Quem me acompanha sabe que eu sempre escrevo sobre tecnologia e inovação como meio para vivermos melhor. Não sou um técnico, um profundo conhecedor dos algoritmos, de programação, nada disso. Acho que a tecnologia é o meio, mas a chave para a inovação é a cultura, isto é, estar aberto ao novo e trabalhar nessa direção.
Bem, essa tragédia sem precedentes do Rio Grande do Sul me deixou profundamente abalado. Os vídeos dos resgates, das pessoas isoladas, dos animais, é devastador. De todo meu coração, fiz orações, doações e me mobilizei dentro das minhas possibilidades para ajudar. E uma das formas que tenho de ajudar é provocar reflexões.
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O Rio Grande do Sul sofre uma das maiores tragédias ambientais do estado.
A mais importante delas é: isso poderia ter sido evitado? Existe tecnologia para nos proteger de uma tragédia como essa?
Sinceramente, não sei se evitaríamos, nunca vi nada capaz de conter a fúria da natureza. Mas tenho certeza de que o impacto teria sido muito menor se o básico tivesse sido bem feito. Há inúmeros estudos que apontam para mudanças climáticas apoiados por tecnologia de monitoramento e alerta de ponta. Tenho absoluta certeza que algum cientista previu, alertou e foi ignorado.
Existem diversos casos de cidades que sofreram com enchentes e, com o uso da tecnologia, mitigaram este impacto. Estão disponíveis soluções para a criação das chamadas cidades inteligentes, que já consideram possíveis catástrofes no planejamento do projeto urbanístico.
Há as chamadas “cidades esponja” – que incluem parques alagáveis, telhados verdes, calçamentos permeáveis, praças-piscina. Evitaria uma tragédia como essa? Acho que não. Daria mais tempo para as pessoas escaparem com vida? Talvez.
Um vasto leque de soluções de governança corporativa poderia trazer transparência e garantir que os recursos fossem de fato aplicados onde deveriam ser. Ou então que os corruptos fossem mais facilmente expostos. Serão muito úteis na reconstrução do Estado do Rio Grande do Sul.
As autoridades públicas têm um papel fundamental na promoção das cidades inteligentes e na solução dos problemas causados pelas chuvas. Temos que cobrar, há tecnologia e há dinheiro, o que não há é boa vontade política e nem cultura de prevenção. Os impactos climáticos são reais e são periódicos, temos que nos preparar para esta nova realidade.
Centenas de pessoas estão desabrigadas no RS após desastre ambiental.
Antes que alguém me diga que não é hora de falar disso: eu completo 40 anos este mês. Vi tragédias “naturais” aos montes para afirmar, com tranquilidade, que de naturais têm bem pouco. Para citar alguns eventos recentes:
- queda das barragens em Brumadinho (MG), em Mariana (MG);
- deslizamentos em Petrópolis (RJ) e São Sebastião, litoral norte de São Paulo.
Quantos cadáveres serão necessários para que os governantes façam o seu trabalho? Qual é a hora certa de falar sobre isso? O que vamos fazer para evitar novas catástrofes?
Dinheiro e tecnologia existem. Falta cultura.
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