O Cinturão de Van Allen: o que é e como funciona?

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Em meio à vastidão do espaço, a Terra está longe de ser um planeta indefeso. Invisível aos nossos olhos, mas crucial para a sobrevivência da vida, existe um escudo energético que nos protege de algumas ameaças cósmicas. Esse escudo, conhecido como Cinturão de Van Allen, é uma descoberta tão fascinante quanto fundamental, revelando o intrincado equilíbrio que sustenta a vida no planeta.

Mas o que são, afinal, esses cinturões? Como influenciam nossa compreensão do espaço? O nosso entendimento acerca da estrutura que ficou conhecida como Cinturão de Van Allen começou em 1958, no contexto da corrida espacial durante a Guerra Fria.

O lançamento do satélite soviético Sputnik em 1957 havia acirrado a disputa tecnológica entre Estados Unidos e União Soviética e, em resposta, os norte-americanos lançaram o Explorer 1 em 31 de janeiro de 1958, o primeiro satélite dos Estados Unidos a entrar em órbita.

Representação do Cinturão de Van Allen.
Representação do Cinturão de Van Allen. (Fonte: NASA)

A bordo do satélite, um instrumento desenvolvido pelo físico James Van Allen e sua equipe tinha como objetivo medir a radiação ao redor da Terra e o que eles descobriram foi algo extraordinário: zonas de partículas carregadas – prótons e elétrons – aprisionadas pelo campo magnético terrestre em forma de anéis ao redor do planeta.

"Essas zonas, batizadas em homenagem a Van Allen, mostraram-se essenciais para entender não apenas o comportamento da radiação no espaço, mas também a capacidade da Terra de se proteger de partículas altamente energéticas oriundas do vento solar e dos raios cósmicos."

Os Cinturões de Van Allen são, em essência, duas regiões toroidais de partículas carregadas que ficam aprisionadas pelo campo magnético da Terra. A primeira, mais interna, localiza-se a uma altitude entre 600 e 5.000 quilômetros acima da superfície terrestre e é composta principalmente por prótons energéticos. A segunda, mais externa, estende-se entre 10.000 e 30.000 quilômetros e contém elétrons de alta energia.

Representação dos cinturões internos (em vermelho) e externos (em azul) de Van Allen.
Representação dos cinturões internos (em vermelho) e externos (em azul) de Van Allen. (Fonte: Wikimedia Commons)

Essas partículas são capturadas do vento solar – o fluxo constante de partículas carregadas emitidas pelo Sol – e aprisionadas pelas linhas do campo magnético terrestre, que as mantêm girando em espiral em torno dessas linhas ou oscilando entre os polos magnéticos.

Todo esse processo é fundamental para bloquear a radiação de alta energia que, sem os cinturões, poderia atingir a superfície terrestre e causar sérios danos à vida e aos sistemas elétricos e eletrônicos essenciais.

Os cinturões fornecem informações valiosas sobre os processos que ocorrem em torno de planetas com campos magnéticos, aspecto fundamental para entender a formação e evolução de sistemas planetários.

O estudo desses fenômenos possibilita ainda aos cientistas a compreender melhor a interação entre o vento solar e os campos magnéticos, fator essencial na exploração espacial.

O campo magnético da Terra produz uma proteção natural do planeta contra partículas altamente carregadas do Sol e de outros lugares do Cosmos.
O campo magnético da Terra produz uma proteção natural do planeta contra partículas altamente carregadas do Sol e de outros lugares do Cosmos. (Fonte: Getty Images)

Embora os Cinturões de Van Allen desempenhem um papel protetor, eles também representam um desafio significativo para as missões espaciais. As partículas carregadas presentes nessas regiões podem danificar componentes eletrônicos de satélites, sondas e espaçonaves, além de representar riscos para a saúde dos astronautas.

Durante as missões Apollo, por exemplo, que levaram seres humanos à Lua entre 1969 e 1972, os engenheiros da NASA tiveram que calcular rotas específicas para minimizar a exposição dos astronautas à radiação dos cinturões.

Os níveis de radiação dentro do cinturão variam dependendo da atividade solar. Em épocas de tempestades solares, quando o Sol libera explosões de partículas carregadas, a radiação nos cinturões pode aumentar significativamente, tornando as viagens espaciais ainda mais perigosas.

Sondas Van Allen da NASA, destinadas a estudar o cinturão e suas características.
Sondas Van Allen da NASA, destinadas a estudar o cinturão e suas características. (Fonte: NASA)

Desde sua descoberta, contudo, essas estruturas têm sido estudadas continuamente por diversas missões espaciais. Em 2012, a NASA lançou as sondas Van Allen Probes para investigar mais profundamente essas regiões. As sondas coletaram dados inéditos que ajudaram a entender como as partículas nos cinturões ganham energia e como elas interagem com o campo magnético terrestre.

Com isso tem sido possível, desenvolver tecnologias que minimizem os impactos da radiação para futuras missões espaciais tripuladas, onde os astronautas estarão mais expostos à radiação cósmica.

Invisíveis, mas imensamente poderosos, os Cinturões de Van Allen são um dos exemplos mais impressionantes da harmonia entre os fenômenos naturais da Terra e a vida que ela abriga, e servem como um lembrete silencioso de que nosso planeta azul continua sendo o único lar seguro que conhecemos.

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