Sobre neurogênese e plasticidade neural

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Imagem: ART-ur/Shutterstock

*Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

Durante as primeiras semanas da gestação, o sistema nervoso inicia sua formação. Tal fase é conhecida como neurulação, e pode ser dividida entre primária e secundária. Logo após vem outro momento chamado gastrulação, e este desenvolvimento acontece ao longo da vida, com maior intensidade na infância.

A plasticidade cerebral, ou também conhecida por neuroplasticidade, é uma das responsáveis pela continuação desse desenvolvimento. Uma vez em que diz respeito à capacidade que o sistema nervoso possui de se modificar, tanto de maneira estrutural, quanto funcional, esse movimento pode ocorrer de diversas maneiras, sendo as principais: regenerativa, ontogenética (do nascimento aos 2 anos de idade), sináptica, dendrítica e somática.

Já a maneira regenerativa de plasticidade é definida como a capacidade de um tecido se regenerar após ser danificado ou lesionado. Essa regeneração chamada de neurogênese refere-se à “proliferação neural”. Em outras palavras, isso diz respeito à capacidade das células pertencentes ao sistema nervoso de se regenerar. Ela consiste no recrescimento dos axônios lesados. É mais comum no sistema nervoso periférico.

Criança brincandoCriança brinca com peças (créditos: myboys.me/Shutterstock)

Desde os tempos do famoso histologista espanhol Santiago Ramón y Cajal (1852 – 1934), se sabia que os axônios do sistema nervoso periférico exibiam ampla capacidade regenerativa, tanto morfológica quanto funcional e que isso não acontecia tão facilmente no sistema nervoso central.

Além disso, a forma ontogenética ocorre no início do desenvolvimento infantil, mais especificamente do nascimento até aos dois anos, o que se revela como algo primordial para o desenvolvimento do sistema nervoso. Vale lembrar que na mesma fase a forma dendrítica e somática também ocorre para o desenvolvimento da pessoa.

Neste instante começam a ganhar forma as alterações espaciais, numerais e da densidade da espinha dendríticas. E também ganham destaque a capacidade de regular a criação ou morte das células nervosas. Podemos associar essa fase à neurogênese, que ocorre principalmente ainda na formação fetal. Este termo significa o exercício do ciclo celular integral pela célula nervosa, ou seja: a sucessão das fases que resulta na mitose da célula mãe, produzindo duas células filhas. Por fim, temos a forma sináptica que nada mais é do que a capacidade de fortalecimento ou enfraquecimento das sinapses entre células nervosas.

A plasticidade sináptica

Assim como uma espécie de “computador”, cada informação nova que aprendemos é devidamente armazenada no cérebro. E isso acontece por meio das ligações neuronais, que são como uma espécie de rotas para a intercomunicação dos neurônios.

Eles se comunicam através de ligações chamadas sinapses e podem se regenerar ao longo da vida da pessoa. Cada vez que aprendemos e repetimos estes novos conhecimentos, a comunicação entre os neurônios é reforçada. Para a saúde cerebral isso é algo de extrema relevância, pois isso garante que os sinais elétricos emitidos por estas estruturas façam este caminho de maneira mais eficiente.

Imagine o exemplo de um objeto que emite som diferente de tudo que você já tenha visto. Ao ver aquele objeto pela primeira vez, o que se passa em seu cérebro é algo espetacular: os neurônios do córtex pré-frontal visual vão identificar a cor, os que ficam no córtex auditivo vão gravar o som e outras áreas vão gravar até o nome daquele objeto ou você criará uma identidade para ele.

Isso ficará guardado em seu cérebro. Cada vez que se lembrar daquele objeto, a comunicação entre os neurônios vai garantir a eficiência da transmissão sináptica. O resultado disso é que a cognição ficará cada vez mais rápida. Quando se fala então em plasticidade cerebral, é possível compreender que a informação já estará devidamente armazenada e provavelmente o seu cérebro vai ter esta informação bem guardada em sua mente.

Fabiano de Abreu Rodrigues, colunista do TecMundo, é doutor e mestre em Ciências da Saúde nas áreas de Neurociências e Psicologia, com especialização em Propriedades Elétricas dos Neurônios (Harvard), programação em Python na USP e em Inteligência Artificial na IBM. Ele é membro da Mensa International, a associação de pessoas mais inteligentes do mundo, da Sociedade Portuguesa e Brasileira de Neurociência e da Federação Europeia de Neurociência. É diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito (CPAH), IPI Intel Technology e considerado um dos principais cientistas nacionais para estudos de inteligência e alto QI.

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