No caminho da descarbonização do planeta, o hidrogênio verde pode ser o maior aliado da espécie humana. Com potencial energético três vezes maior do que a gasolina, esse combustível é capaz de mover carros e indústrias sem emitir uma molécula sequer de dióxido de carbono.
Mas para a promessa de um futuro mais limpo se concretizar, ainda é necessária muita pesquisa científica. E para isso, o Brasil começa a dar seus primeiros passos, apostando alto na biomassa e na energia solar.
Como o hidrogênio é usado?
O hidrogênio é um gás formado pelo elemento de mesmo nome. Assim como o GNV que usamos nos carros, ele pode ser queimado para mover motores ou gerar energia elétrica.
Hidrogênio Verde é a promessa de redução de CO2 na atmosfera (Getty Images)
Thiago Lopes, professor e pesquisador da USP (Universidade de São Paulo), explica que a sua grande vantagem é que durante a queima não emite gás carbônico, um dos principais responsáveis pelo efeito estufa e o aquecimento global. O problema, entretanto, é obtê-lo.
Se no uso não há emissão, durante a obtenção desse combustível a partir de gás natural ou carvão mineral, o método tradicional, pode haver liberação do poluente. Esse hidrogênio é classificado como cinza.
No mundo, 700 milhões de toneladas do combustível são queimadas por ano. Em um esforço para frear o aquecimento global, desenvolveram-se métodos para capturar os gases liberados durante a fabricação, dando origem ao termo hidrogênio azul, menos nocivo.
Mas as medidas ainda não são suficientes para promover a proteção integral do meio ambiente. A geração ainda está pautada pelo uso de combustíveis fósseis, que são limitados.
Por isso surgiram as buscas por novas formas de obter hidrogênio de fontes exclusivamente renováveis, classificadas como verdes.
A indústria tradicional gera hidrogênio a partir de fontes poluidoras (Getty Images)
O gás hidrogênio pode ser produzido basicamente de duas formas diferentes. A forma mais tradicional é a partir da conversão do metano através de uma reação química conhecida como reforma à vapor.
Também é possível produzir hidrogênio verde de fontes como a biomassa, considerada renovável. Uma outra vantagem do seu uso é que durante o cultivo, ela ajuda a sequestrar parte do carbono da atmosfera.
Essa é a aposta de Lopes. O pesquisador quer aproveitar a cana-de-açúcar brasileira, setor no qual o país é líder mundial. Segundo ele, esse vegetal é uma fonte completa de recursos capaz de substituir as reservas de combustíveis fósseis.
Com ela já é possível obter o etanol e o biodiesel, e, a partir do bagaço que sobra, energia elétrica. Agora o cientista está buscando formas de produzir também hidrogênio desse recurso estratégico para o país.
Lopes conta que no ano passado o governo brasileiro e investidores privados finalmente voltaram suas atenções para essa tecnologia. Lopes afirma que apostar naquilo que o país tem de mais forte é o melhor caminho para usar os novos recursos.
Como é produzido o hidrogênio verde?
Nos últimos anos, uma segunda forma de produção de hidrogênio tem chamado a atenção: as reações de eletrólise. Conhecidas há décadas pelos cientistas, foi só com os avanços tecnológicos recentes que começou a ser empregada de forma economicamente competitiva.
Utilizando eletrodos feitos de materiais nobres, como a platina, e com aplicação de uma corrente elétrica sobre a água, é possível obter o gás sem emitir carbono para a atmosfera.
Imagem mostra carro conceito movido a hidrogênio (Getty Images)
Entretanto, uma das questões no uso desse método diz respeito à fonte de energia elétrica empregada, já que no mundo a queima de petróleo, gás natural e carvão ainda é muito usada para produzir eletricidade.
Francisco Feitosa, engenheiro eletricista e doutorando pela Universidade Federal de Minas Gerais, afirma que o Brasil tem o que é preciso para superar essa contradição. Em primeiro lugar, a principal forma de geração de energia elétrica no país é através das hidrelétricas, que são consideradas fontes renováveis.
Mas, segundo o pesquisador, podemos ir além. O território nacional tem um grande potencial solar, por exemplo, que Feitosa está explorando nas suas pesquisas. Ele está desenvolvendo um modelo de estação para a geração de hidrogênio verde capaz de abastecer veículos adaptados.
O engenheiro explica que essas estações podem ser usadas ao longo de rodovias, gerando um corredor viário sustentável. Carros movidos a hidrogênio já existem nos Estados Unidos, Japão e Alemanha. E podem se tornar realidade no Brasil.
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