*Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
O fascínio pelas estrelas existe desde os primórdios de nossa espécie. Era coisa óbvia para nossos antepassados que as mudanças e movimentos que ocorriam periodicamente no céu noturno tinham relação direta com acontecimentos terrenos. Tais movimentos indicavam quando manadas de animais para caça iriam migrar de um lugar para outro, quando iria ficar frio, calor ou mesmo quando determinadas plantas iriam dar frutos que fossem comestíveis.
A astronomia é uma das ciências mais antigasFonte: Shutterstock
Para um ser humano de dezenas de milhares de anos atrás, saber reconhecer esses padrões nas estrelas era essencial. Quando os padrões repetitivos no movimento das estrelas eram quebrados por um fenômeno como um cometa, por exemplo, diversas culturas associavam tal fenômeno com maus presságios, como más colheitas, pestes, epidemias, conflitos sociais, guerras, ou mortes de reis e príncipes.
Disso, podemos entender que, em sociedades que não possuem maneiras para explicar fenômenos, sejam eles relacionados ao movimento de cometas pelo espaço ou relacionados à vivência cotidiana, invariavelmente a explicação adotada é voltada ao místico ou ao sobrenatural. No século XVII, por exemplo, um cometa apareceu no ano de 1665 e foi diretamente relacionado com um grande incêndio que destruiu Londres, a capital britânica, no ano seguinte. Hoje sabemos que os cometas vêm de uma região remota do sistema solar chamada de Nuvem de Oort, prevista pelo astrônomo holandês Jan Oort no começo do século XX.
O cometa de 1665 foi um dos últimos que foram ligados a acontecimentos ruins já que pouco tempo depois, Isaac Newton publicou sua obra-prima, Principia, que continha, entre diversas outras contribuições para a Ciência, a Lei da Gravitação Universal, que explicava matematicamente o movimento dos astros.
Foi amparado pelas contribuições de Newton que Edmond Halley, cientista britânico que dá nome ao famoso cometa, previu corretamente que este retornaria no ano de 1758, anos depois de sua morte. E caso esteja lendo isso em 2061, provavelmente você sabe que o cometa deve estar de volta. Tal poder de previsão sobre coisas que aconteceriam muitos anos no futuro é algo que nenhum profeta sequer imaginaria.
Já nas civilizações americanas originais, também existia o hábito de se observar as estrelas para medir o tempo e prever as mudanças no ambiente. Os Maias, civilização que viveu no sudeste mexicano e na América Central, possuíam um calendário de 260 dias, que previa o movimento do Sol, da Lua e de outros planetas com a melhor precisão do mundo à época.
Modelo de calendário utilizado pela civilização Maia.Fonte: Shutterstock
Infelizmente, boa parte dos registros e da cultura Maia foi destruída na invasão espanhola sob o pretexto da colonização e da catequização dos povos nativos americanos. Mas, uma reportagem publicada pela revista Science, mostra que arqueólogos e descendentes desses povos têm trabalhado em conjunto para restaurar, da melhor forma possível tais conhecimentos.
Na atualidade, até mesmo por ausência de necessidade, o costume de se observar o céu se perdeu, apesar de ainda existir um fascínio por fenômenos como eclipses ou cometas ainda bastante presente em nossa sociedade. De uma forma ou de outra, é interessante pensar que, quer gostemos desse assunto ou não, somos todos descendentes de astrônomos.
Rodolfo Lima Barros Souza, professor de Física e colunista do TecMundo. É licenciado em Física e mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Unicamp na área de Percepção Pública da Ciência. Está presente nas redes sociais como @rodolfo.sou
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