*Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Na última segunda-feira, dia 15 de agosto, a comunidade astronômica celebrou os 45 anos de um dos maiores e mais intrigantes mistérios científicos do século passado: o sinal Wow!
Como poucas perguntas na história da humanidade mexem tanto com o imaginário coletivo quanto “estamos sozinhos no Universo?”, o sinal Wow!, como ficou conhecido, atiçou a curiosidade mesmo dos mais céticos quanto à possibilidade de origem alienígena.
Essa história começa na década de 50, quando a era dos radiotelescópios estava em franca expansão e a ideia de buscar por sinais de civilizações fora da Terra começava a ganhar impulso, o que fez com que esses dois fatos se interceptassem em uma atividade comum.
No Universo, ondas de rádio são geradas por partículas aceleradas de fontes naturais como estrelas muito brilhantes, planetas, nebulosas, pulsares, quasares e até mesmo buracos negros. Na Terra, as ondas de rádio são mais comuns de serem originadas por fontes artificiais, como torres de rádio e telefonia celular.
Representação artística da emissão de jatos no comprimento das ondas de rádio de um quasarFonte: ESO
Muitas observações com radiotelescópios se concentram em uma região muito específica do espectro de rádio que é compreendida pelo comprimento de onda de 21,106 cm e uma frequência de 1420,406 Mhz. A um primeiro olhar, esses valores parecem arbitrários, mas essa região é emitida por átomos de hidrogênio: o elemento mais comum no Universo.
Devido a esse fato, há um bom recurso lógico em supor que, se uma civilização inteligente dentro de nossa galáxia da Via Láctea quisesse se comunicar, poderia transmitir um forte sinal na mesma frequência (ou em uma frequência próxima) dessa região, chamada de linha de hidrogênio.
A busca, então, estava prestes a começar. Em 1956, começou a construção de um grande radiotelescópio: o Observatório de Rádio da Universidade Estadual de Ohio, apelidado carinhosamente de “Big Ear” (Grande Orelha).
Radiotelescópio Big Ear, na Universidade de Ohio.Fonte: Smithsonian Magazine
Do tamanho de três campos de futebol, o Big Ear era o equivalente a um telescópio parabólico de 52,5 metros de diâmetro. Coberto com lâminas de alumínio, um refletor plano e inclinável se ajustava a altitude acima do horizonte e captava sinais de rádio em uma extremidade, enquanto um refletor parabólico na outra extremidade focalizava o feixe.
O telescópio permaneceu estacionário e usava a própria rotação da Terra para escanear um caminho circular estreito no céu, dia após dia, de modo que cada pedaço do céu ficou à vista por somente 72 segundos.
No ano de 1973 o Big Ear foi designado em tempo integral para o programa SETI (Search for ExtraTerrestrial Intelligence) que tem por objetivo a busca por vida inteligente no Cosmos e, 4 anos mais tarde, o sinal Wow! foi detectado por entre suas observações.
No dia 15 de agosto de 1977, o astrônomo estadunidense Jerry R. Ehman estava trabalhando como voluntário no projeto SETI fazendo a análise manual e rotineira do grande volume de observações no computador IBM 1130 quando, enquanto examinava os dados coletados em 15 de agosto, ele detectou uma série de valores de intensidade e frequência do sinal que deixaram ele e seus colegas atônitos!
Sinal Wow!Fonte: Big Ear Radio Observatory.
Jerry rapidamente circulou a indicação do sinal na folha impressa e rabiscou a exclamação "Wow!" em sua margem. Tratava-se de um sinal forte que tinha origem próxima a M55, um aglomerado globular de estrelas na constelação de Sagitário.
A intensidade e as características físicas do sinal não apresentavam nenhum indício de que tivesse sido originado por meio de uma fonte natural no Universo, o que aumentou a expectativa de que sua origem pudesse ser inteligente e elevou o sinal à categoria de melhor candidato à sinal alienígena já descoberto.
Ao longo dos anos seguintes, diversas tentativas de registrar novamente o sinal foram feitas por vários radiotelescópios ao redor do planeta, mas nenhum deles teve sucesso: o sinal nunca foi detectado novamente.
Por essa razão, diversas hipóteses com base em fontes naturais têm sido levantadas pelos astrônomos para explicar a detecção, desde a sugestão de que o sinal veio de uma nuvem de hidrogênio em torno de dois cometas até estrelas brilhantes que estavam perto do local no céu.
Constelação de Sagitário no céu; região de onde o sinal Wow! possivelmente se originou.Fonte: Wikimedia Commons
Infelizmente, a não ser que o sinal possa ser detectado novamente, talvez nós nunca saibamos a verdadeira origem do sinal Wow! e, mesmo sendo sugestivo (e até mesmo apelativo para a nossa imaginação) de que sua origem seja inteligente, nada pode ser dito além disso.
Seja como for, nós continuamos olhando para as estrelas.
Nícolas Oliveira, colunista do TecMundo, é licenciado em Física e mestre em Astrofísica. É professor e atualmente faz doutorado no Observatório Nacional, trabalhando com aglomerados de galáxias. Tem experiência com Ensino de Física e Astronomia e com pesquisa em Astrofísica Extragaláctica e Cosmologia. Atua como divulgador e comunicador científico, buscando a popularização e a democratização da ciência. Nícolas está presente nas redes sociais como @nicooliveira_.
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