Mais lidos em livros de ficção científica do que nos de física, os buracos de minhoca, atalhos hipotéticos através do espaço e do tempo, seriam capazes de transportar pessoas entre dois pontos distintos, percorrendo enormes distâncias em questão de poucos segundos.
Cientistas de renome como Albert Einstein e o físico norte-americano Kip Thorne têm teorizado sobre a existência desses portais do espaço-tempo há muitos anos, mas ninguém foi capaz de provar sua existência. Pelo menos até agora. Na terça-feira (9), dois estudos sobre o tema foram publicados na revista Physical Review Lettters D, ambos propondo que buracos de minhoca podem existir no mundo real.
Uma das maiores dificuldades para a factibilidade dos buracos de minhoca é o chamado colapso gravitacional: a parte mais estreita do portal, ou pescoço, poderia entrar em colapso sob o peso de sua própria gravidade. Uma saída, apontado por alguns teóricos, seria preencher o buraco com matéria exótica, um tipo “desviante” de matéria, com propriedades negativas.
O que dizem os estudos?
Fonte: Eoneren/iStock/ReproduçãoFonte: Eoneren/iStock
No primeiro dos novos artigos, um trio de pesquisadores liderados por Jose Blázquez-Salcedo, da Universidade Complutense de Madri, afirma que podemos nem mesmo precisar de utilizar a tal matéria exótica de existência puramente teórica. A alternativa, para esses cientistas é a utilização de dois férmions, partículas semelhantes a “legos” formadores de matéria, que não podem ocupar espaço juntas no mesmo instante.
Segundo os pesquisadores, um ajuste na massa e na carga desses férmions pode manter o caminho cósmico aberto. Mas, para que isso funcionasse, seria preciso que a razão entre a carga total dos férmions e a massa total de tudo que existe dentro do buraco de minhoca fosse maior do que o limite prático determinado pelos buracos negros.
Porém, há uma dificuldade intransponível nesse modelo, apesar de teoricamente bem construído: é que o objeto de trabalho da equipe são buracos de minhoca microscópicos, naturalmente impraticáveis para experimentos com seres humanos.
Um buraco de minhoca com cinco dimensões
Fonte: RadioMoscow/Getty Images/ReproduçãoFonte: RadioMoscow/Getty Images
Mas o segundo artigo, publicado por Juan Maldacena do Instituto de Estudos Avançados em Nova Jersey e Alexey Milekhin da Universidade de Princeton, apresenta um modelo de buraco de minhoca suficientemente grande para que seres humanos possam atravessar.
O buraco de minhoca de Maldacena e Milekhin se forma no espaço-tempo de cinco dimensões, conhecido como modelo Randall-Sundrum. Os autores explicam que esses buracos de minhoca seriam parecidos com buracos negros de massa intermediária (maiores que os buracos negros estelares) aos olhos de um “observador não-treinado”, segundo os autores.
Uma pessoa que pulasse nesse tipo de buraco de minhoca iria experimentar uma aceleração de até 20 g, o que é um valor considerável (um foguete expõe os astronautas a 8 g), porém com capacidade de sobrevivência. Um buraco de minhoca desse tipo demandaria um ambiente bem mais frio que o Universo atual, ou seja, apenas presente nas equações.
Mas, se por uma singularidade (da vida, não a gravitacional) conseguíssemos utilizar um buraco de minhoca, seríamos capazes de percorrer nossa galáxia inteira em menos de um segundo. Pelo menos, para a pessoa que atravessa o buraco. Pois, se sua família estiver rastreando a sua viagem do lado de fora do buraco de minhoca, eles terão que esperar algumas dezenas de milhares de anos.