*Este texto foi escrito por uma colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Há 30 anos estávamos confirmando a descoberta do primeiro planeta fora do Sistema Solar. E esse planeta era um tanto diferenciado, porque ele não estava orbitando uma estrela viva, mas sim uma remanescente, um pulsar. São chamados de remanescentes todos os objetos que restam após o processo de morte de uma estrela, como anãs brancas, buracos negros e estrelas de Nêutron.
No caso dos pulares, eles são uma categoria de estrelas de Nêutron. Depois de séculos que a humanidade conhecia (até então) apenas 9 planetas e todos dentro do Sistema Solar, estávamos descobrindo um exoplaneta orbitando o que restou de uma estrela gigante.
A história do conhecimento humano, a partir daí, foi outra. Com cada detecção nova, a possibilidade de existir vida em outros locais além da Terra foi aos poucos deixando de ser ideia de ficção cientifica hollywoodiana e tornando-se uma das maiores expectativas da comunidade astronômica. A pergunta não é mais "será que existe vida fora da Terra" mas sim "quando vamos detectar vida fora da Terra?"
E parece que estamos cada vez mais perto. 30 anos mais tarde, já ultrapassamos a detecção de 5.000 exoplanetas. Pode parecer um número grande, mas ainda é uma fração muito pequena da nossa Galáxia que conseguimos cobrir com observações profundas o suficiente. No final do video abaixo do Laboratório Jet-Propulsion (NASA), conseguimos ver a pequena fração que conhecemos da nossa vizinhança estelar.
A detecção de exoplanetas não é simples. Existem diferentes métodos que privilegiam a descoberta de diferentes tipos de planetas. Por exemplo, planetas maiores e mais próximos de suas estrelas hospedeiras são mais fáceis de serem descobertos em vários métodos.
Um método de detecção é chamado de transito planetário. Esse evento depende do ponto de vista do observador, no caso a Terra, e a geometria do planeta. Simplificadamente, o planeta precisa passar na frente da sua estrela, diminuindo seu brilho temporariamente. A dificuldade vem com dois fatores: primeiro, precisamos observar ao menos 3 quedas de brilho para confirmar o planeta, dessa forma estabelecendo o tempo que esse leva para orbitar sua estrela; segundo, alguns períodos orbitais podem levar anos.
Imagine que uma astrônoma alienígena está tentando detectar a Terra a uma grande distancia. Essa observadora precisaria acompanhar o brilho da estrela por 3 anos, quase todas as noites. Estrela a estrela. Dessa forma, a detecção de exoplanetas levaria muitos anos. Ainda mais exoplanetas mais distantes de suas estrelas hospedeiras.
Por conta desse e de outros fatores, a detecção de exoplanetas no início das detecções levavam muito mais tempo. Essas 5.000 descobertas não aconteceram de forma uniforme nos últimos 30 anos. De fato, com eventos como o lançamento de satélites como o Kepler, o número de exoplanetas detectados disparou! Isso porque o Kepler, por exemplo, monitora o brilho de várias estrelas simultaneamente! Facilitando em muito a detecção desses outros mundos.
A história da descoberta de exoplanetas é fascinante e mudou a forma como vemos o Universo. Descobrimos planetas gigantes, como Júpiter, orbitando suas estrelas a uma proximidade de Mercúrio! Descobrimos sistemas planetários complexos, como Trappist-1, com 7 planetas! Descobrimos que a estrela mais próxima do Sol, próxima-Centauri, também possui planetas! Descobrimos planetas orbitando estrelas a uma distância com potencial de habitar vida!
E estamos apenas começando. Instrumentos como o James Webb Space Telescope (JWST) prometem possibilitar que estudemos a composição química desses exoplanetas!
Para finalizar, podemos ouvir como essas descobertas evoluíram com o tempo. No video abaixo temos o projeto de sonificação das detecções dos exoplanetas. A cada detecção temos uma nota musical, e o tom da nota musical está relacionado com o período orbital: notas mais agudas indicam orbitas mais curtas, e notas mais graves indicam orbitas mais longas.
Para saber mais detalhes desses 5000 exoplanetas, como o tipo, período orbital, tipo estelar e muito mais, acesse o site da NASA!
Camila de Sá Freitas, colunista do TecMundo, é bacharel e mestre em astronomia. Atualmente é doutoranda no Observatório Europeu do Sul (Alemanha). Autointulada Legista de Galáxias, investiga cenários evolutivos para galáxias e possíveis alterações na fabricação de estrelas. Está presente nas redes sociais como @astronomacamila.
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