O medo de que um meteorito ou um cometa possa colidir com a Terra, como aquele objeto celeste que exterminou os dinossauros há 66 milhões de anos, sempre habitou o imaginário popular e também a problemática em diversos estudos científicos.
Por isso, as crateras de impacto, espécie de impressão geológica que ocorre quando um objeto menor do espaço colide com um maior, no caso a Terra, têm sido estudadas por cientistas do mundo inteiro. Nesse sentido, em 2012, um estudo publicado na revista Earth and Planetary Science Letters localizou a cratera de impacto mais antiga da Terra na região de Maniitsoq, na Groenlândia.
Porém, um estudo publicado na mesma revista no início deste mês (1º) contesta essa pesquisa, afirmando até que a depressão de 100 km da Groenlândia não é nem mesmo uma cratera, e que a formação geológica de cerca de 3 bilhões de anos seria resultado da ação de força naturais.
Estrutura de de Maniitsoq (Fontes: University of Waterloo/Reprodução)Fonte: University of Waterloo
As duas versões da cratera de Maniitsoq
Quando em 2012 o geólogo Adam Garde, do Geological Survey of Denmark and Greenland, pesquisou com sua equipe a gigantesca cratera localizada 55 km a sudeste da cidade de Maniitsoq, na Groenlândia, concluiu que ela foi produzida pelo impacto de um meteoro, e afirmou que se tratava do primeiro caso do tipo ocorrido na Terra.
O autor do novo estudo, Chris Yakymchuk, geólogo da Universidade de Waterloo, no Canadá, afirmou ao site Live Science que uma extensa pesquisa conduzida na região não revelou qualquer vestígio microscópico de deformação de choque, que é uma característica “encontrada em quase todas as outras crateras de impacto".
Por isso, o estudo atual concluiu que as relações de campo são inconsistentes com uma cratera de impacto circular, e sugere "que a estrutura na região é o produto do movimento, deformação e aquecimento das placas tectônicas antigas ao longo de centenas de milhões de anos". Mas Adam Garde não concorda
Por que Maniitsoq não é uma cratera de Impacto?
Fonte: Chris Yakymchuk et al./DivulgaçãoFonte: Chris Yakymchuk et al.
O principal argumento de Garde e seus colegas para garantir que Maniitsoq é um cratera de impacto foi a estrutura das rochas centrais. Na pesquisa de 2012, eles escreveram que a profundidade desses agregados sólidos e a forma com que foram forçados para dentro do solo só poderia ser justificada pelo impacto de um meteorito.
Yakymchuk reconheceu na entrevista ao Live Science que, “com os dados que eles dispunham na época”, essa explicação era aceitável. Mas, ao coletar mais dados, utilizando tecnologia recente, a equipe chegou com a “mente aberta” para descobrir e apresentar novas evidências contra a teoria do impacto.
A principal delas veio da análise de cristais de zircônio, pequenas estruturas desse metal, extremamente duráveis sob a forma de silicato. Após examinar atentamente as estruturas de cerca de 5 mil desses pequenos grãos, a equipe não localizou nenhum sinal, como possíveis fraturas internas, indicando qualquer tipo de impacto.
A réplica dos defensores da teoria do impacto
Após a apresentação dos elementos da nova pesquisa, Adam Garde continua defendendo o seu ponto de vista de 2012, admitindo que “ficaria feliz em mudar minha interpretação”, caso os novos estudiosos do assunto apresentassem uma explicação física alternativa convincente para o formato da parte central da estrutura, cujas observações não foram discutidas no estudo atual.
Quanto aos cristais de zircônio, ele entende que eles não podem ser tomados como fonte confiável, quando se considera a antiguidade da cratera, que pode ter apagado as evidências de um impacto através de processos geológicos de longa data.
Seja qual for o resultado do debate, o Banco de Dados de Impacto da Terra considera que a estrutura Yarrabubba, na Austrália Ocidental, é hoje a cratera mais antiga do mundo.
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