Anunciado na manhã desta segunda-feira (2), o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2023 foi atribuído à bioquímica húngara Katalin Karikó e ao pesquisador americano Drew Weissman por seus trabalhos sobre RNA mensageiro (mRNA). Ao descobrir "modificações na base de nucleosídeos", os dois cientistas abriram caminho para a criação de vacinas eficazes contra a covid-19.
O prêmio de 11 milhões de coroas suecas, equivalente a R$ 5 milhões, é um reconhecimento aos pesquisadores pela sua tecnologia que foi imprescindível no rápido desenvolvimento das vacinas contra o vírus SARS-CoV-2.
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O mecanismo mediado por RNA que os dois professores vêm desenvolvendo juntos não se limita à vacina contra a covid-19, mas tem um potencial promissor para diversos tratamentos. “Depende apenas da imaginação dos colegas cientistas. Eles têm uma ideia e então usam o mRNA para explorar qualquer que seja ela”, disse Karikó ao IFLScience.
O que possibilitou a criação da vacina de mRNA?
Os cientistas alteraram as bases nitrogenadas do mRNA in vitro.Fonte: Getty Images
Vacinas estimulam a formação de uma resposta imune a determinado patógeno, o que era feito há muitos anos através de vírus mortos ou enfraquecidos do vírus. Com os avanços da biologia molecular, passaram a ser usados "pedaços" do microrganismo inteiro, como no caso da vacina contra a hepatite B.
Como esses processos demandam grandes recursos (culturas celulares em larga escala), os pesquisadores buscam, desde a década de 1980, uma tecnologia de vacinas que use a nossa própria informação genética, codificada no DNA, pra produzir proteínas através do RNA mensageiro. No entanto, o mRNA sempre se mostrou instável e resistente em faze esse delivery.
Isso até Karikó e Weissman descobrirem que as células dendríticas, espécie de "sentinelas" do sistema imunológico, reconheciam o mRNA transcrito in vitro como invasor. Sabendo que as bases de RNA (adenina, uracila, guanina e citosina) dos mamíferos se modificam quimicamente, eles produziram diferentes variantes de mRNA. O procedimento não só "enganou" as células produtoras de antígenos, como reduziram quase a zero as respostas anti-inflamatórias.
Criando vacinas contra a covid-19 em tempo recorde
A versatilidade das vacinas de mRNA foi fundamental para criar imunizantes contra a covid-19Fonte: Getty Images
Após as descobertas, várias empresas se interessaram pelo método para o desenvolvimento de vacinas. Foram pesquisados imunizantes contra o vírus da Zika e o MERS-CoV, causador da síndrome respiratória do Oriente Médio, que é da família do coronavírus, como o causador da covid-19. Por isso, as vacinas de mRNA foram tão rapidamente desenvolvidas após o início da pandemia, resultando em proteção de 95%.
A surpreendente flexibilidade e rapidez que as vacinas mRNA demonstraram em se adaptar às novas cepas do vírus fazem com que a plataforma possa ser utilizada para a criação de vacinas contra outras doenças, como a infecção do HIV, a malária e a tuberculose. Espera-se que, no futuro, a técnica possa ser usada para produzir proteínas terapêuticas para o tratamento do câncer.
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