Os últimos meses foram marcados por grandes erupções vulcânicas pelo mundo, como a de La Palma (Espanha), a do Havaí (Estados Unidos) e a de Tonga (no Pacífico). Para a nossa sorte, o Brasil está fora do mapa de risco desses eventos da natureza, mas não foi sempre assim. Nosso país já teve atividade vulcânica, há milhares de anos. Com o tempo, não restou nenhum dos antigos cones tão característicos, mas ainda existem rastros dessa parte da nossa história.
Vulcões são cones formados pela erupção de magma do interior da Terra na forma de lava. (Fonte: Unplash/Piermanuele Sberni)Fonte: Unplash
A atividade vulcânica consiste na erupção de rocha derretida do interior da Terra — o magma — para a atmosfera. Quando chega à superfície, esse material fervente recebe o nome de lava. No processo, são formados os vulcões, a maioria com o característico formato cônico.
O estudo deles faz parte da Geologia, área da Ciência que pesquisa a formação do nosso planeta. O conhecimento desse campo de estudo pode ser muito útil e explica que os vulcões são consequência de dois fenômenos diferentes: o tectonismo e a ocorrência de pontos quentes.
Os últimos são zonas de anomalia da crosta terrestre e, nessas regiões, existem tanto fenômenos irregulares quanto magma, que fica no interior do manto e forma uma coluna ascendente de lava, gerando erupções na maioria das vezes mais fracas.
Pontos quentes são responsáveis pela formação de arquipélagos famosos como o Havaí ou as Ilhas Canárias. (Fonte: Unplash/Zinah Insignia)Fonte: Unplash
Já os vulcões gerados pelo movimento das placas tectônicas são mais violentos. Eles estão nas regiões de encontro desses grandes pedaços de crosta. Esses lugares são de muita instabilidade, como o Círculo de Fogo do Pacífico, em torno de toda a placa do Pacífico e de Nazca.
Apesar de toda a destruição que uma erupção vulcânica provoca, ela também cumpre um papel muito importante, pois é graças a essa atividade que a superfície terrestre se formou e continua se renovando.
Tectonismo na América do Sul
Quem vê hoje o vasto território nacional descansando tranquilamente sobre a Placa Tectônica Sul-Americana, não imagina que as terras daqui já tiveram um passado mais agitado. É que hoje, a área que constitui o Brasil está localizada muito mais no centro da placa.
Como está afastado das regiões de fronteira, ficamos livres dessa ameaça. Já os nossos vizinhos não têm tanta sorte. Na costa oeste do continente sul-americano, nossa placa tectônica encontra outra, a de Nazca.
O choque entre ambas formou a Cordilheira dos Andes há milhares de anos e continua em atividade ainda hoje. Por isso países como o Chile registram terremotos com frequência.
Passado remoto do Brasil
A superfície onde hoje está o Brasil foi formada há muito tempo. O processo foi longo e terminou com a criação do supercontinente Gondwana. Nessa fase, praticamente toda a terra onde vivemos hoje já estava acima do nível do mar.
A título de curiosidade, o nosso país tem o vulcão mais antigo do mundo já descoberto, formado muito antes desse tempo. Ele tem 1,89 bilhões de ano e se localiza em uma das primeiras porções de terra do nosso país que se formou, na Região Amazônica.
No local, que hoje está entre os Rios Tapajós e Jamanxim, houve antigamente um vulcão com cerca de 400 metros de altura, mas esse cone não existe mais, assim como muitos outros que tivemos por aqui, como veremos a seguir.
Formação do Atlântico Sul
Um dos últimos grandes fenômenos geológicos que o Brasil participou foi durante a quebra de Gondwana. Conforme as Placas Africana e Sul-Americana se afastavam, surgia um pequeno mar entre elas, que viria a ser o Oceano Atlântico.
Evidências paleontológicas fornecem registros interessantíssimos dessa fase. A costa brasileira sofreu especialmente nesse tempo, pois as terras daqui experimentaram terremotos constantes e intensa atividade vulcânica. E as consequências desse evento geológico podem ser vistas ainda hoje. Quem visita às Cataratas do Iguaçu nota que elas são formadas por degraus. Cada um deles é o resultado do derramamento de um fluxo de lava solidificada, expelido por um vulcão antigo já extinto.
Os degraus das Cataratas do Iguaçu foram formados por derramamentos de lava. (Fonte: Unplash/Alexander Schimmeck)Fonte: Unplash
Mas se houve atividade vulcânica tão intensa no Brasil, por que hoje não vemos cones espalhados ao longo do país? Porque atualmente sobraram apenas os resquícios deles, e a culpa disso é do intemperismo.
Como o vulcanismo aqui é muito antigo, houve tempo o suficiente para que essas estruturas sofressem erosão. Pouco a pouco o ar, a água e outros fenômenos foram arrastando a terra e as pedras que formavam esses cones, então hoje eles não existem mais.
Rastros do passado
Durante a separação do Gondwana, na era Mesozoica, a atividade vulcânica foi mais intensa na costa do sul e sudeste brasileiros. As evidências desses fenômenos são mais fáceis de serem identificadas, mas podem não ser exatamente como se espera.
A Serra do Mar, na costa dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, tem partes formadas por câmaras magmáticas solidificadas, que são feitas do material que ficava em um bolsão de magma sob o vulcão antes da explosão e acabaram não sendo expelidos, solidificando-se.
Como esses bolsões são bem duros, as câmaras sofrem menos com a ação do intemperismo. Já o material que estava em volta foi varrido pelo tempo, deixando as rochas expostas no formato de montanhas.
A paisagem da Serra do Mar foi formada pela intensa atividade vulcânica da região no passado. (Fonte: Wikimedia Commons/w. candido)Fonte: Wikimedia
Outra evidência do vulcanismo dessa época é a terra roxa. Esta tem origem na decomposição de rochas expelidas por vulcões. O Brasil é rico nesse material, que é encontrado no Paraná, em São Paulo, em Minas Gerais e no Mato Grosso do Sul, porque a separação de Gondwana levou a um dos maiores derramamentos vulcânicos da história da Terra.
Devemos olhar além
Se queremos encontrar evidências mais recentes ainda de vulcanismo no Brasil, devemos olhar além da parte continental do país — é que as ilhas oceânicas do nosso país carregam esse pedaço da nossa história.
Dois pontos quentes estão localizados na região marítima do país e são responsáveis pela formação geológicas das ilhas e arquipélagos do nosso litoral. Desse modo, as ilhas Trindade e Martin Vaz, no litoral do Espírito Santo, são formadas por um deles. Em Trindade, o extinto vulcão Paredão tem 200 mil anos apenas. Pela sua pouca idade, parte do cone vulcânico se mantém conservado ainda hoje.
O outro ponto deu origem ao famoso arquipélago Fernando de Noronha. Junto das ilhas São Pedro, São Paulo e do Atol das Rocas, ele se formou há 12 milhões de anos. A superfície dessas ilhas é apenas o topo de um antigo cume vulcânico que chega até 4 mil metros de profundidade.
A superfície do planeta Terra é muito dinâmica, e a atividade vulcânica é uma das evidências de que nosso mundo está sempre em movimento. Mesmo que hoje não haja vulcões ativos no Brasil, no passado isso foi muito diferente. E nada impede que no futuro tudo possa mudar de novo.
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