Em 1993, o geólogo Carlos Arévalo escavou um conjunto de ossos fossilizados em um sítio ao norte do Chile, a cerca de 600 quilômetros da capital Santiago. O achado (partes de um fêmur, um úmero, o ísquio e vértebras do pescoço e das costas) revelou-se os restos de um dinossauro desconhecido pela paleontologia: o Arackar licanantay, apresentado nesta segunda (19) por pesquisadores do Museu Nacional de História Natural do Chile (MNHN).
Os paleontólogos David Rubilar (chefe da área de Paleontologia do MNHN), Alexander Vargas e José Iriarte-Díaz (todos autores do trabalho publicado agora na revista Cretaceous Research) escavam a região onde o A. licanantay foi achado, no deserto de Atacama, desde 2000 – em 2006, 2007 e 2001, eles voltaram ao Atacama para recuperar também ossos de outro titanossauro, ainda não identificado.
Ao morrer, o A. licanantay (que quer dizer "ossos atacamenhos" na extinta língua Kunza, falada no Deserto de Atacama) ainda era jovem, com presumíveis 6 metros de comprimento. O exame do que restou de seu esqueleto revelou que ele andava de maneira diferente de outros titanossauros.
Nós dos dedos
“Uma característica de muitos dinossauros gigantes é a disposição de suas pernas, em um ângulo aberto. Nosso A. licanantay não tem esse ângulo: seu fêmur é bastante reto. Há outros com essa característica, como o Atacamatitan chilensis, o primeiro titanossauro descoberto no país – seria interessante explorar porque justamente os dois dinossauros chilenos são assim; pode haver relação entre eles ou alguma peculiaridade biogeográfica", disse o diretor da Rede Paleontológica da Universidade do Chile, Alexander Vargas.
O ângulo entre o corpo e as patas do A. licanantay era reto, ao contrário de outros titanossauros.Fonte: MNHN/Divulgação
Não somente suas pernas eram diferentes: a redução progressiva das falanges dos dedos nas patas traseiras e seu desaparecimento nas patas dianteiras fazia com que o A. licanantay andasse sobre os nós dos dedos.
Outras singularidades chamaram a atenção dos paleontólogos, como a disposição de suas vértebras dorsais (ele tinha as costas mais achatadas que outros titanossauros); isso levou os pesquisadores a determinar que o exemplar do Atacama era, na verdade, de uma espécie desconhecida.
Achado ímpar
Segundo Rubilar, ele “corresponde ao terceiro dinossauro não aviário descrito e reconhecido pelo Chile, depois de Atacamatitan chilensis e Chilesaurus diegosuarezi. O grupo dos titanossauros é muito amplo e diverso, com repetidos achados na Argentina e no Brasil; porém, é muito menos frequente encontrá-los deste lado da cordilheira. Há poucos registros de titanossauros em nosso território, o que torna o A. licanantay um achado ímpar".
Os titanossauros foram os maiores dinossauros que andaram na Terra. Herbívoros, quadrúpedes com cabeça pequena, pescoço longo e uma grande cauda, eles ocuparam todos os continentes do Período Cretáceo – vértebras foram encontradas até na Antártida.
A América do Sul é um terreno fértil para a coleta de fósseis. O maior de todos os titanossauros andou pela Patagônia argentina há 95 milhões de anos: o Argentinosaurus huinculensis tinha 35 metros de comprimento, 20 metros de altura e pesava 90 toneladas (um Tyrannosaurus rex tinha sete toneladas). Segundo o paleontólogo Bernardo González Riga (também coautor da pesquisa sobre o A. licanantay), "das 80 espécies conhecidas no mundo, 55 vêm da América do Sul."
O ambiente era propício para esses herbívoros. Há 80 milhões de anos, o Atacama era coberto por florestas de coníferas, grandes palmeiras, samambaias e plantas com flores. As temperaturas, em vez das oscilações entre 0°C à noite e 45°C durante o dia, giravam em torno de amenos 24°C.
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