Em um artigo recente, publicado no Business Insider, o geomorfologista e cientista planetário Joseph Levy ajudou a projetar um cenário hipotético no qual o nosso planeta para de girar repentinamente. As consequências dessa freada brusca poderiam ser catastróficas, segundo o professor da Universidade de Colgate, em Hamilton nos EUA. Afinal, não estamos falando de um fusquinha, mas de um planeta com 5,9 sextilhões de toneladas.
Além dessa massa toda, lembre-se que a velocidade de rotação, em sentido oeste-leste, é de 1.674 km/h, quase o dobro da de um Boeing 787. Imagine, então, você caminhando em uma praia ensolarada, propõe Levy. Como seu corpo, a areia e o mar estão se movendo na mesma velocidade, tudo parece lento e tranquilo.
Mas, se esse mundo para de repente, a primeira consequência, conforme a primeira lei da inércia de Newton, é que você literalmente voa para o leste a uma velocidade de cerca de 1,6 mil quilômetros por hora. Por aí, dá para ver que, independentemente do lugar que você caia, seja no solo ou no oceano, isso certamente o mataria.
Efeitos de um travamento da rotação da Terra
Logicamente, em um cataclismo como esse, você não estaria sozinho. Além da agitação dos oceanos, mesmo elementos fortemente presos ao solo, como árvores e edifícios, não estariam seguros. "Os materiais terrestres são fortes sob compressão, mas muito fracos sob tensão", lembra Levy.
Isso significa que grande parte da estabilidade dessas estruturas vem do peso de seus próprios pisos e vigas de suporte. No entanto, nem a massa e a ancoragem ao solo resistiriam à força da inércia após uma parada súbita da Terra, pois ela seria mais forte do que a argamassa que une os tijolos, podendo resultar em desmoronamentos ou colapsos.
A boa notícia, diz Levy, é que se você tem algum parente na Antártica, ou gosta muito de pinguins, eles provavelmente iriam sobreviver, com algumas escoriações. “Perto dos polos, o eixo de rotação é muito menor, então a velocidade de rotação também é menor”, explica o cientista, mas alerta que, para isso, o indivíduo teria que ficar a uns 89,9 graus de latitude, ou seja, cerca de 11 quilômetros dos polos. O efeito aí seria o de um tropicão.
Mas, e se a rotação da Terra fosse parando aos poucos?
Em uma desaceleração gradual, um dia terrestre poderia durar seis meses.Fonte: Getty Images
Como, "em sistemas naturais, nada realmente para completamente de forma instantânea", lembra Levy, uma desaceleração gradual da rotação terrestre seria mais plausível, além de evitar que você saísse voando pela praia com um sorvete na mão. No entanto, alerta, a coisa ainda seria tensa quando o movimento parasse completamente.
Para ilustrar, o geocientista cita um exemplo em que, embora a órbita terrestre continuasse mantendo metade do planeta à noite e a outra em plena luz do Sol, esse processo durasse seis meses, em vez das 12 horas de costume. No hemisfério iluminado continuamente, o efeito sobre as colheitas seria devastador, sem contar a evaporação de grande parte da água.
Por outro lado, a porção da Terra exposta a uma noite de seis meses também resultaria na morte de plantas e no congelamento da água restante do "dia" anterior. Como as latitudes mais altas seriam teoricamente mais seguras, a vida em lugares como o Brasil seria um inferno, obrigando a adotar o nomadismo para perseguir a luz do dia para não congelar e, ao mesmo tempo, se proteger dela.
Quais os riscos reais de a Terra parar de girar?
A desaceleração da rotação da Terra se deve à "frenagem das marés"Fonte: Getty Images
O professor de Geociências da Terra e do Meio Ambiente esclarece que a hipótese de desaceleração na rotação da Terra não é totalmente descabida, uma vez que, na prática, já está ocorrendo "devido a um processo chamado frenagem das marés". O fenômeno, causado pelas interações gravitacionais entre nosso planeta e a Lua, reduz a velocidade de rotação terrestre, mais isso ocorre de uma forma gradual.
Segundo a NASA, o efeito de arrasto criado pelo nosso satélite natural tem um impacto infinitesimalmente pequeno em nosso giro: a cada século, a rotação da Terra diminui 2,3 milissegundos. Por isso, é improvável que a Lua consiga parar o nosso planeta. “A Terra é muito maior que a Lua e, como resultado, tem muito mais momento angular”, conclui Levy.
O momento angular da Terra, quantidade de movimento rotacional (levando-se em conta a rotação e a translação) também torna praticamente impossível que um eventual objeto do espaço nos paralise completamente. Exceto se fosse uma colisão massiva, caso em que o menor dos problemas seria a desaceleração em si. Portanto, o mundo não deve parar por agora, conclui Levy. Mas, na dúvida, segure bem o seu sorvete.
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