Um importante subsídio para as mesas de debate da próxima COP28 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023) foi divulgado nesta segunda-feira (20): uma parcela de 1% da população mais rica do planeta (77 milhões de pessoas) emitiu sozinha 16% de todas as emissões de dióxido de carbono (CO2), em 2019.
O percentual equivale à mesma quantidade desse gás de efeito estufa emitida pelos 66% da população mais pobre da Terra, equivalente a cerca de 5 bilhões de pessoas. Os dados discrepantes fazem parte do relatório Igualdade Climática: Um Planeta para os 99%, lançado pela organização não governamental Oxfam, que atua contra pobreza, desigualdades e injustiça, com representações em vários países do mundo, inclusive no Brasil.
Em nota à imprensa, a diretora-executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia, classifica como inacreditável que “o 1% mais rico continue liderando o mundo ladeira abaixo para um colapso planetário”. A estimativa é de que as emissões dessa parcela privilegiada da população tenham potencial “para causar mortes de 1,3 milhão pessoas relacionadas ao calor de 2020 a 2100”. Que o digam as temperaturas verificadas no Brasil nos últimos dias.
Socializando tragédias
Embora 1% dos mais ricos e 66% dos mais pobres produzam 32% do CO2, só estes últimos sofrem os impactos do aquecimento global.Fonte: Oxfam Brasil
Se o aumento da concentração de CO2 é a mesma nos dois segmentos da população, o impacto resultante é perverso. De acordo com Maia, “são bilhões de pessoas impactadas por enchentes, secas, perdas de território, aquecimento e baixa de temperatura desproporcional, problemas de saúde e pobreza”.
E quem são essas pessoas?
As mais atingidas pelo impacto da crise climática, diz Katia, são aquelas que vivem na pobreza: em sua maioria mulheres e meninas, pessoas negras, comunidades indígenas e quilombolas, geralmente nos países do hemisfério sul do globo. E, dentro das nações, os efeitos climáticos aumentam ainda mais essas desigualdades.
Possíveis soluções/recomendações
Um imposto de 60% para a renda dos 1% mais ricos resultaria em US$ 6,4 trilhões.Fonte: GettyImages
Para Katia Maia, “é preciso fazer a conexão entre o excesso de riqueza e o colapso climático. Está passando da hora dos super-ricos serem taxados mundialmente”.
Pelos cálculos da Oxlam, um imposto de 2% sobre a riqueza dos milionários, 3% sobre aqueles com riqueza superior a US$ 50 milhões, e 5% sobre os bilionários do mundo arrecadaria em US$ 1,726 trilhão em recursos para financiar a transição energética.
A entidade mundial recomenda uma nova dinâmica para o sistema econômico vigente, desvinculada do tripé crescimento econômico, extração e consumo excessivos. Quanto à receita para mitigar os danos climáticos, ela sugere um aumento radical da igualdade social via políticas governamentais.
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