A procura por tratamentos eficazes contra o coronavírus, responsável pela pandemia que já dura um ano e meio, não para. No Brasil, duas iniciativas com animais estão em andamento: um estudo com cavalos, desenvolvido no Instituto Butantan, em São Paulo, e outro com cobras, na Unesp-SP, em Araraquara. Ambas pesquisas têm apresentado resultados animadores e uma delas deve seguir em breve para testes com humanos.
O estudo com cavalos envolve a produção de um soro contra o vírus SARS-Cov-2, causador da covid-19. O soro é feito com anticorpos do tipo imunoglobulina G (IgG) do plasma sanguíneo de cavalos que foram previamente expostos ao vírus inativado por meio de radiação. O soro então é extraído do animal e passa por purificação.
Equipamento utilizado na purificação de anticorpos extraídos do plasma sanguíneo de cavalos.Fonte: Pfizer/Reprodução.
O instituto já produziu pelo menos 2 mil frascos da substância. Em maio, A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deu a autorização para a realização dos testes em humanos. Nos testes realizados em células de camundongos e coelhos o resultado foi satisfatório e seguro.
Se apresentar a eficácia esperada na próxima etapa de testes, o soro poderá ser usado para tratar pessoas que apresentem os primeiros sintomas da doença — para bloquear o avanço da infecção. “O soro poderá ajudar bastante, já que ainda não temos antivirais eficazes contra o vírus causador da covid-19”, disse a bioquímica Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, diretora de Inovação do instituto, à revista Pesquisa FAPESP.
Já em Araraquara, no interior do estado, é uma víbora venenosa que vem trazendo esperança de frear a pandemia. Embora em um estágio menos avançado do que a pesquisa com cavalos, o estudo da Unesp-SP é bastante promissor. A equipe de pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da universidade descobriu que um peptídeo (o pedaço de uma proteína) presente no veneno da Jararacuçu bloqueia uma enzima do SARS-CoV-2 responsável pela reprodução do coronavírus.
Cobra da espécie JararacuçuFonte: Miguel Nema - Parque Estadual Serra do Mar/Reprodução.
Pequeno e fácil de ser obtido, o peptídeo encontrado na víbora é uma molécula que interage e bloqueia a PLPro, uma das enzimas do coronavírus responsáveis por sua multiplicação nas células. Segundo o professor Eduardo Maffud Cilli, um dos autores da pesquisa, todas as variantes do SARS-CoV-2 possuem a PLPro, então a tendência é de que a molécula do veneno da Jararacuçu mantenha sua eficácia contra diferentes mutações do vírus.
O potencial do peptídeo, não tóxico para humanos, foi encontrado após cientistas da instituição descobrirem que ele tinha atividade antibacteriana. Eles então realizaram novos testes para avaliar se a molécula também poderia agir em partículas virais. Após algumas pequenas modificações na estrutura química da molécula sintetizada no IQ, a atividade antiviral começou a aumentar até inibir 75% da capacidade do vírus se multiplicar nas células.
A pesquisa é uma promessa na busca por medicamentos para tratar os contaminados com o vírus e o artigo, já revisado por pares, foi publicado na revista científica internacional Molecules.
Agora, os especialistas irão avaliar a eficiência de diferentes dosagens da molécula e se ela pode exercer outras funções nas células, como a de proteção — evitando até mesmo a invasão pelo vírus. Após os testes, a próxima etapa da pesquisa é a pré-clínica, na qual pode ser estudada a eficácia do peptídeo no tratamento de animais infectados pelo coronavírus.
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