Até meados dos anos de 2010, era comum que os antibióticos fossem facilmente acessados em farmácias sem a necessidade de apresentação de receituário médico. Uma gripe mais intensa, já era motivo para a medicação fosse procurada. Contudo, era uma busca em vão, ao menos para quem buscava o tratamento.
A máxima de que "o que não te mata, te fortalece", se faz totalmente real na vida das bactérias. O uso incorreto dessas medicações acaba estimulando mutações nesses microorganismos que se tornam mais adaptados para resistir ao "ataques" da medicação, que acaba se tornando insuficiente no combate das patologias.
Mas você sabe quando utilizar antibióticos e como essas bactérias se desenvolveram e se tornaram as bodybuilders do mundo microscópico? Confira.
Cultivando super vilões
Durante muitos anos, desde a descoberta e início da utilização da penicilina, o primeiro antibiótico, temos galgado um longo trajeto de uso indiscriminado dos antimicrobianos. Era comum famílias terem seu próprio "estoque" de antibióticos, prontos para ser usados a cada novo espirro infantil.
Contudo, ao invés de um movimento de prevenção aos agravos, estávamos, na verdade, cultivando pequeno vilões a se tornarem um grande problema de saúde pública.
Isso ocorre, pois ao contrário do que se possa acreditar, as medicações antimicrobianas não atuam no fortalecimento da imunidade humana. Na realidade, ele pode causar danos mesmo as bactérias comensais que coexistem pacificamente no nosso organismo.
A medicação antimicrobiana irá agir diretamente nas bactérias, estimulando a morte desses microrganismos. Mas o tiro não é certeiro já na primeira tentativa. Ele deve agir durante um tempo específico, até que todos os organismos morram ou fiquem inativos.
Mas todas às vezes que você utiliza o antibióticos por tempo menor do que o indicado, ainda que os sintomas se amenizem, você pode ter contribuído para que os seres que vivem em você se tornem um pouco mais fortes.
Em um primeiro momento, todas as bactérias não adaptadas irão morrer, contudo, assim como preconiza as teorias de Darwin sobre a seleção natural, as mais fortes irão sobreviver.
As remanescentes podem não gerar um problema de saúde imediato, mas se as bactérias voltarem a se replicar, doses maiores e o uso por tempo prolongado de antibióticos, mais específicos, será necessário.
Então, cada vez que você utiliza o antibiótico de forma errada, as chances de que lá na frente os resultados possam gerar grandes transtornos, são muito grandes. Afinal, toda a medicação deve ser utilizada de forma consciente e sob prescrição. Evite a automedicação.
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Existe ainda outra forma de estimular o desenvolvimento de superbactérias: o descarte impróprio. Toda medicação deve ser descartada em centros de coleta especializados.
Quando você descarta a medicação no lixo comum, pias, vaso sanitário ou diretamente no solo, você contamina vias fluviais e o solo. Isso também ocasiona o contato de bactérias com esses agentes, que através da exposição prolongada vai gerando mutações e processos de seleção natural.
Tome suas medicações correta e principalmente, realize um descarte seguro em pontos de coleta.
Vilãs de interesse
No Brasil, as superbactérias de maior interesse são:
- Acinetobacter baumannii: além de ser encontrada em ambientes hospitalares, ela também está presente no solo, em algumas regiões. Ela é uma bactéria gram-negativa, e é resistente a uma grande gama de antibióticos. Ela pode provocar infecções no sistema circulatório, sepse, além de feridas supurativas nos órgãos.
- Pseudomonas aeruginosa: essa é uma das bactérias mais temidas no meio hospitalar, sendo de difícil controle. Além do meio hospitalar, ela também pode infectar águas e o solo. Ela pode infectar diversos sistemas causando danos extensos.
- Enterobacteriaceae: faz parte da família as bactérias Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli e Enterobacter spp. Ainda que possam afetar outros sistemas, atingem principalmente o sistema respiratório, estimulando o desenvolvimento de pneumonias.
- Enterococcus faecium: essa é uma bactéria capaz de gerar infecções no sistema cardíaco, urinário, dentre outros sistemas. Sua multirresistência urge o desenvolvimento de novos antimicrobianos, sendo os atuais pouco eficazes no combate do patógeno.
- Helicobacter pylori: essa bactéria é bastante conhecida por povoar o estômago dos seus hospedeiros. Ela pode causar doenças como úlceras e cânceres estomacais. Ela apresenta uma resistência média, tendo como maior complicador as doses e tempo de tratamento.
Existem ainda diversas superbactérias de interesse, que podem estar presentes em regiões de lagos, piscinas sem tratamento, solo contaminado, dentre tantos outros ambientes. Por isso é preciso cuidado ao visitar lugares pouco movimentados ou na ingesta de alimentos e água.
É importante salientar que no Brasil, a venda e a prescrição dos antibióticos passou a ser regulada pela RDC n.º 20 de 5 maio de 2011, dificultando o acesso a essas medicações.
Contudo, é importante um movimento global de conscientização sobre o uso e descarte correto dessas medicações, para que em um futuro breve, as superbactérias não se tornem um problema de saúde pública ainda mais agravado.
E lembre-se, evite a automedicação e siga as orientações dos profissionais de saúde.
Se você gosta de um mundo micro com potencial mortal, pode se interessar em conhecer as superbactérias do fundo do mar. Tenha cuidado e até a próxima.
Fontes