Um dos enigmas que há muito intrigam os astrônomos — o fato de os planetas do Sistema Solar (inclusive a Terra) terem suas órbitas inclinadas em relação ao Sol — parece ter sido resolvido em um estudo recente publicado na The Astronomical Letters. Essa é uma característica comum, dizem os autores, mesmo em sistemas planetários intocados por eventos cósmicos.
Normalmente se acreditava que esses planetas com órbitas inclinadas, ou seja, que não se alinham exatamente com a rotação de sua estrela hospedeiras, teriam sido impactados por algum tipo de fenômeno cósmico de alto nível, como colisões ou interferências gravitacionais com estrelas próximas ou planetas vizinhos.
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No entanto, a nova pesquisa, liderada pela Universidade de Yale, em New Haven nos EUA, revelou que mesmo os sistemas estelares "preservados" muito distantes de nós, podem apresentar planetas com órbitas inclinadas. A estimativa é que alguns desses exoplanetas atinjam inclinações de até 20 graus em relação à horizontal, o que é parecido com os quase 23,5 graus da Terra.
A busca por exoplanetas com órbitas preservadas
A órbita do planeta TOI-2202 b em torno de sua estrela é de apenas 12 dias.Fonte: Getty Images
Durante a fase de observações, a equipe internacional de pesquisa, liderada pela astrônoma Malena Rice, da Yale, realizou uma extensa análise de sistemas solares primitivos, onde as órbitas de seus planetas permaneceram relativamente intocadas desde a formação.
Em um comunicado à imprensa, Rice explica que "esse tipo de configuração, onde a órbita de um planeta é ordenada com precisão com a de outro em uma proporção inteira exata de períodos orbitais [sistemas ressonantes], é provavelmente comum de encontrar em um sistema solar no início de seu desenvolvimento".
Ao realizar modelagens computacionais, simulando o que acontece quando os polos desses exoplanetas são inclinados em relação às suas órbitas, eles descobriram que, em planetas com altas inclinações axiais, as forças das marés “são extremamente mais eficientes na drenagem da energia orbital em calor nos planetas”, afirma Millholland.
Muitos exoplanetas com órbitas inclinadas
Diagrama com dois planetas com órbitas inclinadas em relação ao eixo da estrela hospedeira.Fonte: Malena Rice et al.
As buscas por órbitas inclinadas começaram em um sistema solar primitivo, no qual os pesquisadores mediram o planeta TOI-2202 b, um "Júpiter quente", classe de exoplanetas gigantes gasosos, com massa semelhante ao nosso, porém com um período orbital bem mais curto que o da Terra. Esse planeta específico tem massa de 0,978 júpiteres e órbita de 11,9 dias, o que é inferior até mesmo à do nosso pequenino Mercúrio (88 dias).
Em seguida, os autores compararam a órbita do TOI-2202 b com planetas semelhantes encontrados no censo Arquivo de Exoplanetas da NASA. Colocado nesse contexto mais abrangente, foi apurada uma inclinação típica de até 20 graus para esse tipo de planeta, sendo o sistema do TOI-2202 b um dos mais inclinados.
A descoberta animou Rice que considera que a questão a partir de agora é descobrir por que júpiteres quentes têm órbitas tão inclinadas. "Quando eles ficaram inclinados? Eles podem simplesmente nascer assim? Para descobrir isso, primeiro preciso descobrir quais tipos de sistemas não são tão inclinados", afirma a astrônoma.
Qual a importância da descoberta de exoplanetas inclinados?
Se os exoplanetas forem mesmo inclinados, terão estações extremas como as da Terra.Fonte: Getty Images
Conforme o release divulgado pelo universidade de Yale, este estudo fez parte de uma extensa pesquisa chamada Inclinações Estelares em Sistemas de Exoplanetas de Longo Período (SOLES). A descoberta, diz Rice, fornece informações valiosas sobre a formação dos sistemas solares, inclusive o porquê das inclinações dos planetas vizinhos da Terra.
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Ou seja, tanto dentro como fora do nosso Sistema Solar, inclinações são normais no curso cósmico. Embora isso fosse cogitado por muitos autores, é a primeira vez que uma equipe realiza uma "análise populacional de geometrias spin-órbita para sistemas planetários quase ressonantes".
“Isso nos diz que não somos um sistema solar superestranho. É realmente como nos olharmos no espelho de um parque de diversões e ver como nos enquadramos no panorama do universo”. E conclui: “É reconfortante”.
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