executados em tempo real, eram consideradas como “de outro mundo”, já que os mainframes da época eram operados com cartões perfurados e demoravam horas ou dias para entregarem o resultado do processamento.

Em 1968, depois de conseguir um financiamento para suas pesquisas, Engelbart e sua equipe demonstraram o potencial dos computadores e de alguns dispositivos de entrada. Entre os “periféricos”, estava uma caixa retangular, com três botões na parte de cima e conectada ao computador por um cabo: era um dos primeiros modelos de mouse da história, inventado pelo próprio Engelbart e construído por um dos engenheiros da equipe.

Captura de imagem da primeira videoconferência (Fonte da imagem: Wikipedia)Mas o mouse foi apenas uma das muitas inovações demonstradas naquele dia, que incluíam o hipertexto, comunicação por rede e uma tela compartilhada por duas pessoas que estavam em locais diferentes, mas que podiam trabalhar em conjunto: a primeira videoconferência da história.

Os softwares desenvolvidos para esse computador ainda não trabalhavam com o conceito de janelas, como nas interfaces atuais.

Janelas: cada um no seu quadrado

Com o surgimento da Smalltalk, linguagem de programação e ambiente de desenvolvimento que possuía uma interface gráfica diferenciada, a GUI começou a ganhar aspectos mais modernos, em 1974.

Smalltalk sendo executado no Alto, em 1979 (Fonte da imagem: The Weekly Squeak)

A grande inovação foram as janelas, que possuíam bordas e barras de títulos que permitiam a identificação e o reposicionamento delas. O conceito de ícones também surgiu na mesma época, assim como o menu de contexto. No mesmo período, também foram apresentadas as barras de rolagem, as caixas de diálogo e os botões de opções (radio buttons).

A chegada da Apple

Outro passo importante na história das interfaces gráficas foi dada pela startup criada por Steve Jobs e Steve Wozniak, em 1976. Com a contratação de ex-funcionários da Xerox, a Apple pode iniciar o desenvolvimento do computador pessoal Lisa, em 1978.

A equipe de desenvolvedores trabalhou em uma interface baseada em ícones, em que cada um deles indicava um documento ou uma aplicação. Além disso, a equipe criou a primeira barra de menu desdobrável (pull-down), que hospedava todos os menus logo nas primeiras linhas da tela.

Lisa OS, da Apple, lançado em 1983 (Fonte da imagem: Toasty Technology)Outras inovações do mesmo produto ficaram a cargo das marcas de verificação (checkmarks), que ajudam a destacar os itens do menu que estejam ativados, e também o conceito de atalhos de teclado para os comandos mais comuns. Mais uma novidade foi a aparição do ícone da Lixeira, para onde o usuário podia arrastar arquivos para removê-los posteriormente.

O mouse, que havia se consagrado com três botões, passou a ter apenas um no Lisa e, como a interface exigia pelo menos duas ações para cada ícone, uma para selecionar e outra para executar o programa ou arquivo, foi criado o conceito de duplo clique.

Outras interfaces da época

A VisiCorp era uma das empresas que também estava trabalhando em interfaces gráficas para computadores pessoais. Responsável pela planilha eletrônica VisiCalc, a empresa lançou uma interface para PCs, em 1983, mas que não chegou a fazer muito sucesso. Além do preço alto e de exigir muito recurso de hardware, a VisiOn, como era chamada, também teve alguns retrocessos, como deixar de usar ícones e eliminar o cursor do mouse.

VisiOn, da VisiCorp, interface para PCs da IBM. (Fonte da imagem: Toasty Technology)

Outra interface que surgiu na década de 80 foi a Tandy DeskMate, da Tandy Computers, e a GEM, que fornecia uma interface gráfica para o DOS e era tão parecida com a interface do computador Lisa que a Apple chegou a processar os fabricantes.

Interface GEM (Fonte da imagem: Toasty Technology)Os computadores Amiga, da Commodore, também introduziram uma nova GUI, a Workbench, que trouxe algumas inovações ao mundo dos computadores pessoais, como a possibilidade de redimensionar ou mover uma janela sem trazê-la para o foco principal.

Em 1986, a Berkeley Softworks lançou a GEOS, interface para computadores Commodore 64 e Apple, que tinha uma aparência parecida com a da GEM. Mais tarde, essa GUI foi portada para PCs e, com isso, acabou se tornando uma concorrente para a Microsoft, que havia anunciado a primeira versão do Windows em1983.

Primeira versão do Microsoft Windows (Fonte da imagem: Microsoft)Uma das mudanças radicais da interface gráfica do Windows foi o fato de que cada janela tinha a sua própria barra de menus, diferentemente do Lisa e dos Macintosh, que tinham uma barra única no topo da área de trabalho. Outro diferencial, que não sobreviveu até a versão 2.0 do Windows, em 1987, foi a disposição lado a lado das janelas.

