Proteínas do coronavírus foram enviadas para a Estação Espacial Internacional (ISS). Pesquisadores brasileiro querem tentar cristalizar o material usando as condições favoráveis do espaço, para poderem desvendar com precisão a sua estrutura.
Transportado pela espaçonave Dragon, a bordo do Falcon 9 da SpaceX, as proteínas decolaram nesta terça-feira. Elas serão estudadas no módulo japonês Kibo, em colaboração com a agência espacial do Japão, Jaxa.
Proteínas do coronavírus foram enviadas para a Estação Espacial InternacionalFonte: Shutterstock
A iniciativa é da Cimed, empresa farmacêutica brasileira, terceira maior fabricante de genéricos no país. O experimento será feito em parceria com a companhia de logística Airvantis e o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações.
Lucas Fonseca, CEO da Airvantis, comentou sobre o projeto no twiter:
Por que uma empresa farmacêutica brasileira está indo para o espaço? Hoje estamos anunciando formalmente a parceria da Airvantis com a Cimed, empresa que vai fazer investimento milionários para acessar a Estação Espacial e além. Segue o fio pic.twitter.com/V47K4MPuyW
— Lucas Fonseca (@Lucas_M_Fonseca) December 6, 2021
Experimentos no espaço
Daniela Trivella, pesquisadora do CNPEM, afirmou para o portal de notícias UOL que a principal vantagem do projeto será realizar estudos em microgravidade. Segundo ela, a gravidade da Terra interfere na formação dos cristais de proteínas. Espera-se, portanto, que a qualidade da cristalização seja maior na estação espacial.
No experimento, a amostra é colocada em um tubo finíssimo, como um fio de cabelo. Esse recipiente é acoplado a um equipamento que permite o pesquisador misturas uma solução cristalizante, ou seja, que favoreça o processo.
Os cristais formados serão enviados de volta ao Brasil depois disso. Eles devem demorar mais de três meses para chegar, ainda que o experimento demore apenas poucas horas. É que o transporte depende de disponibilidade de um veículo. No caso, um foguete espacial.
De volta ao Brasil
Em terras brasileiras, as amostras serão analisadas no acelerador de partículas Sirius, em Campinas (SP). Os pesquisadores querem gerar imagens tridimensionais com resolução atômica do material, e por isso é necessário que ele esteja perfeitamente cristalizado.
A intenção é que seja possível estudar com mais precisão as proteínas do coronavírus. Se os cientistas puderem compreender melhor a estrutura dessas moléculas, poderão desvendar os mecanismos de ação do próprio coronavírus.
Daniela conta que o experimento no Sirius também é bem rápido. "Demora menos de três minutos", diz. O processo mais demorado vem em seguida. Será necessário processar e validar os dados obtidos e reconstruir a estrutura da proteína. Só então será possível começar a estudá-la.
Ciência cósmica
A pesquisa de proteína do Sars-Cov-2 no espeço é inédita, mas não é uma novidade. Foi na década de 1980, há 40 anos, que os primeiros experimentos de cristalização em microgravidade foram realizados. Para isso, primeiro foram utilizados foguetes e, depois, ônibus espaciais.
A EEI possui laboratórios para cristalização, e há diversos casos de sucesso do uso dessa tecnologia. Inclusive várias pesquisas promissoras estão em curso lá, que podem promover avanços na inibição de bactérias, no monitoramento de doenças hepáticas e cardíacas e até no tratamento do câncer de mama.
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Devido a todo o potencial, a Cimed anunciou que pretende continuar investindo em pesquisas espaciais, ainda que essa não dê resultados positivos. Eles pretendem destinar 300 milhões de reais para futuros experimentos.
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