Nesta terça-feira (29) um velho conhecido das teorias de conspiração voltou a ficar em destaque nas redes sociais. O projeto de pesquisa norte-americano HAARP, localizado no Alaska, foi acusado mais uma vez de interferir no clima; agora com a finalidade de mandar chuvas para atrapalhar os militantes de extrema-direita que pedem por golpe militar na frente de quartéis brasileiros por discordarem dos resultados das eleições de 2022.
Em um dos vídeos que circula pelas redes sociais, uma das militantes segurando um guarda-chuva afirma que "os caras tão mandando chuva, HAARP, são poucos hoje que não sabem o que são antenas HAARP (...) a gente sabe que essas chuvas e esse tempo não são por causa de aquecimento global e nem peido de vaca, mas são antenas HAARP (sic)".
Antenas do projeto de pesquisa HAARP, localizadas no Alaska (reprodução)
O HAARP (High-frequency Active Auroral Research Program, ou programa de pesquisa em aurora ativa de alta frequência) é um programa de pesquisa que tem como objetivo estudar as propriedades e o comportamento da ionosfera, que, segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) é a camada da atmosfera localizada entre 60 km e 300 km de altitude, e está dividida em quatro regiões.
O estudo dessa camada da atmosfera é importante para entender como as ondas de rádio, que viajam pelo mundo para tornar possível a comunicação entre longas distâncias, se comportam nessas regiões. Seu wi-fi, a internet móvel do seu telefone e os aplicativos baseados em localização são afetados pela ionosfera.
A função do HAARP é usar seus instrumentos, como as antenas, para interferir na ionosfera local (excitando os átomos da região e aquecendo a ionosfera, por exemplo) para observar os efeitos que essa diferença de temperatura pode causar. O HAARP só consegue interferir em uma área limitada, que está sobre suas antenas.
O projeto está em andamento desde os anos 1990, mas em 2015, o controle do projeto e de seus instrumentos foi transferido da Força Aérea dos Estados Unidos para a Universidade do Alaska em Fairbanks. Os instrumentos de pesquisa do HAARP são, principalmente, o Instrumento de Pesquisa Ionosférica - um transmissor (antenas) de alta potência que opera em altas frequências de ondas de rádio - e um conjunto de instrumentos científicos e de diagnóstico que podem ser usados para observar os processos físicos que acontecem quando a região da ionosfera sofre excitação.
As pesquisas realizadas no HAARP não são confidenciais e, pelo menos uma vez por ano, a Universidade do Alaska promove um evento no qual visitantes de qualquer lugar podem conhecer o local onde ficam as antenas.
O HAARP pode causar chuvas?
Segundo a página do projeto, as frequências nas quais o HAARP opera não são absorvidas na troposfera e nem na estratosfera, que são as camadas da atmosfera que produzem o clima da Terra. Assim, não existem evidências de que o transmissor de ondas de rádio do HAARP possa interferir no clima.
Antenas do projeto de pesquisa científica HAARP, localizadas no Alaska (reprodução)
"Ondas de rádio interagem com cargas e correntes elétricas, e não interagem significativamente com a troposfera. Além disso, se as tempestades ionosféricas causadas pelo sol não afetam o clima na superfície [da Terra], não há chances de que o HAARP possa fazer isso. Interações eletromagnéticas ocorrem apenas no quase vácuo da rarefeita, mas ainda eletricamente carregada, região da atmosfera acima de 60 km a 80 km de altitude [ionosfera]", explica o site do projeto.
"A ionosfera é criada e continuamente reabastecida conforme a radiação do sol interage com os mais altos níveis da atmosfera da Terra", segue o texto.
Desde sua criação, inúmeras teorias de conspiração surgiram acusando o HAARP de ser usado para controlar o clima e causar grandes catástrofes, como terremotos mortais. Até hoje, nenhuma evidência surgiu para confirmar a suposta imensa interferência das antenas do HAARP em partes tão diferentes do mundo.
Há uma explicação científica (e mais chata) para as fortes chuvas da última semana: a atuação de uma Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). A ZCAS é definida pelo Inmet como uma "persistente banda de nebulosidade orientada no sentido noroeste-sudeste, que se estende desde a Amazônia até o Oceano Atlântico".
A ZCAS costuma aparecer nos meses de primavera e verão, causando as sequências de dias chuvosos com grandes volumes de precipitação, que podem causar alagamentos e deslizamentos de terra. Por outro lado, as grandes chuvas fazem a reposição hídrica nos reservatórios que fornecem água potável para a população.
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