Vale a pena lembrar que, no começo, a Microsoft trabalhava como uma empresa terceirizada para a Apple e, por isso, testou os modelos em fase Beta dos Macs. Isso serviu de inspiração para a criação da sua interface gráfica e, durante o lançamento do Windows 2.0, a empresa chegou até a ser processada pela Apple.

Arthur, da Acorn, lançou o conceito de dock. (Fonte da imagem: Toasty Technology)

Em 1987, também surgiu um novo conceito no mundo das GUIs: o Dock. A responsável pela criação foi a empresa Acorn Computers, que desenvolveu a Arthur, interface que também foi a primeira a usar fontes com anti-aliasing, mesmo em modo de 16 cores.

NeXTSTEP inaugurou objetos com aparências 3D e o botão de fechar janelas (Fonte da imagem: Wikipedia)

Já a NeXTSTEP, em 1988, foi a interface que introduziu uma aparência 3D aos seus componentes, além de ter sido a primeira a usar o botão em forma de “X” para fechar janelas. Na mesma época, também surgiu a primeira versão gráfica do OS/2, projeto colaborativo entre Microsoft e IBM para desenvolver um sistema que pudesse substituir o MS-DOS. A interface da versão 1.1 era muito similar à do Windows 2.0.

X Window System (Fonte da imagem: Wikipedia)

No fim dos anos 80, muitas interfaces gráficas começavam a surgir para as estações Unix. Essas GUIs eram executadas sobre um sistema gráfico e com suporte à rede, conhecido como X. Mais tarde, esse sistema também se tornou a base dos ambientes gráficos do Linux. Uma das novidades do X Window System foi o fato de poder habilitar o foco em uma janela apenas posicionando o mouse sobre ela, sem clicar. Atualmente, muitos projetos gráficos ainda fazem uso do X, com o KDE e o GNOME, que teve sua terceira versão lançada nesta semana.

As interfaces mais recentes

Durante os anos 90, apenas duas empresas resistiram à “peneira” do mercado: a Microsoft e a Apple. As demais entraram em falência ou foram adquiridas por outras companhias.

Windows 3.0 (Fonte da imagem: Toasty Technology)

O Windows ganhou muita popularidade com as versões 3.0, em 1990, e 3.1, em 1992. Apesar de ainda não ter alguns recursos simples, que já estavam implementados no Macintosh, foram vendidas milhões de cópias dessas versões do sistema da Microsoft. Mais tarde, com a chegada do Windows 95, a empresa de Bill Gates se consolidou como a líder do mercado e detentora de um dos softwares mais famosos até hoje.

Interface do BeOS (Fonte da imagem: Toasty Technology)

Quando o cenário já parecia ter se estabilizado, eis que surge uma novidade: o BeOS, sistema operacional da Be Incorporated, com uma interface em que a barra de título lembrava a do Smalltalk, ocupando apenas parte de toda a extensão das janelas. Um versão open source do BeOS continua em desenvolvimento, sob o nome de Haiku.

A Apple também continuou inovando e lançou a interface Aqua, para o novo sistema operacional da empresa, o Mac OS X. Além da aparência nova, uma das principais novidades da Aqua era o fato de que as janelas podiam ser redesenhadas rapidamente, de maneira imperceptível aos olhos, quando movidas ou redimensionadas.

Interface Aqua, lançada pela Apple com o Mac OS X. (Fonte da imagem: Toasty Technology)

Outras inovações ficaram por conta dos efeitos de animação executados durante o ato de minimizar programas. Em versões mais recentes, a empresa também adicionou o conceito de Exposé, que mudou a forma como as pessoas alternavam entre os softwares abertos na área de trabalho.

A Microsoft também continuou inovando. Com o lançamento do Windows Vista, pudemos ver a estreia do Aero, responsável pelos efeitos visuais de sombra e transparência da Área de trabalho. Com o Windows 7, a interface foi aprimorada, ganhando suporte a telas touchscreen e multitouch, além de apresentar uma barra de ferramentas totalmente reformulada e o Aero Shake, que permite interação com as janelas ao sacudi-las.

Windows 7 (Fonte da imagem: Wikipedia)

O Windows 7 também ganhou efeitos 3D, semelhantes aos proporcionados pelo Compiz, no Linux. O próprio Compiz acabou se inspirando no Exposé, da Apple, para fornecer um efeito semelhante sobre o X Window System.

O Compiz adicionou efeitos 3D ao desktop Linux (Fonte da imagem: Compiz)

Os recursos 3D parecem ser a última cartada das interfaces gráficas, que agora começam a se adaptar aos novos dispositivos portáteis e operados por toques na tela, com os dedos. Outro recurso que está ganhando força é o chamado Desktop Semântico, que trabalhará não apenas com os arquivos, mas também com o conteúdo e a informação contextual ao manipular esses arquivos.

Resta esperarmos para ver as próximas novidades da indústria, quem sabe noticiadas por um artigo aqui mesmo, no Tecmundo, daqui a 10 ou 20 anos.

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