Comportamentos ao volante como o número de viagens que alguém faz em um raio de até 25 quilômetros de casa, a duração das corridas e a quantidade de freadas bruscas realizadas no período podem ajudar a diagnosticar o comprometimento cognitivo leve (CCL) e a demência, identificada como o declínio da capacidade cognitiva associado à perda da capacidade de executar tarefas comuns. Esse é o resultado de um estudo já revisado e publicado no fim de abril no jornal científico Geriatrics.
A análise considerou, além de dados obtidos durante a condução de veículos, informações demográficas como idade, raça e etnia, gênero e nível de educação dos participantes. Com o uso de machine learning foi possível prever, com precisão de 88%, se um indivíduo tinha CCL ou demência.
Idade avançada e determinados comportamentos ao volante podem indicar início de comprometimento cognitivo.Fonte: Pixabay
Mas ainda não é hora de se preocupar com aquele seu amigo ou tio meio barbeiro: os dados de condução, por si só, não são a medida mais precisa para saber se alguém está enfrentando algum tipo de deficiência cognitiva. Os dados de direção podem prever os sintomas com apenas 66% de acerto; quando combinados com os dados demográficos, a precisão aumenta para 88%.
Como é possível prever CCL e demência
Embora a idade avançada seja o principal fator para previsão de CCL ou demência, uma série de características na direção de veículos provou ser um bom indicador. O novo estudo se baseou em dados obtidos em outra pesquisa de longo prazo, a LongROAD, que filmou cerca de 3 mil motoristas dirigindo durante 4 anos. De posse desses dados, os pesquisadores criaram 29 variáveis que consideram comportamentos, uso de espaço e desempenho na direção.
Equipe criou algoritmo de machine learning para prever demência.Fonte: Pixabay
O estudo também se baseou em outra pesquisa, na qual idosos foram classificados segundo os níveis de depósito de amiloide (proteína insolúvel relacionada a quadros de demência) no cérebro. O histórico de envolvimento em acidentes e violação das regras de trânsito foi mais alto entre participantes com maiores depósitos da substância, os quais também foram piores em testes na estrada e estacionando.
A nova pesquisa afirma, no entanto, que não foram encontrados muitos indivíduos com CCL ou demência no conjunto de dados obtidos pela LongROAD. Embora o modelo criado para a pesquisa tenha conseguido prever o comprometimento cognitivo com alguma confiabilidade, será preciso incorporar mais dados antes de considerar que o sistema está pronto para uso comercial.
Idosos e direção
O novo estudo afirma que, mesmo que dirigir permita aos adultos mais velhos terem suas necessidades de mobilidade atendidas e permanecerem independentes, declínios funcionais típicos da idade, como condições médicas e efeitos colaterais de medicações, podem comprometer as habilidades na condução de veículos, aumentando o risco de acidentes. A pesquisa acrescenta, ainda, que mudanças atípicas no comportamento ao volante podem indicar declínio inicial nas funções cognitivas.
Dirigir pode auxiliar na independência da terceira idade.Fonte: Pixabay
O ensaio elenca as principais mudanças relatadas em motoristas mais velhos com CCL ou demência em estágio inicial: declínio no desempenho ao dirigir, aumento da incidência de fatos como se perder, falhas em testes de direção, redução na capacidade de navegação espacial e comportamento de direção atípico, como a diminuição de episódios ao volante, evitando direção noturna e hora do rush, por exemplo.
A equipe do estudo sugere que no futuro será possível incorporar seu algoritmo de machine learning a um aplicativo de smartphone ou em sistemas operacionais de veículos para monitorar o comportamento de indivíduos na direção. Dessa forma, o app avisaria o condutor caso estivesse apresentando comportamentos característicos de CCL ou demência ao dirigir.
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