Muitas vezes em nosso cotidiano, falar sobre Mercúrio retrógrado se refere ao papel que o planeta teria em trazer consequências negativas às ações humanas durante esse fenômeno — em especial no contexto da astrologia. Porém, na ciência, o termo diz respeito ao movimento de Mercúrio que aparenta “andar para trás” no céu ao longo de sua órbita no Sistema Solar.
Todos os planetas que giram em torno do Sol seguem um mesmo sentido, referência espacial quase circular conhecida como plano da eclíptica. Nesse plano, corpos celestes se movimentam de oeste para leste, trajetória que, juntamente do fato de a Terra possuir uma órbita inclinada, faz com que observadores tenham a ilusão de um objeto indo na direção contrária, ou seja, de leste a oeste. Essa mudança aparente é chamada de movimento retrógrado.
No vídeo abaixo, o professor de física Anderson Coser Gaudio dá uma breve explicação sobre o assunto.
Assim, como a órbita dos planetas não é igual em tamanho, e os planetas possuem velocidades diferentes para terminar a sua volta ao redor do Sol (velocidade orbital), em alguns momentos, para observadores da Terra - que também se move -, alguns planetas podem parecer "andar para trás". Mas é só a aparência. Se pudéssemos sair do Sistema Solar para ver o conjunto todo, veríamos os planetas sempre se movimentando no mesmo sentido, ainda que em velocidades diferentes. Ou seja, o movimento retrógrado não existe.
O movimento retrógrado aparente dá a impressão de que Mercúrio ou outros planetas estão ‘andando para trás’, sob a perspectiva da TerraFonte: Fonte: NASA/Reprodução
Em razão de Mercúrio ser o planeta mais próximo do Sol, ele apresenta uma órbita pequena em relação a outros do nosso sistema, levando o equivalente a 88 dias terrestres para dar uma volta completa ao redor da nossa estrela. Logo, essa rápida velocidade de translação ocasiona em retrogradações mais frequentes, percebidas 3 ou 4 vezes ao ano, cujos ciclos duram cerca de 4 semanas.
O movimento retrógrado de Mercúrio e de outros planetas
Em 2022, o último Mercúrio retrógrado começará no dia 29 de dezembro, com previsão de se encerrar somente em 18 de janeiro de 2023. Contudo, o fenômeno não é exclusivo de Mercúrio, podendo ocorrer tanto em outros objetos quanto em diferentes períodos, devido ao próprio movimento de rotação e translação da Terra.
Conforme a órbita da Terra se alinha à de outro planeta do Sistema Solar, uma nova retrogradação pode ser observada por nós. Vênus, por exemplo, leva o equivalente a 243 dias terrestres para orbitar o Sol. Ele entra em movimento retrógrado a cada 18 meses, com duração de cerca de 48 dias em cada ciclo. O próximo evento ocorrerá de 23 de julho a 04 de setembro de 2023.
Por sua vez, Marte fica retrógrado a cada 26 meses, fenômeno de fácil visualização nos céus — dispensando inclusive o uso de instrumentos especiais em razão da forte coloração avermelhada do planeta. O processo foi iniciado no final de outubro e vai até meados de janeiro de 2023.
O último Mercúrio retrógrado de 2022 começará no final de dezembro e deve se estender até meados de janeiro do próximo ano. O fenômeno acontece quando um planeta aparenta caminhar em direção contrária ao movimento da própria TerraFonte: Fonte: NASA/Reprodução
Já em planetas mais distantes, chamados de jovianos, a frequência da aparente distorção do movimento é menor, até porque eles rotacionam em torno de seus eixos de forma mais lenta. Júpiter entra em retrogradação a cada 9 meses, com duração de 4 meses; Saturno, Urano e Netuno ficam retrógrados a cada 12 meses, por cerca de 4 meses (em geral, a duração é mais longa quanto mais distante estiver o planeta).
Diversos corpos celestes em nosso sistema podem executar o movimento. Esse é o caso de algumas luas, que seguem uma direção oposta àquela feita pela rotação de seu planeta. Exemplo disso é Tritão, o maior satélite natural que gira em torno de Netuno, a 4,5 milhões de quilômetros do Sol.
Enfim, Mercúrio retrógado está mais para uma espécie de “Moonwalk” (o passo de dança) espacial do que consequências na vida das pessoas. Pelo menos, do ponto de vista científico.
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