*Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Desde que a humanidade passou a contemplar o céu, em uma história que se perde no decurso dos séculos, nós nos perguntamos: quão grande é tudo isso?
À medida que fomos progredindo em intelecto e ferramentas, nos tornamos capazes de colocar as coisas em perspectiva ao medir e estimar distâncias e tamanhos nas proximidades da Terra, no Sistema Solar e posteriormente em todo o Universo.
As primeiras estimativas do diâmetro do nosso planeta e das distâncias entre a Terra e a Lua e a Terra o Sol, por exemplo, foram feitas ainda nos últimos séculos da Antiguidade, ao passo que, com o advento das Leis de Kepler e da mecânica newtoniana durante a revolução científica, essas medidas de distâncias tomaram caminhos ao Sistema Solar profundo e até às estrelas vizinhas da nossa galáxia.
Representação artística da Via Láctea com um diâmetro de 100 mil anos-luz.Fonte: NASA
Quando falamos em escalas astronômicas ainda maiores, em perspectiva cósmica, as galáxias reinam soberanas. Essas vastas ilhas estelares que permeiam o espaço são compostas essencialmente de estrelas, poeira, gás e muita, mas muita matéria escura. Seus tamanhos típicos variam desde algumas poucas centenas até alguns milhões de anos-luz em diâmetro e suas massas chegam em unidades impressionantes de centenas de bilhão de massas solares.
A Via Láctea, por exemplo, é uma galáxia espiral típica com um diâmetro aproximado de 100 mil anos-luz. O Sol é apenas uma dentre as 400 bilhões de estrelas que existem em seus limites. Para o Universo, esse é um sistema relativamente grande: a maioria das galáxias encontradas são menores que a Via Láctea e comumente possuem menos de 10% da sua quantidade de estrelas.
A menor galáxia conhecida é chamada de Segue 2, possui apenas 110 anos-luz de diâmetro e conta com apenas cerca de 1.000 estrelas em seu interior. Isso é menor mesmo que alguns aglomerados globulares de estrelas que contêm alguns milhares de anos-luz de diâmetro e outras milhares de estrelas.
A galáxia de Andrômeda, nossa vizinha cósmica.Fonte: NASA
Galáxias tão pequenas, entretanto, são relativamente raras. Para falar de galáxias maiores que a nossa, não precisamos ir muito longe pois na nossa vizinhança galáctica existe um verdadeiro titã. Distante cerca de 2,5 milhões de anos-luz daqui, a galáxia de Andrômeda, com seus 220 mil anos-luz de diâmetro, impressiona com mais que o dobro do tamanho da Via Láctea.
Diversos fatores modificam a morfologia (e consequentemente o tamanho) de uma galáxia ao longo de sua evolução no tempo. Um desses principais fatores são as interações gravitacionais que elas fazem entre si e com o meio em que se encontram. Essas interações comumente distorcem e ampliam as extensões galácticas consideravelmente, podendo chegar até mesmo a dobrar o seu tamanho original.
A galáxia Arp 188 e a sua cauda fruto de uma interação gravitacional.Fonte: Hubble/NASA
Em 2011, no centro do aglomerado de galáxias Abell 2029, foi descoberta uma galáxia simplesmente colossal: a IC 1101, uma galáxia elíptica supergigante distante 1 bilhão de anos-luz de nós, com um diâmetro aproximado de 6 milhões de anos-luz! Esse valor representa uma região tão vasta no Universo que, se ela estivesse no lugar da Via Láctea, envolveria por completo as dez galáxias mais próximas daqui, incluindo as Pequena e Grande Nuvem de Magalhães e a galáxia de Andrômeda.
Os astrônomos estimam que ela contenha cerca de 100 trilhões de estrelas: um número tão grande que, se fôssemos contar, levaríamos mais de 3 milhões de anos (considerando uma estrela por segundo).
Comparação do tamanho da IC 1101 com outras galáxiasFonte: Ethan Siegel
A IC 1011, contudo, perdeu o recorde da maior galáxia já descoberta no Universo no ano passado. Em fevereiro de 2022, uma equipe internacional de astrônomos reportou a descoberta de uma galáxia simplesmente monstruosa: a 3 bilhões de anos-luz de distância está Alcyoneus, uma gigantesca rádio-galáxia que atinge 16,3 milhões de anos-luz de comprimento no espaço, constituindo a maior estrutura de origem galáctica conhecida até hoje.
Alcyoneus consiste em uma galáxia hospedeira e um sistema de jatos poderosíssimos que são emitidos do seu buraco negro supermassivo central e é um dos mistérios intrigantes do Universo. Sua descoberta destaca o quão ainda é pequena a nossa compreensão desses gigantes cósmicos e sobre os mecanismos que impulsionam seu crescimento fora de comum.
Alcyoneus, a maior galáxia já descoberta no Universo.Fonte: Martijn Oei
Se galáxias ainda maiores existem por aí, é apenas uma questão de tempo até descobrirmos!
Nícolas Oliveira, colunista do TecMundo, é licenciado em Física e mestre em Astrofísica. É professor e atualmente faz doutorado no Observatório Nacional, trabalhando com aglomerados de galáxias. Tem experiência com Ensino de Física e Astronomia e com pesquisa em Astrofísica Extragaláctica e Cosmologia. Atua como divulgador e comunicador científico, buscando a popularização e a democratização da ciência. Nícolas está presente nas redes sociais como @nicooliveira_.
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