Se você acompanha futebol, a cena descrita a seguir é bastante comum: um jogador bebe algum líquido e, em seguida, cospe-o no gramado. Mas qual a ciência por trás disso? Segundo especialistas, provavelmente a atitude não é falta de educação dos atletas, mas sim uma técnica chamada "carb rinsing", que em português pode ser traduzida como "enxágue com carboidratos".
A técnica, basicamente, consiste em bochechar uma solução com carboidratos para enganar o cérebro – que, ativado pelos receptores da boca, pensa: "está vindo comida aí". Isso ativa o sistema de recompensa do jogador e, como consequência, ele ganha em rendimento, com o sistema nervoso central esperando que mais energia esteja disponível em breve. Entenda a seguir como isso funciona.
Como é feito o enxágue com carboidratos?
Não, ninguém está bochechando uma macarronada. A maltodextrina - um carboidrato produzido a partir da quebra parcial (hidrólise) do amido - costuma ser o suplemento utilizado para preparar a solução usada por atletas que praticam esportes de longa duração.
No enxágue com carboidratos, comportamento já flagrado em várias seleções durante esta Copa do Mundo, o atleta bochecha de cinco a dez segundos a solução e depois cospe-a. Isso é feito para aumentar o foco e o desempenho e diminuir a fadiga.
O capitão da Inglaterra, Harry Kane e o português Cristiano Ronaldo são exemplos de jogadores que têm sido vistos aplicando a técnica.
Mas por que eles simplesmente não engolem a bebida?
Segundo especialistas, somente bochechar uma bebida carregada de carboidratos é refrescante e, ao mesmo tempo, evita a sensação de inchaço ou de cólicas que podem surgir ao engolir líquidos enquanto se pratica esporte.
Já foi demonstrado que o enxágue com carboidratos realmente fornece um aumento de energia e faz com que os músculos trabalhem mais - sem a parte desagradável do desconforto físico.
A ciência por trás do enxágue com carboidratos
Segundo a revista Running, o primeiro estudo a sugerir isso foi publicado em 2004. Feito com ciclistas, o ensaio demonstrou que aqueles que praticaram o enxágue com carboidratos foram um minuto mais rápidos em um contrarrelógio de 40 km.
Outro estudo, dessa vez feito com esgrimistas, mostrou maior precisão de estocada dos atletas após a lavagem com carboidratos. Em uma revisão de literatura de 2014, o fisiologista Trent Stellingwerf, do Canadian Sport Institute Pacific, examinou 61 estudos, feitos com 679 participantes, e descobriu que em 82% deles houve benefício significativo no desempenho dos atletas após utilizar a técnica.
Outro estudo de 2015, publicado no Jornal Internacional de Nutrição Esportiva e Metabolismo, descobriu que 12 atletas competitivos do sexo masculino experimentaram menos fadiga após a lavagem com carboidratos.
Um estudo publicado em 2017 no Jornal Europeu de Ciência Esportiva descobriu que o enxágue com carboidratos aumentava o desempenho em várias atividades. A equipe testou 12 homens saudáveis, na faixa dos 20 anos. Após a lavagem com carboidratos, eles pularam mais alto, fizeram mais supino e agachamento, correram mais rápido e ficaram mais alertas.
Mas não dá para enganar o cérebro por muito tempo: segundo pesquisas recentes, os benefícios do enxágue com carboidratos duram apenas cerca de 15 minutos.
Enxágue com carboidratos na Copa
O professor de fisiologia David Ferguson afirmou, em uma entrevista ao jornal NY Times, que o enxágue parece ajudar os jogadores de futebol a se sentirem menos cansados e aumenta sua atenção – algo especialmente importante após mais de 90 minutos de jogo.
Em vez de fazer os atletas correrem mais rápido ou chutarem com mais força, segundo o professor, o bochecho maximiza o foco deles para não sucumbir à fadiga, "para que possam se colocar na posição certa para fazer a jogada certa".
Assim, a técnica pode ser benéfica, por exemplo, quando o jogo vai para os pênaltis – quando a equipe já está exausta e pode ser beneficiada com um "impulso cerebral".
E você, já tinha ouvido falar do enxágue com carboidratos? O que achou da técnica? Conte para a gente nas redes sociais!
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