Um iceberg gigante pode se desprender da plataforma de gelo de Brunt, na Antártida, a qualquer momento, conforme apontam relatórios divulgados recentemente pela NASA e pela Agência Espacial Europeia (ESA).
Monitorando a plataforma desde 2019, utilizando as imagens capturadas pela missão Copernicus Sentinel-1, a ESA deu o primeiro alerta no início de janeiro, informando sobre a possibilidade de um iceberg do tamanho da cidade de Londres se soltar, o que acabou não acontecendo, ainda. De acordo com a agência, os dados do último dia 12 de fevereiro indicam um desprendimento “iminente”.
A ESA afirmou ter detectado uma nova fenda, ainda não nomeada, no fim de 2019, que vem sendo monitorada desde então. Ela surgiu ao norte da “Halloween Crack”, detectada em outubro de 2016, e fica um pouco mais distante da “Chasm 1”, uma fenda gigantesca de mais de 25 anos.
Localização da plataforma de gelo de Brunt.Fonte: ESA/Divulgação
Localizada em uma área denominada “McDonald Ice Rumples”, a nova rachadura na plataforma de gelo de Brunt cresceu cerca de 2 km pouco tempo depois de ter sido descoberta, mas, nas últimas semanas, ela vem aumentando de tamanho rapidamente, o que chamou a atenção dos glaciologistas.
Rápida expansão
Imagens de satélite obtidas pela ESA mostram que a fenda mais recente (identificada em vermelho na imagem abaixo) aumentou seu tamanho em torno de 20 km entre os dias 18 de novembro e 22 de dezembro de 2020. E o crescimento não parou por aí: ela ganhou mais 8 km de comprimento em direção ao norte no dia 12 de janeiro deste ano.
Ainda não se sabe o que causou essa rápida extensão da rachadura em tão pouco tempo, mas o glaciologista da Universidade de Maryland (EUA), Christopher Shuman, tem uma ideia. “É provável que a dinâmica da fratura perto de ‘McDonald Ice Rumples’ tenha desempenhado um papel, assim como na rápida propagação da ‘Halloween Crack’ em 2016”, teorizou.
A nova rachadura apresentou um rápido crescimento nas últimas semanas.Fonte: ESA/Divulgação
Ele também menciona a mistura incomum entre mélange (combinação entre diferentes tipos de gelo marinho, neve e iceberg) e blocos de gelo nessa área da plataforma como um provável fator de aceleração do crescimento da rachadura.
Juntamente com a aceleração na borda da plataforma de gelo detectada há pouco tempo pela Sentinel-1, essas rachaduras apontam para um período de instabilidade na região, segundo a NASA, sugerindo que a movimentação levará à formação de um iceberg ou até mesmo dois. Certos do desprendimento, o que os pesquisadores não sabem é quando ele ocorrerá.
Processo natural
O desprendimento de icebergs nas plataformas de gelo da Antártida é um processo natural, que começa com a formação de rachaduras em sua superfície, causadas pelo derretimento das áreas mais distantes da costa. A partir daí, essas partes se tornam mais finas e propensas a formar fendas, podendo romper-se na sequência.
Em relação a Brunt, o último grande evento desse tipo por lá aconteceu em 1971. Na época, uma grande porção de gelo se partiu ao norte da região de “McDonald Ice Rumples”, após um evento semelhante ao que levou à formação da “Halloween Crack”.
A Antártida é o continente mais frio e seco do planeta.Fonte: Unsplash
Por causa dessa instabilidade atual, a estação de pesquisa Halley VI, situada não muito distante da fissura mais nova, precisou ser reposicionada, passando a ficar em um local mais seguro, ao sul da rachadura descoberta em 2016.
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