*Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Se você assistiu ao filme "Homem Aranha 2", sucesso de bilheteria que arrecadou mais de 750 milhões de dólares em 2004, deve se lembrar que o principal objetivo do vilão, Doutor Octopus, era criar uma tecnologia que o permitisse controlar uma forma de energia semelhante à do Sol. No filme, a máquina desenvolvida não funcionava e colocava a cidade em risco, o que obrigou o Homem Aranha a intervir.
A ideia de controlar a forma de energia do Sol não é nada nova. Desde os anos 1950 cientistas tentam reproduzir a chamada fusão nuclear, processo responsável pela energia produzida pelas estrelas e que exige quantidades enormes de calor e pressão para juntar núcleos de átomos de Hidrogênio e produzir Hélio. Esse processo faz com que o Sol libere mais energia a cada segundo do que somos capazes de consumir em um ano inteiro. Portanto, não é surpresa que seja de enorme interesse reproduzi-lo de forma autossustentável mesmo que, obviamente, em menor escala.
Reator nuclear do filme Homem Aranha 2 (2004)Fonte: Reprodução/Sony Pictures (2004)
Um ano após o lançamento do filme, por coincidência ou não, teve início o projeto ITER, sediado no sul da França e financiado por 35 países com objetivo de atingir e controlar a fusão nuclear. Esse projeto deve começar a ser testado em 2025 e dificilmente produzirá energia antes de 2050, mas outros países e muitas empresas têm investido paralelamente nessa tecnologia para acelerar esses prazos e os avanços têm até empolgado alguns especialistas.
O problema aqui é que temos uma enorme urgência por formas limpas e renováveis de energia. Além disso, a evolução de tecnologias já existentes pode acabar fazendo com que a fusão nuclear fique fora dos planos, apesar de apresentar vantagens como a de possuir matéria prima (hidrogênio) virtualmente inesgotável e da pequena necessidade de espaço físico, ao contrário das placas solares e das torres de energia eólica, por exemplo.
Importante mesmo é continuar produzindo, pesquisando e avançando em tecnologias limpas para a produção de energia visando diminuir, tanto quanto for possível, o efeito das mudanças climáticas. É importante ressaltar que, ao contrário do que vemos em muitas notícias falsas e interpretações enganosas, a alteração do clima causada pela humanidade já não é mais motivo de debate no meio científico. E seus efeitos, se não forem mitigados, podem representar inúmeros riscos para a vida na Terra como a conhecemos.
Turbinas para produção de energia eólica (créditos: engel.ac/Shutterstock)
O último relatório especial do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) deixa muito clara a importância de zerarmos as emissões de carbono até a metade do século (2050) para limitar o aquecimento do planeta em 1,5 oC, evitando assim consequências diversas que podem ir desde a perda de espécies até um aumento na frequência de enchentes e secas, passando por uma possível acidificação da água do mar.
Já é possível observarmos eventos climáticos extremos com frequência cada vez maior. Para citar alguns exemplos, temos as ondas de frio intenso que ocorreram em Chicago em 2019, as ondas de calor que atingiram Canadá e Estados Unidos em julho de 2021 e períodos de seca, como o que enfrentamos no Brasil atual, que deixam os reservatórios de água e a produção de energia hidrelétrica ameaçados.
Neste ano, entre 31 de outubro e 12 de novembro, está ocorrendo a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26). Tal evento reúne líderes de todo o mundo para discutir a aceleração na tomada de decisões que podem ajudar a amenizar os efeitos da crise climática, mobilizar investimentos para a causa e adaptar modelos de negócios para proteger comunidades vulneráveis, espécies e seus habitats naturais.
Falar sobre o tema das mudanças climáticas é complicado por uma série de razões como a falta de interesse e/ou negacionismo por parte de uns e pela grande ansiedade causada em outros por se tratar de um problema aparentemente grande demais e sem solução. Mas estamos em um momento crítico onde é de enorme importância tomar consciência, buscar o máximo possível de informações em fontes confiáveis e diversas (sites oficiais de instituições como o IPCC, universidades e grandes portais de notícias são bons exemplos enquanto as correntes recebidas sem fontes e com argumentos rasos em redes sociais são o oposto). Além disso, é sempre importante conversar com amigos e familiares para manter o debate, e não o planeta, o mais aquecido possível.
Rodolfo Lima Barros Souza, professor de Física e colunista do TecMundo. É licenciado em Física e mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Unicamp na área de Percepção Pública da Ciência. Está presente nas redes sociais como @rodolfo.sou