Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Quem pode e deve prescrever exercícios físicos: médicos, cientistas, profissionais de Educação Física ou ChapGPT? Essa foi uma discussão recente feita por chineses em uma grande revista científica da área da Educação Física.
No Brasil, não há dúvidas sobre a resposta. Quem pode prescrever exercícios são os profissionais de Educação Física, que sejam graduados em instituição reconhecida pelo MEC e registrados no Conselho Profissional (Sistema CONFEF/CREF). Mas o que chama atenção nesse debate é o último item: ChatGPT.
Assim como a inteligência artificial tem sido utilizada para diversas atividades, a prescrição de exercícios também pode ser realizada pela ferramenta da OpenAI, mas será que de forma efetiva?
Alguns meses atrás solicitamos que a ferramenta elaborasse treinos de corrida e musculação e avaliamos conforme os princípios básicos do treinamento. Mas agora a proficiência do ChatGPT na elaboração de treinos foi investigada de maneira mais específica. Pesquisadores forneceram instruções específicas (prompts) para um treino de musculação de 12 semanas.
ChatGPT: Uma boa ferramenta para prescrição de treinamento?Fonte: Getty Images
As versões GPT3.5 e GPT4.0 foram solicitadas para projetar treinos para indivíduos hipotéticos do sexo masculino e feminino (20 anos, sem lesões e experiência “intermediária” de treinamento). Posteriormente, o GPT4.0 foi solicitado a conceber um programa ‘avançado’ para os mesmos perfis.
Como foi o desempenho do ChatGPT fazendo treinos?
Algo que já aprendemos na prática lidando com a IA é que quanto mais específica forem as questões, melhores parecem as respostas. Tanto o GPT3.5 quanto o GPT4.0 foram específicos e propuseram três fases periodizadas de treinamento com duração de 4 semanas cada período.
Basicamente, é a organização de estímulos diferentes em semanas, começando com volume elevado (maior número de séries) e intensidade menor (peso não tão alto), passando por volume moderado e intensidade alta e chegando nas semanas de levantar muito peso, mas com menor número de séries.
Os autores avaliaram o que foi proposto pelo chat no que se refere a literatura científica, classificando como ‘fortes’, ‘moderadas’ ou ‘fracas’, que são atribuídas considerando a adequação e integridade de como determinadas variáveis são integradas no treino, incluindo o grau em elas se alinham com padrões e práticas científicas estabelecidas.
Embora o ChatGPT tenha sido bem avaliado em alguns itens da prescrição, parece que nada substitui o contato humanoFonte: Getty Images
Sabemos que a ciência é o melhor caminho e guia para nossas ações, embora a prática da musculação ainda seja muito guiada por experiências pessoais de blogueiros e praticantes, o que chamamos de evidências anedóticas.
- Leia mais: A ciência em cada passo seu na academia
Em geral, o treino do ChatGPT foi bem avaliado. Em 20 dos 36 itens avaliados, a classificação foi forte, em 12 moderado e em 4 fraco. Mas no que diz respeito as práticas contemporâneas: todos os 3 programas por versões diferentes do ChatGPT foram fracas. Parece que o ChatGPT não está em sintonia com as mais recentes evidências científicas.
Hoje se reconhece que o ChatGPT pode ser uma ferramenta complementar para planejar treinos, acelerando a geração de ideias para prescrição de treinamento, ao mesmo tempo que se reafirma a necessidade de experiência humana para maximizar a eficácia.
Além da segurança do que é feito e por incrível que possa parecer: o profissional humano pode estar mais atualizado do que a IA, em relação às práticas contemporâneas baseadas em evidências científicas.
Embora alguns comentem que o ChatGPT é o futuro do fitness, a área de chatbots não apareceu como tendência no ranking do Colégio Americano de Medicina do Esporte para 2024. O ChatGPT deve ser utilizado como ferramenta complementar, e não como substituta, combinando inteligência artificial com expertise humana para otimizar a eficácia da prescrição de exercícios.
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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos.
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