Um novo estudo publicado na revista Nature sugere que os níveis de oxigênio na atmosfera terrestre apresentavam grande oscilação há 2,22 bilhões de anos, reduzindo em 100 milhões de anos a data inicialmente estimada de 2,32 bilhões de anos (período em que quase desapareceu) de início de ascensão e estabilização do gás em nosso planeta – além de aumentar a duração de um processo chamado de Grande Oxidação, marcado por diferenças climáticas extremas, incluindo eras de gelo.
Cientistas da área já cogitavam a ligação entre a quantidade do elemento, criado, na época, por cianobactérias marinhas, e as baixas temperaturas, algo que, segundo assinaturas de rochas sedimentares, ocorreu ao menos três vezes – em um período de 2,5 bilhões a 2,2 bilhões de anos atrás. Tais materiais, por sua vez, em momentos nos quais não há oxigênio, contêm certos tipos de isótopos de enxofre que desaparecem com sua presença devido à ausência de reações químicas características ao cenário.
Em suma, há 4,5 bilhões de anos, a Terra quase não possuía oxigênio; há 2,43 bilhões de anos, as taxas começaram a subir e a descer constantemente, acompanhadas de congelamentos mundiais. Então, acreditava-se que tudo teria começado a ficar mais tranquilo há 2,32 bilhões de anos. Entretanto, havia um impeditivo para se bater o martelo quanto à relação entre o O2 e a "friaca", uma vez que um quarto evento gelado teria ocorrido ao menos mais uma vez depois disso.
"Por que temos quatro eventos glaciais e três deles podem ser explicados por meio de variações do oxigênio atmosférico, mas o quarto permanece independente?", questionou-se Andrey Bekker, geólogo da Universidade da Califórnia, coautor da pesquisa. Era preciso investigar – e rochas da África do Sul poderiam conter as respostas, jovens de, no máximo, 2,2 bilhões de anos.
Equipe procurou respostas em jovens rochas da África do Sul.Fonte: Andrey Bekker/UCR
Frente fria mundial
De acordo com as análises, destaca o artigo, logo após a terceira glaciação, quase não havia oxigênio na atmosfera, e as taxas subiam e desciam com o tempo, atingindo seu pico há 2,32 bilhões de anos. Até aí, nada diferente do que se sabia. Acontece que os sedimentos mais jovens revelaram uma nova queda, coincidente com o quarto evento. "Isso é algo que não esperávamos até os últimos quatro ou cinco anos [de pesquisa]", comemora Bekker.
Dentre os fatores que causaram as flutuações, apostam os especialistas, está o metano, que reage com o O2 e é mais eficiente na retenção de calor. Ele desaparece em cerca de uma década após o "encontro", e o início da produção de oxigênio teria gerado consequências ao meio ambiente. Mesmo que a interação produza dióxido de carbono, a quantidade não era abundante o suficiente para compensar o efeito de aquecimento perdido.
Felizmente, atividades vulcânicas exerceram seu papel no preparo da Terra para a vida, já que lançaram CO2 o suficiente para que ele não permanecesse eternamente congelado. O problema é que, com a luz escassa, menos "alimento" para as cianobactérias e, portanto, menos oxigênio gerado.
Erupções vulcânicas ajudaram a aquecer o planeta.Fonte: Pexels
Ainda assim, um outro efeito potencializou a mudança positiva, pois, quando o CO2 reage com a água da chuva, forma ácido carbônico, que dissolve rochas mais rapidamente e leva mais nutrientes ao fundo do mar. Isso, há mais de 2 bilhões de anos, foi fundamental para o desenvolvimento dos seres.
Exemplares de rochas da África Ocidental, da América do Norte, do Brasil, da Rússia e da Ucrânia são capazes de atestar toda essa movimentação. De todo modo, os estudos não param, e cientistas esperam, com um olhar mais carinhoso sobre exemplares mais antigos, entender como isso afetou a existência de outros organismos.
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