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Nesta semana, resumimos aqui um dos casos mais escandalosos da pandemia: as acusações de que a Prevent Senior colocou seus pacientes de covid-19 em risco com o uso de remédios e procedimentos inadequados.
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O caso Prevent Senior
A operadora de saúde Prevent Senior é acusada por médicos e ex-pacientes de fazer testes com medicamentos sem a devida autorização, pressionar pelo uso do chamado tratamento precoce - com medicamentos do “kit covid”, como hidroxicloroquina e azitromicina (sem eficácia contra a doença) -, e uso de tratamento paliativo indevido em pacientes que poderiam seguir na UTI e ter mais chances de superar a doença.
Unidade da Prevent Senior em São Paulo (créditos: Felipecbit/Shutterstock)
A empresa também é acusada de fraudar atestados de óbito para retirar a covid-19 como causa da morte.
Na quinta-feira (7), o ex-paciente Tadeu Frederico Andrade, atendido na rede, e o médico Walter Correa de Souza Neto, que trabalhou na empresa, reforçaram as acusações na CPI da Pandemia (ou CPI da Covid-19), que investiga ações do governo federal durante a pandemia. Outros ex-pacientes, familiares de ex-pacientes e médicos vêm engrossando as denúncias contra a operadora.
Para o cardiologista Luis Claudio Correia, diretor do Centro de Medicina Baseada em Evidências da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (Bahiana), as acusações são graves e exigem uma investigação para confirmar os fatos. “Deixou de ser uma questão apenas científica”, diz.
Correia afirma que produzir um atestado de óbito inacurado é um atentado contra a saúde pública por esconder a real causa da morte. O médico explica que mesmo se o paciente morrer dois meses após a fase aguda da infecção pelo SARS-CoV-2 a causa base do óbito ainda pode ser a covid-19.
“Sabemos que muitos pacientes que morrem de covid não morrem nos primeiros 14 dias; eles ficam por muito tempo na UTI e podem ter infecção bacteriana, mesmo depois de terem se recuperado da infecção viral. Isso não quer dizer que a causa da morte não foi a covid, pois se ele não tivesse pegado a doença, não teria morrido”, diz o médico.
Por meio de notas divulgadas pela imprensa, a Prevent Senior nega as acusações e evita comentar os casos revelados por pacientes e médicos.
A fantasia do ‘kit covid’
O consenso científico aponta que a hidroxicloroquina não tem eficácia para combater a covid-19 ou prevenir a doença. Diversos estudos realizados nos últimos meses reforçam o posicionamento.
É bom lembrar aqui que, na ciência, não basta apenas um resultado; o experimento precisa ser repetido para que a chance de erros seja menor, e foi assim que, após diversos estudos, os cientistas concluíram que a hidroxicloroquina não funciona contra o coronavírus.
Paciente de covid-19 recebe tratamento em área isolada (créditos: shutter_o/Shutterstock)
Outros remédios, como a azitromicina (um antibiótico), podem ser usados no ambiente hospitalar quando há uma infecção bacteriana no paciente.
Para Correia, os médicos que prescrevem tais drogas, mesmo após diversos estudos mostrarem a ineficácia dos remédios, estão fazendo medicina baseada em crença.
“O uso dessas medicações fantasiosas não é novidade. Muitas vezes os médicos prescrevem remédios sem comprovação científica, agora só ficou mais aparente com a hidroxicloroquina. As consequências vão além da saúde. Droga mal prescrita causa efeito sistêmico em toda a sociedade” (Luis Claudio Correia, diretor do Centro de Medicina Baseada em Evidências da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública)
Correia diz ver omissão da parte do Conselho Federal de Medicina (CFM), que ainda não se posicionou com clareza sobre o chamado ‘kit covid’. “Passou do limite a omissão do CFM”, afirma o médico.
“Não existe bala de prata em medicina, talvez apenas a vacina chegue perto disso. O que fazemos é um conjunto de ações que pode salvar as pessoas”, conclui o especialista.