O ano de 2022 marca o início da Década das Línguas Indígenas, instituída pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Nesse período, ações no mundo inteiro serão realizadas para o reconhecimento, a valorização e a manutenção das línguas indígenas. No entanto, alertam os pesquisadores de um estudo inédito, pode ser que até o final deste século, pelo menos 1,5 mil línguas ameaçadas de extinção deixem de ser faladas.
Liderada pela Universidade Nacional da Austrália (ANU), de Camberra, a pesquisa conseguiu identificar 51 estressores em línguas ameaçadas de extinção. Para a coautora do estudo, professora Lindell Bromham, cerca de metade das 7 mil línguas conhecidas no mundo correm o risco de desaparecer. Ela prevê que, sem uma intervenção imediata, essa perda de linguagem poderia triplicar nos próximos 40 anos.
Publicado na revista Nature Ecology and Evolution no dia 16 de dezembro, o estudo usou gráficos para avaliar séries de fatores que colocaram pressão sobre línguas já ameaçadas de extinção. "Embora cada idioma esteja sujeito a pressões sociais, demográficas e políticas específicas, também pode haver processos de ameaça comuns", e são esses últimos que o estudo analisou.
Professora Lindell Bromham e dra. Xia Hua, coautoras da pesquisa sobre línguas ameaçadas (Fonte: Jamie Kidston/ANU/Divulgação)Fonte: Jamie Kidston/ANU
Perigos para a diversidade linguística: metodologia e intervenções
Para comprovar sua hipótese de que o contato com outras línguas não é por si só um impulsionador de perda de linguagem, os pesquisadores analisaram 6.511 línguas faladas, com 51 variáveis preditoras. Esses elementos envolveram aspectos relacionados à população, documentação, reconhecimento legal, política educacional, indicadores socioeconômicos e características ambientais.
Entre esses preditores, alguns surpreenderam, como a chamada "densidade da estrada". Bromham explica que "quanto mais estradas houver, conectando o país à cidade, e vilas às cidades, maior o risco de as línguas serem ameaçadas".
Para evitar essa perda iminente de mais de 1,5 mil linguagens até o final do século, "é necessário um investimento urgente em documentação linguística, programas de educação bilíngue e outros respaldados pela comunidade", conclui o estudo.
ARTIGO Nature Ecology & Evolution: doi.org/10.1038/s41559-021-01604-y