A diminuição dos recursos hídricos no hemisfério sul está provocando alarmes em todo o mundo. Estudos recentes indicam uma redução significativa na disponibilidade de água nesta região em comparação com o hemisfério norte, e as consequências são de longo alcance.
A principal causa deste fenômeno é o evento climático periódico conhecido como El Niño, caracterizado por águas oceânicas mais quentes do que o normal no Pacífico Oriental. Essas alterações na temperatura da água do oceano acaba afetando os ecossistemas, a agricultura e as populações humanas em todo o mundo.
As altas temperaturas dos oceanos Atlântico e Pacífico, são apontadas como uma das causas para a seca na região Amazônica.Fonte: Getty Images
Amazônia em Alerta
A seca avassaladora que atinge a Amazônia está causando uma crise humanitária e ambiental sem precedentes na região, com previsões sombrias para os meses seguintes. A combinação de eventos climáticos extremos e ações humanas tem colocado em perigo a existência de milhares de indivíduos e a riqueza biológica da região amazônica.
A seca extrema ameaça a rica biodiversidade da Amazônia.Fonte: Bruno Zanardo/ Getty Images
O aumento da seca na floresta tropical ameaça a vegetação, tornando-a mais vulnerável a incêndios florestais. Isso é ruim para as comunidades indígenas e ribeirinhas assim como para diversidade de animais e plantas na Amazônia.
Além disso, a liberação de carbono armazenado na vegetação e no solo da floresta por meio da seca pode agravar ainda mais as mudanças climáticas. A estiagem extrema na Amazônia Ocidental tem atingido níveis alarmantes, com os estados do Acre, Rondônia, Roraima e Amazonas sofrendo as consequências mais severas.
O aquecimento excessivo do Oceano Atlântico adiantou o início da estação seca, o que resultou numa diminuição drástica dos níveis dos principais rios amazônicos. Esta situação tem aumentado significativamente as queimadas e elevado as temperaturas a níveis alarmantes.
O impacto do El Niño
A chegada do El Niño agrava a situação. Especialistas preveem que a seca persista até 2024, caso o aquecimento do Atlântico continue. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) há anos alerta para o aumento da frequência de eventos climáticos extremos na região.
A seca está afetando aproximadamente 500 mil pessoas, sendo o Amazonas o estado mais afetado, com 55 dos 62 municípios. A falta de água potável, alimentos e medicamentos é uma situação preocupante, e o governo local está estudando a remoção de comunidades inteiras que dependem da agricultura familiar nas áreas ribeirinhas.
Tendências na disponibilidade de água 2001-2020. O Hemisfério Sul tem mais laranja do que azul.Fonte: Zhang et al/Ciência, CC BY-SA
Crise além das fronteiras da Amazônia
A crise não se limita à Amazônia. Em outras regiões do país, a seca está impactando a agropecuária, com pastagens perdendo sua cobertura vegetal e mortes de bovinos sendo registradas. O Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais relata que 79 municípios na Região Norte tiveram mais de 80% de suas áreas agrícolas afetadas pela estiagem.
A seca extrema também ameaça a rica biodiversidade da Amazônia. A morte de pelo menos 125 botos cor-de-rosa e tucuxis no lago Tefé, no Amazonas, após as águas atingirem temperaturas 10 graus acima da média histórica, chamou a atenção da sociedade.
Além disso, espécies de peixes, incluindo o pirarucu, essencial para a alimentação e economia local, estão enfrentando um aumento na mortalidade.
O Hemisfério Sul tem um impacto desproporcionalmente significativo na disponibilidade global de água.Fonte: GettyImages
Consequências globais
Um estudo recente trouxe informações preocupantes: de 2001 a 2020, foi observado um efeito substancial de secagem no Hemisfério sul. Os pesquisadores acreditam que o El Niño seja o culpado.
Ocorrendo em intervalos irregulares, o El Niño tem consequências de longo alcance, afetando não só a vizinhança imediata, mas também contribuindo para um desequilíbrio global nos recursos hídricos.
As descobertas são resultados de pesquisas meticulosas que se baseiam em uma combinação de dados de satélite e medições de fluxos de rios e riachos. Esses recursos foram fundamentais para a elaboração de um modelo que calcula as mudanças na disponibilidade de água.
A essência deste estudo reside na compreensão da diferença líquida entre a água fornecida à paisagem – principalmente na forma de chuvas terrestres – e a água perdida para a atmosfera através da evaporação e transpiração pelas plantas.
A análise dos dados revela uma diminuição preocupante na disponibilidade de água em regiões-chave do Hemisfério Sul, sendo a América do Sul, a África e o centro e noroeste da Austrália particularmente atingidos. As implicações para estas regiões são significativas, variando desde potenciais problemas de escassez de água até desequilíbrios ecológicos.
Se desejar ficar por dentro de mais assuntos que abordam essa área brasileira tão vasta e importante para o mundo, vale a pena ler a matéria sobre a Terra Preta da Amazônia. Até a próxima!
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