Para Chris Impey, professor de Astronomia na Universidade do Arizona e autor de livros sobre o cosmos como O Universo Vivo e Beyond - Our Future in Space (Além - Nosso Futuro no Espaço, em tradução livre), quando o primeiro bebê nascer fora da Terra, será um marco "tão importante quanto os primeiros passos da humanidade para fora da África". Segundo ele, tal nascimento marcaria o início de uma civilização multiplanetária para a espécie humana.
Impey crê que por volta de 2040 um indivíduo único nascerá, com a cidadania de seus pais ou apátrida. Para o autor, será o primeiro verdadeiro "cidadão da galáxia" alguém que deve nascer em uma nave, estação espacial ou colônia – nesse caso, provavelmente na Lua ou em Marte, primeiros astros na mira de países e empresas privadas para abrigar um grupo de humanos fora da Terra.
Menina com uniforme de astronauta olha para o céu: nascimentos no espaço podem mudar a história da humanidade.Fonte: Freepik
Retrospectiva espacial
Foto de 1969, quando o homem pisou pela primeira vez na Lua.Fonte: NASA/Reprodução
"Durante o primeiro meio século da Era Espacial, apenas governos lançaram satélites e pessoas na órbita da Terra. Agora não. Centenas de empresas privadas estão construindo uma nova indústria que já tem 300 bilhões de dólares em receita anual", afirmou Impey. Segundo ele, hoje, toda atividade no espaço está ligada à Terra, mas o autor acredita que em poucas décadas pessoas começarão a viver no espaço.
A corrida espacial "começou como um duopólio", lembra Impey – quando Estados Unidos e União Soviética disputavam a supremacia espacial em uma disputa geopolítica e com forte conotação militar. Os EUA começaram bem, com a NASA pousando na Lua em 1969, mas hoje enfrentam dificuldades de orçamento. A Rússia também não é mais uma superpotência econômica e sua presença espacial não é mais relevante como quando lançou o primeiro satélite e a primeira pessoa em órbita.
A nova nação investindo pesado no espaço é a China. O programa espacial do país está crescendo, "alimentado por um orçamento que recentemente cresceu mais rápido do que sua economia". A China está construindo sua estação espacial, pousando sondas na Lua e em Marte e planejando uma base lunar. Impey acredita que em breve o país será a potência espacial dominante.
Já as empresas espaciais privadas estão comercializando turismo e recreação fora da Terra. "O objetivo de Elon Musk para a SpaceX é transportar 100 pessoas de uma vez para a Lua, Marte e além", afirmou o autor. Já a empresa de Jeff Bezos, a Blue Origins, pretende colonizar o sistema solar. Como bem disse Impey, "planos tão grandiosos têm céticos, mas lembre-se de que essas são as duas pessoas mais ricas do mundo".
O que podemos esperar do futuro?
Futuro pode ter hotéis de luxo no espaço. Ilustração de uma suíte do Voyager Station, que pretende abrir as portas em 2027.Fonte: Voyager Station/Divulgação
Para o astrônomo, os governos continuarão a lançar foguetes, mas os voos espaciais privados já superaram os lançamentos de todos os países do mundo juntos em 2016. Ele acredita que o próximo passo é a colonização. "Para uma espaçonave, a viagem até Marte é cerca de mil vezes mais distante do que uma viagem à Lua", explicou, e por esse motivo sua aposta é que a Lua seja o primeiro lar da humanidade longe de casa.
Impey lembrou que China e Rússia estão construindo juntas uma instalação de longo prazo no Pólo Sul da Lua, que deve estar operando entre 2036 e 2045. A NASA quer voltar à lua em 2024 e estabelecer o assentamento permanente Artemis dentro de mais uma década. Como parte da missão, a NASA também planeja lançar uma estação espacial lunar em 2024, a Gateway, em parceria com a SpaceX – o próximo passo seria Marte. Já Elon Musk pretende ter uma colônia em Marte até 2050.
A startup holandesa SpaceLife Origin planeja enviar uma mulher grávida a 400 quilômetros de altitude por tempo suficiente para que seu bebê nasça. Segundo o autor, existem obstáculos legais, médicos e éticos. Já a Orbital Assembly Corporation planeja abrir um hotel de luxo com espaço para 280 hóspedes e 112 membros da tripulação em órbita em 2027 – o Voyager Station. A NASA está considerando permitir um reality show de 10 dias sobre um civil na Estação Espacial Internacional.
E como lembra o professor, para que uma civilização seja realmente livre da Terra, a população precisa crescer – o que significa ter bebês no espaço. Mas o ambiente no início deve ser estressante, além de oferecer potenciais perigos. "É possível que haja riscos inesperados para o feto ou para a mãe", afirmou o escritor. A infraestrutura das bases também teria que ser adaptada – um processo que deve levar décadas.
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