As farmacêuticas Moderna, Johnson & Johnson e Pfizer estão testando suas vacinas em grupos cada vez mais jovens: a partir dos seis meses de idade. A iniciativa das três empresas, que também vêm realizando testes com adolescentes, faz coro com a corrente crescente de especialistas que acredita na necessidade de vacinar adolescentes e crianças contra o coronavírus para acabar com a pandemia.
No entanto, há médicos e cientistas que questionam a real necessidade da vacinação em grupos tão jovens: a comunidade está dividida.
Três farmacêuticas fazem testes em crianças atualmente.Fonte: Pixabay
A Pfizer anunciou no final de março que sua vacina é bem tolerada e 100% eficaz em pacientes de 12 a 15 anos – superando o índice alcançado no grupo entre 16 e 25 anos. A empresa recomendou a inclusão da faixa etária na vacinação e deve submeter em breve os dados às agências de saúde europeia (European Medicines Agency - EMA) e americana (U.S. Food and Drug Administration - FDA). Os resultados parecem promissores: nenhum paciente do grupo vacinado foi infectado pela Covid-19. Já entre os participantes do estudo que não receberam o imunizante, 18 contraíram a doença.
Para o CEO da Pfizer, Albert Bourla, devido aos bons resultados a autorização de uso deve ser realizada com urgência. A meta da companhia é começar a vacinar o grupo de 12 a 15 anos antes do início do próximo ano letivo do hemisfério norte, que costuma ser em meados de setembro.
Vacinação infantil divide especialistas
Se para as farmacêuticas a necessidade de vacinação entre crianças e adolescentes parece ser imperativa, para os especialistas ainda não há consenso. Há quem acredite que o modelo de vacinação adotado por Israel - que imunizou 55% da população com duas doses – e Reino Unido – onde 50% da população já tomou ao menos a primeira dose –, imunizando adultos rapidamente, seja suficiente.
Dados suportam a teoria, já que ambos os países apresentam uma queda significativa nos casos de doença e internação em todas as faixas etárias. Israel reabriu escolas, relaxou o uso de máscaras e vêm registrando menos de 200 casos de covid-19 por dia. Esta semana o país com nove milhões de habitantes registrou o primeiro dia sem mortes pela doença em dez meses.
Para a médica infectologista Monica Gandhi, professora da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, o caso é de simples matemática: quanto mais imunizados, menos casos do novo coronavírus. “Não é preciso imunizar menores de 11 anos para atingir a imunidade de bando”, afirmou em entrevista ao site Undark.
A especialista alertou ainda que dar mais importância à vacinação infantil do que de fato é necessário pode ser perigoso: “É preciso ter cuidado para não distorcer as percepções das pessoas”, disse. Direcionar doses para a vacinação de crianças pode causar um efeito cascata negativo, como o atraso na volta às aulas em escolas e a diminuição da quantidade de vacinas disponíveis para a imunização de idosos e pessoas com comorbidades em países subdesenvolvidos.
Especialista acredita que crianças de Israel possam estar adquirindo imunidade de rebanho.Fonte: Pixabay
Já Jeremy Faust, médico emergencista e professor de Harvard e Angela Rasmussen, virologista associada do Centro de Saúde Global e Segurança da Universidade de Georgetown, acreditam que “vacinar crianças é a próxima fronteira”. A afirmação foi feita em um artigo assinado pelos dois, publicado recentemente no jornal New York Times. Para os dois autores, vacinar crianças deve ter a mesma urgência e esforços em larga escala empreendidos na vacinação de adultos.
Eles sugerem que se os Estados Unidos não vacinarem crianças, o vírus pode encontrar nos pequenos os hospedeiros perfeitos para realizar mutações e ficar mais perigoso. “É o que acontece quando os vírus têm uma grande população suscetível. O vírus não se importa com nada, muito menos com a idade do organismo hospedeiro”, afirmou Rasmussen.
O Reino Unido afirmou que aguarda resultados mais robustos que indiquem a necessidade de vacinação de crianças e adolescentes. Estudos ainda sem revisão apontam que a imunização de adultos reflete positivamente na população mais jovem.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, os pais estão divididos: 44% das mães e 64% dos pais entrevistados em uma pesquisa realizada pelo Covid States Project, uma iniciativa de pesquisadores de universidades americanas, responderam que deixariam seus filhos serem vacinados. Já 43% das mães abaixo de 35 anos afirmaram que não pretendem que seus filhos tomem a vacina. Até o momento, 250 crianças morreram por conta da Covid-19 nos Estados Unidos.
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