Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Temos um companheiro que fica praticamente 24 horas por dia e 7 dias por semana com a gente: o celular. Smartphones. À medida que ganham em tecnologia, ganham mais tempo grudado no ser humano.
Acordamos, mal abrimos os olhos e quando percebemos já estamos imersos nas redes sociais. Ao almoçar e jantar, mal sentimos o gosto da comida, pois a atenção está focada na tela. Quando nos reunimos socialmente, o dispositivo rouba nossa atenção da conversa com as outras pessoas. Uma síndrome chamada FOMO (Fear of Missing Out) caracteriza o medo de ficar desatualizado frente às redes sociais, gerando ansiedade.
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Em recente pesquisa sobre o uso de redes sociais e comportamentos de risco para saúde em adolescentes, foi descoberto que o uso das redes sociais foi associado a comportamentos alimentares pouco saudáveis, consumo de álcool e comportamento antissocial.
Se vamos fazer exercícios, usamos qualquer tempo possível para consumir qualquer coisa na tela, incluindo o tempo de descanso entre as séries na academia. Nesse aspecto, o uso do celular atrapalha o treino? Saiba o que a ciência nos diz.
O que as pesquisas dizem sobre uso de celular e treino
Uma pesquisa realizada por pesquisadores brasileiros investigou os efeitos do celular no contexto dos exercícios físicos. Cientistas de Universidades do Nordeste testaram em 16 pessoas o impacto das redes sociais, sobre especificamente a fadiga mental.
Os participantes foram divididos em dois grupos: um gastou 30 minutos antes do treino nas redes sociais – Facebook, Instagram e Twitter, enquanto o outro assistiu um documentário pelo mesmo tempo – Segredos da NASA do National Geographic.
Celular e treino: uma combinação que deve ocorrer com cautela.Fonte: Getty Images
Os participantes da pesquisa realizaram três séries de agachamento até a falha com 80% da sua capacidade máxima de força, intercaladas com 3 minutos de descanso entre as séries, mas nesse tempo eles não ficaram nas redes sociais, diferente de como a maioria dos praticantes de musculação fica atualmente nas academias.
A exposição de 30 minutos a redes sociais nos smartphones levou os participantes a uma maior percepção de fadiga mental e menor volume de treino durante a musculação. Uma redução de 29% nas repetições.
A fadiga mental devido ao uso prolongado de celular pode atrapalhar a qualidade da sessão de treinamento de força.
Sabendo que o número de repetições implica no volume de treino, a qual é uma variável importante para hipertrofia, esse resultado tem uma importante aplicação prática, pois pode impactar nos resultados dos praticantes.
Um dos autores do estudo, quando perguntei se atualmente com base nos estudos que testaram o uso do celular (redes sociais) e a relação com exercícios, conseguimos afirmar que prejudica o desempenho no treino, o Professor Leonardo Fortes do Departamento de Educação Física da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) respondeu que “Sim, existe um conjunto considerável de achados científicos que sugerem isso.
O uso por tempo prolongado (mais de 15 minutos) de redes sociais (Instagram, Facebook e WhatsApp) ininterruptamente parece acarretar alterações cerebrais (temos chamado atualmente de fadiga mental) que parecem prejudicar/comprometer o desempenho físico subsequente".
Segundo o professor, "as investigações realizadas até o momento tem apontado para redução na quantidade de repetições (volume) em exercício de força (musculação), atenuação da distância percorrida em exercício de endurance (corrida, natação e ciclismo) e aumento da percepção de esforço (resposta psicofisiológica durante o exercício físico) em sujeitos mentalmente fatigados após uso por tempo prolongado em redes sociais em smartphone”.
Fortes complementa que “a tela do celular emite frequência de ondas led branca e azul, as quais parecem alterar a ritmicidade eletrofisiológica do cérebro. Essas alterações podem reduzir a quantidade de recursos cognitivos para a tarefa em execução, o que pode comprometer o foco atencional e, consequentemente, piorar o desempenho na tarefa. Quando realizamos exercício físico, nosso cérebro é utilizado/recrutado e necessita apresentar "prontidão" para executar/desempenhar com maestria a sessão de treinamento”.
“O uso prévio e prolongado de celular parece prejudicar o desempenho no exercício físico”, finaliza o pesquisador.
Visualize a sessão de exercícios como uma oportunidade no seu dia de ficar longe do aparelho e curtir melhor o momento, além de ter melhores condições para desempenhar mais.
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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos.