Crianças também devem tomar a vacina contra Covid-19?

Por Luciana Penante

26/04/2021 - 03:003 min de leitura

Crianças também devem tomar a vacina contra Covid-19?

Fonte :  Pixabay 

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As farmacêuticas Moderna, Johnson & Johnson e Pfizer estão testando suas vacinas em grupos cada vez mais jovens: a partir dos seis meses de idade. A iniciativa das três empresas, que também vêm realizando testes com adolescentes, faz coro com a corrente crescente de especialistas que acredita na necessidade de vacinar adolescentes e crianças contra o coronavírus para acabar com a pandemia. 

No entanto, há médicos e cientistas que questionam a real necessidade da vacinação em grupos tão jovens: a comunidade está dividida.

Três farmacêuticas fazem testes em crianças atualmente.Três farmacêuticas fazem testes em crianças atualmente.

A Pfizer anunciou no final de março que sua vacina é bem tolerada e 100% eficaz em pacientes de 12 a 15 anos – superando o índice alcançado no grupo entre 16 e 25 anos. A empresa recomendou a inclusão da faixa etária na vacinação e deve submeter em breve os dados às agências de saúde europeia (European Medicines Agency - EMA) e americana (U.S. Food and Drug Administration - FDA). Os resultados parecem promissores: nenhum paciente do grupo vacinado foi infectado pela Covid-19. Já entre os participantes do estudo que não receberam o imunizante, 18 contraíram a doença.

Para o CEO da Pfizer, Albert Bourla, devido aos bons resultados a autorização de uso deve ser realizada com urgência. A meta da companhia é começar a vacinar o grupo de 12 a 15 anos antes do início do próximo ano letivo do hemisfério norte, que costuma ser em meados de setembro.

Vacinação infantil divide especialistas

Se para as farmacêuticas a necessidade de vacinação entre crianças e adolescentes parece ser imperativa, para os especialistas ainda não há consenso. Há quem acredite que o modelo de vacinação adotado por Israel - que imunizou 55% da população com duas doses – e Reino Unido – onde 50% da população já tomou ao menos a primeira dose –, imunizando adultos rapidamente, seja suficiente. 

Dados suportam a teoria, já que ambos os países apresentam uma queda significativa nos casos de doença e internação em todas as faixas etárias. Israel reabriu escolas, relaxou o uso de máscaras e vêm registrando menos de 200 casos de covid-19 por dia. Esta semana o país com nove milhões de habitantes registrou o primeiro dia sem mortes pela doença em dez meses.

Para a médica infectologista Monica Gandhi, professora da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, o caso é de simples matemática: quanto mais imunizados, menos casos do novo coronavírus. “Não é preciso imunizar menores de 11 anos para atingir a imunidade de bando”, afirmou em entrevista ao site Undark. 

A especialista alertou ainda que dar mais importância à vacinação infantil do que de fato é necessário pode ser perigoso: “É preciso ter cuidado para não distorcer as percepções das pessoas”, disse. Direcionar doses para a vacinação de crianças pode causar um efeito cascata negativo, como o atraso na volta às aulas em escolas e a diminuição da quantidade de vacinas disponíveis para a imunização de idosos e pessoas com comorbidades em países subdesenvolvidos.

Especialista acredita que crianças de Israel possam estar adquirindo imunidade de rebanho.Especialista acredita que crianças de Israel possam estar adquirindo imunidade de rebanho.

Já Jeremy Faust, médico emergencista e professor de Harvard e Angela Rasmussen, virologista associada do Centro de Saúde Global e Segurança da Universidade de Georgetown, acreditam que “vacinar crianças é a próxima fronteira”. A afirmação foi feita em um artigo assinado pelos dois, publicado recentemente no jornal New York Times. Para os dois autores, vacinar crianças deve ter a mesma urgência e esforços em larga escala empreendidos na vacinação de adultos. 

Eles sugerem que se os Estados Unidos não vacinarem crianças, o vírus pode encontrar nos pequenos os hospedeiros perfeitos para realizar mutações e ficar mais perigoso. “É o que acontece quando os vírus têm uma grande população suscetível. O vírus não se importa com nada, muito menos com a idade do organismo hospedeiro”, afirmou Rasmussen.

O Reino Unido afirmou que aguarda resultados mais robustos que indiquem a necessidade de vacinação de crianças e adolescentes. Estudos ainda sem revisão apontam que a imunização de adultos reflete positivamente na população mais jovem. 

Enquanto isso, nos Estados Unidos, os pais estão divididos: 44% das mães e 64% dos pais entrevistados em uma pesquisa realizada pelo Covid States Project, uma iniciativa de pesquisadores de universidades americanas, responderam que deixariam seus filhos serem vacinados. Já 43% das mães abaixo de 35 anos afirmaram que não pretendem que seus filhos tomem a vacina. Até o momento, 250 crianças morreram por conta da Covid-19 nos Estados Unidos.

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