Quem trabalhou, ou ainda está trabalhando, em home-office sabe o valor da cafeína para conseguir produzir sozinho e sem supervisão. Mas não são apenas os seres humanos que funcionam melhor quando consomem o alcaloide. Uma pesquisa publicada no fim de julho, na revista científica Current Biology, mostrou que abelhas alimentadas com a substäncia são mais motivadas e eficientes.
Já é de conhecimento dos cientistas, há algum tempo, que a cafeína encontrada naturalmente em plantas como café e frutas cítricas desempenha um importante papel na conversão das abelhas em frequentadoras habituais de flores cafeinadas. Porém, os estudos realizados com base nessa informação limitavam-se a fornecer cafeína às abelhas na própria flor.
"Quando você dá cafeína às abelhas, elas não fazem nada exceto voar em círculos, mas parecem estar mais motivadas e mais eficientes", explica Sarah Arnold, uma das autoras do novo estudo, em entrevista à revista New Scientist. Segundo a pesquisadora da Universidade de Greenwich, no Reino Unido, o objetivo do estudo foi observar o papel da cafeína no cérebro desses insetos polinizadores para criar associações positivas.
A metodologia da pesquisa
Abelhas alimentadas com cafeína conseguem fazer associações de memória olfativa mais duradouras, o que poderia dar às plantas com néctar associado ao alcaloide uma vantagem adaptativa. Porém, a questão colocada pelos pesquisadores foi: será que a cafeína melhora a memória das abelhas, ou os insetos são apenas fissurados pela substância.
Para responder à questão, Arnold e sua equipe decidiram fornecer cafeína às abelhas diretamente em suas colmeias, enquanto aprendiam a associar um cheiro específico (um aroma sintético de flor de morango) com uma deliciosa solução de açúcar.
Depois, quando as abelhas adultas fossem procurar comida, elas receberiam uma recompensa ao escolher as flores com aroma de morango: o tal néctar açucarado, porém descafeinado. As 86 abelhas foram divididas em três grupos: um com odor de morango e solução de açúcar cafeinada, outro semelhante com açúcar, mas descafeinado, e um terceiro grupo com açúcar sem nenhuma adição.
Resultados
O que os cientistas descobriram foi que o consumo do suplemento alimentar com cafeína fornecido às abelhas na colmeia, quando combinado com uma mistura de odor floral (priming), faz com que esses insetos busquem preferencialmente as flores-alvo com o mesmo odor fora do ninho, o que não acontece quando elas são condicionadas apenas com o odor, mas sem a cafeína.
O experimento demonstrou que a cafeína faz com que as abelhas operárias façam associações mais fortes entre o odor floral e comida e, o que é mais importante, elas irão continuar procurando esse odor quando estiverem forrageando fora da colmeia. E isso pode ocorrer mesmo quando a cafeína não estiver na flor-alvo, e também no caso de visitas ao alvo sem nenhuma experiência de recebimento de cafeína na colmeia.
Essa é uma diferença fundamental em relação aos estudos anteriores, que sempre colocavam a cafeína no alvo, como parte da recompensa. Dessa forma, o estudo atual realizado em laboratório conseguiu fornecer a primeira evidência de aumento da memória olfativa das abelhas, baseado unicamente no uso da cafeína, o que não ocorre com aquelas não condicionadas anteriormente pelo alcaloide.
Essas descobertas têm grande aplicabilidade na agricultura, segundo Arnold. Ela dá como exemplo os produtores de morango, que compram inúmeras colônias de abelhas para instalar em suas fazendas. Muitos desses insetos não irão passar nem perto das flores de morango visadas. Mas, se forem ensinadas nas colmeias a preferir a colheita com cafeína, darão aos fazendeiros o retorno esperado.
ARTIGO Current Biology: doi.org/10.1016/j.cub.2021.06.068
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