Em 5 de outubro de 1962, cinco países — Bélgica, Alemanha, França, Holanda e Suíça — deram início ao que se tornou a maior colaboração internacional de observatórios terrestres: o Observatório Europeu do Sul (ESO).
Atualmente, a colaboração conta com mais de 16 países europeus, a parceria estratégica da Austrália e a hospitalidade do Chile e sites de pesquisa: os centros de pesquisa na Alemanha (Garching bei München) e no Chile (Santiago). Além disso, tem uma equipe de quase 1000 pessoas de diferentes países, incluindo astrônomos, engenheiros, jornalistas e outros mais, e atende mais de 22.000 pessoas com seus telescópios, os maiores e melhores da Terra.
Comemoração dos 60 anos do ESO.Fonte: ESO
Falando nos telescópios, todos os da ESO são terrestres, ou seja, estão no chão e não são satélites, e estão localizados no Deserto do Atacama. Mas por que Chile? O país apresenta as melhores condições para observação a partir do solo. Diversos fatores podem interferir em observações astronômicas profissionais, principalmente fatores envolvendo a atmosfera.
Por isso, é fundamental estar em locais altos, remotos e com atmosfera seca, e o Deserto do Atacama apresenta todas essas qualidades. Posicionando telescópios em locais altos, existe uma menor massa de ar no caminho das observações. É o mesmo que estar em uma piscina: quanto mais fundo você vai, mais água existe entre você e a atmosfera.
No caso das observações é o oposto, queremos subir bastante para ter a menor quantidade de ar entre os telescópios e o Universo. Outro fator importante é a poluição luminosa, tanto artificial quanto natural. Na hora das observações, o que manda é o escuro total.
Por conta disso, esses telescópios precisam ser posicionados o mais longe possível de civilizações. Um último fator que torna o Chile um dos melhores locais de observação é que com atmosfera seca, existe menos turbulência no caminho que a luz percorre e garantem observações de melhor qualidade.
Locais de observação do ESO no Chile.Fonte: ESO
O ESO tem 3 locais de observação no Chile, La Silla, Paranal and Chajnantor. La Silla foi o primeiro site de observação do ESO, e hospeda dois dos telescópios de 4 metros mais produtivos do mundo. Já Paranal, hospeda o Very Large Telescope (que em português significa "telescópio muito grande", VLT), que é o um dos telescópios com óptica mais avançada atualmente e consiste em 4 unidades com espelhos de 8,2 metros de diâmetro.
Além disso, com auxílio de outros telescópios pequenos, as 4 unidades podem trabalhar juntas, formando um interferômetro com espelho de tamanho virtual de 200 metros! Ou seja, em vez de construir um espelho de 200 metros, que é um desafio com limitações físicas, ao unir vários telescópios menores podemos ter a mesma capacidade de resolução.
Por último, Chajnantor hospeda os arrays ALMA e APEX, dois conjuntos de antenas que observam nos comprimentos de onda na faixa do milímetro e submilímetro com a melhor precisão do mundo.
Ilustração artística do telescópio em construção ELT.Fonte: ESO
Par finalizar, o ESO está construindo os "maiores olhos da Terra", o Extremely Large Telescope (telescópio extremamente grande, em português, ELT). Quando pronto, o ELT será um telescópio com um espelho de 39 metros de diâmetro. Portanto, o maior espelho construído para observar nas faixas do óptico e infravermelho próximo.
Brasil como primeiro membro não europeu da ESO
Em 2010, com a ascensão da ciência e astronomia no Brasil, este foi o primeiro país não europeu a ser convidado a participar da ESO como membro. Como parte do acordo, o país pode desfrutar dos benefícios da colaboração de igual para igual a outros países membros, isso inclui, por exemplo, ter as indústrias brasileiras envolvidas nas construções de telescópios e astrônomos brasileiros com prioridade em tempo de observação.
No ano de 2015 o acordo foi aprovado no congresso nacional brasileiro, em 14 de maio. Entretanto, o Brasil nunca concluiu sua parte do acordo. Com as instabilidades políticas que se seguiram no país, a colaboração europeia decidiu suspender o convite ao Brasil em 2018.
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