Os desafios da Astronomia no século XXI

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Imagem: NASA, ESA, Hubble Heritage Team (STScI / AURA)

Conhecer os segredos do Cosmos é um esforço que nos foi legado por uma ancestralidade que se perde na história do tempo. É intuitivo acreditar que, antes mesmo de conceber ideias acerca da própria natureza humana, os primeiros representantes da espécie observavam e buscavam entender os padrões no céu, bem como os fenômenos do ambiente ao seu redor.

Notavam a diferença de claridade em curtos períodos, em que uma gigantesca fonte de luz parecia se mover acima de suas cabeças, trazendo calor e vida, e, ao ir embora, deixava para trás o esplendor de milhares de outras pequeninas luzes. Percebiam também que algumas épocas eram melhores do que outras para plantar e colher, que ora estava mais quente, ora mais frio, e logo concluíram que observar o céu permitia medir o tempo e prever os ciclos dos quais dependia sua sobrevivência.

Esses e tantos outros fatos fazem da Astronomia uma das ciências mais antigas de todas. Entretanto, como nos primeiros tempos, ainda olhamos para o céu com o deslumbramento digno de suas maravilhas. Hoje, acreditamos que alguns dos segredos do Universo foram desvendados. Sabemos, por exemplo, desde que Edwin Hubble verificou a existência de outras galáxias, em 1923, que os limites do Universo não se restringem à Via Láctea. Muito pelo contrário, abrangem distâncias inimagináveis, recheadas com bilhões de outras galáxias, cada uma delas contendo outras bilhões de estrelas.

Sabemos, graças a uma descoberta feita no apagar das luzes do século XX, que o Universo está se expandindo aceleradamente e também que ondas gravitacionais, previstas lá em 1916 por um tal de Albert Einstein, existem e chacoalham o tecido do espaço-tempo como uma pedrinha caindo nas águas de um lago. Sabemos até mesmo que um fóton leva cerca de 100 mil anos para sair do centro do Sol e chegar até a sua superfície, mas leva apenas 8 minutos e 20 segundos para sair de lá e atingir nossa pele aqui na Terra.

Embora nosso conhecimento sobre o Universo tenha aumentado significativamente ao longo do tempo, ainda estamos muito distantes de entender todos os seus mistérios. Toda resposta traz consigo uma nova pergunta. Há vida fora da Terra? Por que e como o Universo começou? Por que ele se expande cada vez mais rápido? O que causa essa expansão? O que seria essa misteriosa energia escura? E, afinal, o que é a energia escura mesmo? O nosso Universo é o único que existe?

Desafios para a astronomiaSimulação da formação da matéria escura no Universo que junto da energia escura são um dos maiores enigmas para a Astronomia moderna. (Imagem: Ralf Kaehler/Ethan Nadler/SLAC National Accelerator Laboratory)

Sempre foi mais fácil fazer perguntas do que respondê-las. Porém, mesmo que seja difícil responder a uma pergunta, isso não significa que ela não tenha uma resposta. A busca de tais respostas e, consequentemente, também de outros novos questionamentos, consiste em um dos principais desafios da Astronomia para a contemporaneidade.

Felizmente, o avanço exponencial da nossa capacidade de construir novas e aprimoradas tecnologias, bem como a criação de modelos matemáticos, computacionais e teóricos, torna-se uma ferramenta fundamental e uma aliada poderosa nessa empreitada. Aprofundamos-nos cada vez mais no entendimento do céu, e as nossas descrições do Universo são cada vez mais detalhadas e confiáveis.

Por fim, mas não menos importante, também é dever da Astronomia combater a ignorância que tanto tem-se alastrado mundo afora, mesmo nessa nossa era baseada na Ciência e na Tecnologia. Pseudociências e superstições têm-se mostrado como armadilhas atraentes para um número incrivelmente grande de pessoas, e isso é um problema grave. Não podemos deixar que o esforço de milhares de mentes ao longo da história humana seja perdido por conta de falácias apelativas e maldosas.

Para entender a Ciência, basta ter a capacidade de se admirar com as coisas. E qual é o quadro mais bonito do que o Universo para se admirar? A curiosidade e o encantamento surgem naturalmente ao se falar de Astronomia. Por isso, talvez o maior desafio hoje seja aprimorar a educação. A alfabetização científica deve ser um caminho estimulado e defendido para que o conhecimento, assim como as estrelas no céu noturno, sejam sempre luz na escuridão.

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Nícolas Oliveira, colunista do TecMundo, é licenciado em Física e mestre em Astrofísica. É doutorando no Observatório Nacional, onde pesquisa estrelas órfãs em aglomerados de galáxias. Tem experiência com ensino de Física e Astronomia, pesquisa em Astrofísica Extragaláctica e Cosmologia. Atua como divulgador e comunicador científico, buscando a popularização e a democratização da Ciência.

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