Cansaço, tosse persistente, dificuldade para respirar, perda de olfato ou paladar e dores de cabeça. Esses sintomas podem não ser estranhos para quem teve covid-19. Agora, um novo estudo mostrou que metade dos pacientes que tiveram a doença conviveram por meses com a forma prolongada da infecção.
Ao todos, os pesquisadores identificaram 23 sintomas da doença batizada de covid longa. O trabalho ajuda a compreender um pouco mais sobre esse problema de saúde ainda pouco conhecido pelos cientistas
Os sintomas da covid-19 podem persistir por meses em metade dos pacientes (Fonte: Shutterstock)Fonte: Shutterstock
Os pesquisadores do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas) acompanharam mais de 600 pacientes por 14 meses e puderam avaliar a doença a longo prazo. Os voluntários tinham idades entre 18 e 91 anos, divididos entre homens e mulheres.
Eles foram atendidos no pronto-socorro do Hospital da Baleia e do Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro, ambos em Belo Horizonte, entre abril de 2020 e março de 2021. O monitoramento foi feito por entrevistas mensais presenciais ou virtuais.
Dentre eles, uma minoria declarou possuir comorbidades pré-existentes, sendo as mais comuns hipertensão, diabetes e doenças de fígado. Metade dos casos estudados foram infecções leves, enquanto os demais sofreram com sintomas moderados ou graves.
A maioria dos participantes com covid-19 não havia completado o esquema vacinal (Fonte: Shutterstock)Fonte: Shutterstock
Os pesquisadores relatam que quase todos os infectados não haviam recebido o esquema vacinal completo contra a doença. Apenas cinco participantes, com idades entre 44 e 65 anos, tomaram todas as doses devidas dos imunizantes e foram infectados.
Sintomas pós-infecção por coronavírus
Eles observaram que metade dos participantes sofreram sintomas pós-infecção. As faixas etárias mais afetadas foram adultos de 41 a 60 anos, seguidos daqueles com idades entre 20 e 40. Em geral as mulheres relataram mais problemas de saúde persistente.
Nesse estudo, os cientistas conseguiram identificar os 23 sintomas mais comuns da covid longa. A fadiga, ou cansaço prolongado, foi o mais comum, e acometeu 35% dos pacientes. Em alguns casos, foi recorrente por mais de um ano depois da infecção.
Em seguida a tosse persistente e a Dispneia, ou dificuldade para respirar, aparecem nos relatos de 34% e 26% dos pacientes, respectivamente. A perda de olfato e paladar, sintomas marcantes da covid-19, também duraram por meses para alguns participantes.
Os 23 sintomas identificados nas pesquisas foram, em ordem do mais recorrente ao mais raro:
- Fadiga;
- Tosse persistente;
- Dispneia;
- Perda de olfato ou paladar;
- Dor de cabeça;
- Mialgia;
- Dor no corpo;
- Olhos vermelhos;
- Insônia;
- Mudança na pressão sanguínea;
- Ansiedade;
- Diarreia;
- Dores nas articulações;
- Trombose;
- Dor no peito;
- Vertigem, tontura;
- Baixa mobilidade;
- Manchas vermelhas na pele;
- Muco na garganta ou no nariz;
- Coriza;
- Taquicardia;
- Perda de apetite;
- Dor de garganta;
Chama a atenção também a recorrência de problema mentais, como insônia, ansiedade, vertigem ou tontura, sintomas que chegaram a durar por até 11 meses após casos de infecção aguda por coronavírus.
Sintomas mentais, como insônia, foram recorrentes em muitos pacientes (Fonte: Shutterstock)Fonte: Shutterstock
O estudo também mostra que os sintomas podem persistir independente da gravidade da infecção, seja ela leve, moderada ou grave. Isso revela a necessidade de prevenção contra a doença, porque até mesmo pacientes assintomáticos sofreram com a condição.
A pesquisadora Rafaella Fortini, coordenadora do estudo, diz em nota que “temos casos de pessoas que continuam sendo monitoradas, pois os sintomas permaneceram para além dos 14 meses."
Sete comorbidades que levam a infecções mais graves também favoreceram a persistência das sequelas. São elas hipertensão arterial crônica, diabetes, cardiopatias, câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal crônica, tabagismo e alcoolismo.
Algumas comorbidades favoreceram a a persistência das sequelas, como doenças pulmonares (Fonte: Shutterstock)Fonte: Shutterstock
Fortini diz que os resultados do trabalho ajudam a comunidade a entender melhor os efeitos da covid longa, uma doença complexa e que ainda não tem tratamento adequado. Segundo ela, ainda existem perguntas sem respostas.
"Ainda há muito o que se conhecer: por que acontece? De que forma ela age no organismo? As respostas para esses questionamentos vão nos permitir entender os efeitos da doença e dar condições de resolver essas sequelas de maneira adequada”, afirma.
Além disso, ela alerta para que a população busque os serviços de saúde locais para tratar o problema, já que existe a tendência de as sequelas menos graves serem ignoradas. "É fundamental buscar ajuda médica para as outras questões, pois elas também podem interferir na qualidade de vida", conclui.
ARTIGO Transactions of The Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene: doi.org/10.1093/trstmh/trac030
Fontes
Categorias