É perfeitamente razoável dizer que a maioria das pessoas costuma não gostar muito de matemática, de física ou de química. Essas três disciplinas da Educação Básica (juntamente talvez da disciplina de computação), compõem a temida área de exatas do Ensino Médio, que é onde a maioria das pessoas têm contato com esses assuntos.
Entretanto, será que existe alguma característica desse tipo de assunto que é inerentemente difícil de aprender? Ou temos somente um preconceito pela maneira como ele é ensinado?
A Física e a Química são Ciências Naturais que, assim como diz o nome, tratam de estudar e descrever a natureza ao nosso redor. São áreas do conhecimento humano que buscam entender os motivos pelos quais nosso universo funciona da maneira como ele funciona e, para fazer isso com precisão (o que as torna “exatas”), elas utilizam a linguagem mais universal que conhecemos, a Matemática.
Pensar na Matemática como a linguagem que é necessária para a descrição do universo de forma precisa, nos possibilita entender o motivo pelo qual tantas pessoas sentem dificuldade de entender o que a Física e a Química têm a mostrar.
Todo idioma, por assim dizer, possui nuances e traquejos que só um falante fluente pode conhecer. Portanto, muitas vezes o que afasta as pessoas dessas áreas é quase o mesmo que faz com que pessoas que falam idiomas diferentes não consigam se entender rapidamente.
É comum que muitos estudantes não 'gostem' de estudar matemática, mas tenham interesse por física e química. Fonte: Getty Images
Isso quer dizer que quem não sabe Matemática não é capaz de entender Física ou Química? De forma alguma. O contraponto a essas ideias é que, em quase todos os seres humanos existe uma curiosidade interna sobre como o universo funciona. Basta analisarmos o quanto as pessoas se interessam por temas como a vida extraterrestre, buracos negros, mecânica quântica, viagens espaciais, entre outros diversos temas abordados pelas tais ciências exatas. E se você está lendo este texto neste site, muito provavelmente, você está nesse grupo das pessoas interessadas.
As ideias da Física e da Química podem (e devem) ser discutidos em todos os níveis e o conhecimento matemático é apenas uma maneira de entendê-los. Em nossa vida escolar, tais assuntos nos são apresentados intimamente conectados com a linguagem matemática e não é raro encontrar estudantes que acham que eles podem ser reduzidos a apenas fórmulas e totalmente desconexos de uma forma de pensar e questionar o universo.
Inclusive, esse fenômeno acontece mesmo entre os alunos que possuem afinidade com a linguagem matemática e optam por cursar a graduação em alguma área das exatas. Em uma pesquisa publicada em 2022 na revista Educar Mais, ficou constatado que, quando analisamos diversos cursos de Ensino Superior, a taxa de evasão, isto é, alunos que passaram no vestibular, mas não completaram o curso, chega a 59% considerando todos os cursos da área de exatas. A segunda área com maior evasão é a de Linguística, Letras e Artes com 49% dos alunos.
Os autores Léo Manoel Lopes da Silva Garcia e Raquel Salcedo Lopes investigaram também os motivos pelos quais os alunos desistem tanto dos cursos de exatas e, entre as principais razões, a que era comum a todos os cursos era a dificuldade de aprendizagem. Considerando que os alunos que ingressam no Ensino Superior vêm da Educação Básica, as universidades devem levar isso em consideração no planejamento dos cursos.
Perguntar o “porquê” das coisas é uma atividade exclusiva da humanidade. E seja em qualquer área do conhecimento, esse é o papel da Ciência. Ao invés de focarmos nas diferenças entre as diversas áreas, talvez, em nossa educação, possamos direcionar nossa atenção ao que elas têm em comum e, mostrando como são mais parecidas do que pensamos, podemos entender que todas possuem importância na formação de cada ser humano.
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