Poucos eventos celestes são tão deslumbrantes e tão celebrados na história humana quanto um eclipse solar. Cerca de duas vezes por ano, a Lua parece passar na frente do Sol, dando origem a um eclipse solar parcial se o alinhamento for imperfeito, mas levando a um eclipse solar total ou anular se a Terra, a Lua e o Sol se alinharem perfeitamente.
Visto da Terra, ambos o Sol e a Lua ocupam um tamanho angular – que é o tamanho aparente de um objeto astronômico expresso como um ângulo – de aproximadamente meio grau no céu, o que permite uma perfeita sobreposição de perspectiva. Mas isso é mero acaso: tal fato não era verdade no passado e não será verdade no futuro.
Diagrama de um eclipse solar total.Fonte: NASA
Como descrito pela primeira lei de Kepler, tanto a órbita da Terra em torno do Sol quanto a órbita da Lua em torno da Terra são elipses, logo, às vezes a Lua parece maior que o Sol, lançando sua sombra até a superfície da Terra, e outras vezes o Sol parece maior, deixando o disco lunar incapaz de cobrir completamente o disco solar.
Mas, há cerca de 4,5 bilhões de anos, segundo os principais modelos teóricos de formação do Sistema Solar, uma colisão entre o planeta Terra e um corpo do tamanho de Marte, deu origem à Lua. Quando os detritos dessa colisão se aglutinaram, formando a Lua, ela estava muito mais próxima do nosso planeta que, por sua vez, girava muito mais rapidamente.
Representação da órbita elíptica da Terra.Fonte: Britannica
Nesse período, um dia na Terra era muito mais curto, durando entre seis e oito horas em vez das 24 horas que conhecemos hoje. Porém, graças às forças de maré que a Lua exerce sobre a Terra em rotação, o nosso dia foi se prolongando mais e mais ao longo dos bilhões de anos que se passaram. Isso acontece ainda atualmente: a cada ano que passa, são necessários aproximadamente 14 microssegundos a mais para a Terra completar sua rotação diária.
Por essa razão é necessário adicionar um “segundo bissexto” a cada 18 meses para recuperar o atraso gerado no calendário. Esse é um processo muito lento, mas constante e acumulativo. Graças a nossa interação orbital com a Lua, daqui a cerca de 4 milhões de anos, um ano terrestre terá exatamente 365 dias, o que eliminará a necessidade de adicionarmos o dia 29 de fevereiro nos nossos calendários para os anos bissextos.
Representação artística da colisão que formou a Lua.Fonte: University of Chicago
Contudo, há um preço para o dia na Terra ficar progressivamente mais longo. Conforme as leis de conservação da natureza, todo efeito por uma causa equivalente: à medida que a rotação da Terra diminui, a Lua é empurrada para trás, ficando cada vez mais longe da Terra.
Por consequência, quanto mais distante a Lua fica, menor é o seu tamanho angular e, portanto, menor ela aparecerá no céu.
Atualmente, devido à conservação do momento angular, a taxa de afastamento da Lua é de cerca de 3,8 centímetros por ano, algo que é imperceptível hoje, mas que ao longo de milhões de anos será significativo.
Por essa razão, com o passar do tempo, cada vez menos eclipses solares totais serão possíveis de acontecer e praticamente todos os eventos dessa natureza serão anulares, uma vez que o tamanho angular do disco lunar será insuficiente para bloquear o Sol.
Eclipse solar anular no céu do Novo México, Estados Unidos.Fonte: Colleen Pinski
Hoje, os eclipses solares estão divididos entre praticamente 50% para os totais e os anulares, mas daqui a aproximadamente 650 milhões de anos, ocorrerá o último eclipse solar total, pois além desse ponto, a Lua não estará mais perto o suficiente da Terra em qualquer ponto da sua órbita para que a sua sombra caia sobre a nossa superfície.
Se a humanidade sobreviver até lá, a única maneira de ver um eclipse solar total será subir aos céus e voar alto no espaço, onde poderemos estar novamente sob a sombra lunar.
A finitude dos eclipses solares totais é um exemplo de que, no devido tempo, tudo passa, até as coisas grandiosas na imensidão cósmica.
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