Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Somos bombardeados por informações de que precisamos fazer exercícios: para nossa saúde, pelo corpo, para viver mais e melhor. Mesmo sabendo disso, as pessoas não têm conseguido transformar intenções em ações. Estamos há mais de 20 anos sem alterações nos níveis de atividade física em âmbito mundial. Na verdade, piorou.
Em pesquisa recente, pesquisadores reuniram estudos medindo o movimento de pessoas via dispositivos como pedômetros (que contam os passos). A partir da análise de 16 estudos cobrindo um período de 22 anos em oito países desenvolvidos, os dados indicaram declínio nos níveis de atividade física. Isso ocorreu em homens, mulheres, crianças e adultos, mas especialmente nos adolescentes, nossos adultos de amanhã.
Uma pesquisa anterior publicada na The Lancet já mostrava um cenário preocupante: 81% dos adolescentes no mundo são inativos fisicamente, ou seja, não cumprem a recomendação semanal de atividade física: no mínimo 150 minutos em intensidade moderada ou pelo menos 75 minutos em intensidade vigorosa.
Como motivar um adolescente a praticar exercícios é um grande desafioFonte: Getty Images
Mas para mudar isso, precisamos de motivação para levantar do sofá ou apenas disciplina seria suficiente?
Motivação. É a força que nos leva a iniciar e manter comportamentos. Essa palavra vem do latim motivus ou motus, cujo significado original é 'causa do movimento'.
Ao longo da história, foram desenvolvidas muitas teorias para entender o que motiva os humanos, ou também no caso dos exercícios, o que não nos motiva. Descobrimos, ao revisar exaustivamente a literatura nacional e internacional, que o tema motivação é o principal, o mais investigado quando aplicado à área de esporte e exercícios físicos. Com tantas teorias e informações científicas sobre essa variável, a questão é: Por que achamos que o discurso superficial e simplista das redes sociais iria impactar no comportamento das pessoas, as motivando?
“Você não precisa de motivação, basta disciplina”.
“Just do it (Apenas faça)”.
“1% motivação e 99% disciplina”.
Essas frases podem possuir a melhor intenção possível, porém não são efetivas. O famoso slogan de uma marca de material esportivo “Just do it”, segundo o pesquisador Daniel Lieberman, é tão efetivo para promover exercícios quanto você dizer para um viciado em drogas “apenas dizer não” quando lhe oferecerem drogas. Ainda, como dizer “não fique triste” para uma pessoa com depressão, ou seja, pouco sensibiliza a pessoa com suas motivações e necessidades.
Para qualquer comportamento, sempre vamos precisar de motivação. No conceito mais simplista, dos motivos para ação. Considere o exemplo que talvez você já tenha vivido: dias que não temos vontade de fazer exercícios; eles são comuns. Se mesmo assim conseguimos treinar, superando a preguiça ou outras barreiras como cansaço, não significa que abandonamos nossas motivações. Elas ainda estão lá, sejam as externas ao treino que geralmente fizeram nós começarmos a treinar (como querer emagrecer ou ter mais saúde) e as internas (como saber que o exercício vai te fazer se sentir bem).
O hábito, se adquirido, pode facilitar esse caminho, mas ele precisa ser desenvolvido, baseado nas diversas motivações que podemos ter: estética, saúde e condicionamento físico, saúde mental, diversão, prazer etc.
Somos motivados intrinsecamente quando o prazer da própria atividade bastaFonte: Getty Images
Pessoas altamente disciplinadas em algo, na verdade o são devido a provavelmente motivações de boa qualidade, como se perceber competente, ter prazer, ter autonomia e apoio social. Essas motivações aumentam a chance de tornar o exercício um hábito. Realmente podemos aprender a gostar de fazer exercício.
Mas afinal como se motivar para exercícios?
Uma pesquisa descobriu como diminuir as chances de pessoas com ansiedade desistirem de praticar exercícios, e duas coisas foram fundamentais: ter supervisão por profissional e uma estratégia para motivá-las. Mas não explorando a motivação mais externa, como treinar para ficar em forma, e sim a motivação autônoma em que a pessoa experimenta a sensação de liberdade psicológica, ela se sente eficaz para atingir os resultados desejados do exercício e se sente socialmente conectado.
Recentemente, preocupados com os índices alarmantes de falta de atividade física, pesquisadores têm destacado a importância de ir além de saber dos benefícios para saúde.
Você provavelmente sabe que movimentar seu corpo faz bem para sua saúde, não é mesmo? Mas isso pode não ser suficiente. É preciso vivenciar boas experiências nos exercícios para que as pessoas queiram repetir. Uma delas é ter prazer. Semana que vem vamos descobrir como maximizar o prazer no exercício, segundo a ciência. Será nossa forma de comemorar o Dia Mundial da Atividade Física (6 de abril).
Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/CEFID/UDESC). É autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos, e apresenta o programa Exercício Físico e Ciência na rádio UDESC Joinvile (91,9 FM); o programa também está disponível em podcast no Spotify.
Fontes