Fonte: Colleen Pinski
Imagem de Os eclipses solares totais irão desaparecer no tecmundo
Poucos eventos celestes são tão deslumbrantes e tão celebrados na história humana quanto um eclipse solar. Cerca de duas vezes por ano, a Lua parece passar na frente do Sol, dando origem a um eclipse solar parcial se o alinhamento for imperfeito, mas levando a um eclipse solar total ou anular se a Terra, a Lua e o Sol se alinharem perfeitamente.
Visto da Terra, ambos o Sol e a Lua ocupam um tamanho angular – que é o tamanho aparente de um objeto astronômico expresso como um ângulo – de aproximadamente meio grau no céu, o que permite uma perfeita sobreposição de perspectiva. Mas isso é mero acaso: tal fato não era verdade no passado e não será verdade no futuro.
Diagrama de um eclipse solar total.
Como descrito pela primeira lei de Kepler, tanto a órbita da Terra em torno do Sol quanto a órbita da Lua em torno da Terra são elipses, logo, às vezes a Lua parece maior que o Sol, lançando sua sombra até a superfície da Terra, e outras vezes o Sol parece maior, deixando o disco lunar incapaz de cobrir completamente o disco solar.
Mas, há cerca de 4,5 bilhões de anos, segundo os principais modelos teóricos de formação do Sistema Solar, uma colisão entre o planeta Terra e um corpo do tamanho de Marte, deu origem à Lua. Quando os detritos dessa colisão se aglutinaram, formando a Lua, ela estava muito mais próxima do nosso planeta que, por sua vez, girava muito mais rapidamente.
Representação da órbita elíptica da Terra.
Nesse período, um dia na Terra era muito mais curto, durando entre seis e oito horas em vez das 24 horas que conhecemos hoje. Porém, graças às forças de maré que a Lua exerce sobre a Terra em rotação, o nosso dia foi se prolongando mais e mais ao longo dos bilhões de anos que se passaram. Isso acontece ainda atualmente: a cada ano que passa, são necessários aproximadamente 14 microssegundos a mais para a Terra completar sua rotação diária.
Por essa razão é necessário adicionar um “segundo bissexto” a cada 18 meses para recuperar o atraso gerado no calendário. Esse é um processo muito lento, mas constante e acumulativo. Graças a nossa interação orbital com a Lua, daqui a cerca de 4 milhões de anos, um ano terrestre terá exatamente 365 dias, o que eliminará a necessidade de adicionarmos o dia 29 de fevereiro nos nossos calendários para os anos bissextos.
Representação artística da colisão que formou a Lua.
Contudo, há um preço para o dia na Terra ficar progressivamente mais longo. Conforme as leis de conservação da natureza, todo efeito por uma causa equivalente: à medida que a rotação da Terra diminui, a Lua é empurrada para trás, ficando cada vez mais longe da Terra.
Por consequência, quanto mais distante a Lua fica, menor é o seu tamanho angular e, portanto, menor ela aparecerá no céu.
Atualmente, devido à conservação do momento angular, a taxa de afastamento da Lua é de cerca de 3,8 centímetros por ano, algo que é imperceptível hoje, mas que ao longo de milhões de anos será significativo.
Por essa razão, com o passar do tempo, cada vez menos eclipses solares totais serão possíveis de acontecer e praticamente todos os eventos dessa natureza serão anulares, uma vez que o tamanho angular do disco lunar será insuficiente para bloquear o Sol.
Eclipse solar anular no céu do Novo México, Estados Unidos.
Hoje, os eclipses solares estão divididos entre praticamente 50% para os totais e os anulares, mas daqui a aproximadamente 650 milhões de anos, ocorrerá o último eclipse solar total, pois além desse ponto, a Lua não estará mais perto o suficiente da Terra em qualquer ponto da sua órbita para que a sua sombra caia sobre a nossa superfície.
Se a humanidade sobreviver até lá, a única maneira de ver um eclipse solar total será subir aos céus e voar alto no espaço, onde poderemos estar novamente sob a sombra lunar.
A finitude dos eclipses solares totais é um exemplo de que, no devido tempo, tudo passa, até as coisas grandiosas na imensidão cósmica.