*Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Se você não utiliza, você provavelmente conhece alguém que utiliza medicamentos homeopáticos ou que se consulta com frequência com algum homeopata. Entretanto, a homeopatia e seus tratamentos ainda são, para dizer o mínimo, polêmicos do ponto de vista científico. A grande questão desse tipo de tratamento é que é impossível baseá-lo em algo científico que não seja o efeito placebo.
O chamado “efeito placebo” ocorre quando um paciente percebe uma melhora de uma doença ou de um sintoma, sem que nenhum medicamento químico tenha sido administrado. Por exemplo, uma pessoa, sem saber, toma um “comprimido falso” para dor de cabeça e sente, de fato, sua dor diminuir. Esse fenômeno é bastante complexo e se baseia em uma interação de neurotransmissores como a dopamina (conhecida por estar associada ao prazer e à felicidade) com regiões específicas do nosso cérebro. Tal efeito ainda pode ter uma associação de suscetibilidade genética, isto é, algumas pessoas podem ser geneticamente mais receptivas a placebos do que outras.
Sabidamente, os placebos não são capazes, por exemplo, de fazer com que o tumor de um paciente com câncer entre em remissão, diferentemente dos tratamentos como quimioterapia, radioterapia etc. Tais medicamentos raramente curam uma doença. Entretanto, eles podem ajudar a aliviar sintomas como náuseas e dores fazendo com que o paciente se sinta melhor temporariamente.
E a homeopatia? Segundo os homeopatas, existem dois princípios básicos nesse tipo de tratamento: o princípio dos semelhantes e o princípio dos infinitesimais. O princípio dos semelhantes baseia-se na ideia de que “semelhante cura semelhante”. Ou seja, se uma pessoa está com febre, sua cura seria encontrada em alguma substância que causa febre. Ou ainda, se a pessoa possui alguma alergia ou tosse, um homeopata pode indicar um medicamento com trióxido de arsênio, substância extremamente tóxica que pode até matar! Porém, o paciente não sente sintomas adversos devido ao segundo princípio.
O efeito placebo ocorre quando um "remédio falso" e inofensivo entra no corpo, e ainda assim o paciente sente o alívio dos sintomasFonte: Shutterstock
O princípio dos infinitesimais parte da ideia de que os “agentes curativos”, por assim dizer, encontrados nos semelhantes devem ser extremamente diluídos para que seu efeito tóxico desapareça. Muitos medicamentos homeopáticos são diluídos em água 1030 vezes! Se considerarmos que um mol de determinada molécula é da ordem de 1023 moléculas e, no caso do trióxido de arsênio, sua solubilidade em água é de 0,1 mol a cada litro de água, ao final de todas as diluições, sobraria um total de 0 moléculas de trióxido de arsênio no medicamento final. Ou seja, o paciente estaria, literalmente, bebendo água (que não faz mal a ninguém).
Outro grande problema do tratamento homeopático é que ele não evoluiu desde a época de sua fundação, no século 19. E não é preciso pensar muito para imaginar e entender que todo e qualquer medicamento com comprovação científica para qualquer doença que seja é melhor atualmente do que trezentos anos atrás. A constante evolução e melhoria faz parte do processo científico.
Dito tudo isso, cabe ressaltar que talvez não seja necessário abolir a homeopatia como tratamento. Uma discussão (para outro dia) seria a de somente abolir gastos de dinheiro público com esse tipo de tratamento. Porém, placebos possuem seu valor no tratamento de sintomas leves e alívio mais rápido de doenças que já se curariam naturalmente para muitos pacientes. Mas é sempre de extrema importância garantir que esse tipo de tratamento não seja o único buscado. Temos o dever e todos os motivos, em casos graves principalmente, para sempre buscar a medicina cientificamente comprovada.
Rodolfo Lima Barros Souza, professor de Física e colunista do TecMundo. É licenciado em Física e mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Unicamp na área de Percepção Pública da Ciência. Está presente nas redes sociais como @rodolfo.sou