Astrônomos encontraram evidências de um exoplaneta que perdeu sua atmosfera original, mas foi capaz de desenvolver outra camada protetora por meio de atividade vulcânica, primeiro caso observado em um planeta fora do Sistema Solar. A descoberta foi resultado de novas análises de registros efetuados em 2017 pelo telescópio espacial Hubble, da NASA.
Pesquisadores do Jet Propulsion Laboratory (JPL) especulam que a origem do mundo gasoso localizado a cerca de 41 anos-luz da Terra, denominado GJ 1132 b, apresentava uma espessa manta de hidrogênio e hélio na atmosfera. Por ele orbitar uma estrela vermelha anã muito próxima, acredita-se que a perda inicial ocorreu devido à intensa radiação liberada por sua companheira. Caso o planeta não desenvolvesse um mecanismo para se proteger dessas emissões, em um curto período de tempo ele perderia seu núcleo.
Com base em uma combinação de evidências observacionais diretas e inferência por meio de modelagem computacional, a equipe relata que a segunda atmosfera consiste em hidrogênio molecular, cianeto de hidrogênio, metano e também contém uma névoa de aerossol baseada em hidrocarbonetos produzidos fotoquimicamente. Esses gases foram detectados pelo Hubble à medida em que a luz da estrela era filtrada pela segunda atmosfera do exoplaneta.
Para os cientistas, o hidrogênio atmosférico atual deve ser resultado do composto original, absorvido pelo manto de magma derretido e lentamente liberado por processos vulcânicos. “É algo muito empolgante. Acreditamos que a atmosfera que vemos agora passou por um processo de regeneração, assim ela pode ser uma secundária”, disse Raissa Estrela, pesquisadora envolvida no estudo.
Esquema comparativo (em inglês) das características do GJ 1132 b com outros planetasFonte: NASA/Reprodução
Devido ao fato de o GJ 1132 b estar muito próximo de sua estrela, ele completa uma órbita a cada um dia e meio. Além disso, apresenta uma mesma face voltada para sua companheira o tempo todo, fazendo com que a energia da órbita e da rotação fique presa em seu interior. Esse fenômeno estaria relacionado com a força de maré, e pode ser o sistema responsável por gerar aquecimento e manter o núcleo líquido do planeta, o que deve favorecer as atividades vulcânicas.
Dado seu interior quente, a equipe acredita que a crosta mais fria do planeta é extremamente fina, provavelmente com apenas centenas de metros de espessura. Essa característica implicaria que não há condições de a superfície sustentar grandes montanhas vulcânicas, como vistas na Terra.
Dessa forma, seu terreno plano deve apresentar fissuras, nas quais haveria a liberação de hidrogênio e outros gases que reabastecem a nova atmosfera. O futuro das observações e estudos do GJ 1132 b virá em breve, com o início das operações do telescópio espacial James Webb previsto para ser lançado no final do ano. O projeto captará radiação infravermelha de exoplanetas e, assim, poderá comprovar a forma da superfície apontada pelos pesquisadores.
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