Um estudo publicado segunda (7) na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical indica que o Brasil precisa avançar no combate a doenças crônicas não transmissíveis, como cânceres, diabetes e patologias cardiovasculares.
Pesquisadores analisaram dados de 1990 a 2019 e concluíram que foi um período de avanços e retrocessos. Diminuíram as dietas pobres em frutas e vegetais, e o tabagismo, importante fator de risco, caiu pela metade; ao mesmo tempo, aumentaram o uso abusivo de álcool (41%) e o consumo excessivo de carne vermelha (61%).
Índices metabólicos relevantes, como Índice de Massa Corpórea (IMC), hiperglicemia e disfunção renal, também pioraram nas últimas décadas.
A adoção de uma alimentação com mais grãos e vegetais ajuda a prevenir doenças crônicas (crédito: Shutterstock)
Doenças crônicas não transmissíveis representam um desafio para a saúde pública. Em 2019, levaram a 73,6% dos óbitos mundiais e a mais da metade das mortes de brasileiros, incluindo 300 mil prematuras (antes dos 70 anos).
O risco de morte pode ser reduzido com mudanças em hábitos cotidianos da população, historicamente influenciados por políticas públicas. Em entrevista à Agência Bori, uma das autoras do estudo, Deborah Carvalho Malta, afirma que a redução do tabagismo é resultado de medidas bem-sucedidas do passado, e que hoje são necessários mais investimentos.
“O Estado deve manter medidas regulatórias e incentivar políticas de redução de desigualdades. Estamos vendo uma explosão de alimentos ultraprocessados de baixo custo, ao mesmo tempo que a população ganha menos e não consegue comprar alimentos saudáveis”, afirma Malta.
Necessidade de ação para atingir ODS
Os pesquisadores apontam que o Brasil precisa de maior investimento em prevenção a doenças não transmissíveis para atingir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da OMS, que visa reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis via prevenção e tratamento até 2030.
Segundo a OMS, países de baixa e média renda concentram três quartos de todas as mortes decorrentes destas doenças. Com o aumento da desigualdade social, o problema tende a se tornar mais intenso no Brasil.
Malta destaca a alta frequência de doenças crônicas e fatores de risco na população de baixa renda: “A piora das condições de vida, a redução da renda e do emprego, resulta em menor poder de compra de alimentos saudáveis, aumento do consumo de ultraprocessados, aumento da obesidade, além do aumento do álcool, tabaco, estresse, tornando as pessoas mais propensas a desenvolver mais doenças crônicas. Tudo está muito interligado. Precisamos continuar monitorando os fatores de risco e priorizar políticas públicas saudáveis", explica a pesquisadora.