Eu sou Fabiano de Abreu, doutor em Ciências da Saúde nas áreas de Neurociências e Psicologia, mestre em Psicanálise e criador da Terapia da Psicoconstrução, método que tem como base a memória primitiva.
Como todo cientista, sou, acima de tudo, um curioso. Não encontrava satisfação nos entraves em que as psicoterapias esbarravam, impossibilitando o progresso do material subjetivo em ações comportamentais. Tornar o latente em manifesto, revelando a origem do trauma sem conseguir promover um novo paradigma, foi o detonador para um estudo mais profundo nas ciências que fazem fronteira com o que é mental e biológico.
Os genótipos têm forte influência na natureza primitiva do ser: há traumas que deixam registros profundos nas bases que lançam a estrutura do inconsciente. De acordo com pesquisas realizadas, a idade e o tipo de trauma podem trazer injúrias irreversíveis para a mente e sua prontidão, e as respostas mais adequadas podem ficar comprometidas. Estudar ancestralidade, genótipo, fenótipo e neurobiologia permite encontrar informações que preencheriam as lacunas existentes em alguns métodos terapêuticos.
Psicoconstrução vai além da consciência do trauma e não invalida as terapias de cunho psicanalítico
A psicoconstrução vai além da consciência do trauma e não invalida as terapias de cunho psicanalítico. Todavia, acrescenta dados genéticos em busca da resposta para o motivo do trauma, que é a origem do transtorno, da síndrome ou de qualquer problema que comprometa o equilíbrio mental. A nova terapia modela as funções cognitivas, que levam o sujeito através da consciência a tomadas de decisões e ajustes em sua rotina, de acordo com sua singularidade.
Há uma memória genética que vem por meio das histonas que regulam o gene, são carregadas no espermatozóide e permanecem na formação do embrião, que é alimentado pelos hormônios da mãe pelo cordão umbilical com dados genéticos, também pelas histonas. Logo, nossa personalidade é um somatório de memórias primitivas que, vinculadas às memórias instintivas, formam a nossa subjetividade, que carrega traços da nossa ancestralidade.
Alguns transtornos traziam a razão do problema à consciência, mas havia interferências genéticas em que a consciência era insuficiente para dar voz à razão. É como se a pessoa entendesse o motivo, mas sua personalidade não tivesse força egóica para produzir em ação novos comportamentos.
Há também a razão abstrata, nossa natureza mais primitiva derivada do cérebro reptiliano totalmente instintivo. É a região do sistema límbico que pode criar engramas, que são marcas de memória, de acontecimentos irreais, como um filme real que faz acreditar naquilo que conforta ou que projeta imagens de uma realidade paralela para o neocórtex de nosso cérebro racional. A consequência é fazer o indivíduo ver o mundo não como é, mas sim como ele o sente.
De forma genérica, a psicoconstrução avalia a genética e as possibilidades para a personalidade, além de tratar a consciência do trauma, mas não deixa de compreender a personalidade singular reagente ao trauma e a possibilidade de engramas de razões abstratas por influência desta
Depois, são analisados os possíveis neurotransmissores, mensageiros químicos atingidos para o problema psíquico, para não só os procedimentos tradicionais serem utilizados, mas também hábitos para comportamentos que possam ajudar no problema serem promovidos. Assim, é possível contemplar uma abordagem genética e ecológica, para a promoção da saúde do paciente, cuidando da rotina com hábitos que englobam de forma personalizada as demandas de alimentação, atividades físicas e treinos cognitivos em uma busca do bem-estar de forma integral.
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Fabiano de Abreu Rodrigues, colunista do TecMundo, é doutor e mestre em Ciências da Saúde nas áreas de Neurociências e Psicologia, com especialização em Propriedades Elétricas dos Neurônios (Harvard). É membro da Mensa International, a associação de pessoas mais inteligentes do mundo, da Sociedade Portuguesa de Neurociência e da Federação Europeia de Neurociência. É diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito (CPAH), considerado o principal cientista nacional para estudos de inteligência e alto QI.