Quando a Guiné determinou o fim, em seu território, da epidemia de ebola que grassou pela África Ocidental entre 2014 e 2016 (a maior desde que o vírus foi descoberto em 1976), a doença havia deixado 11,3 mil mortos entre 28 mil casos, depois de cruzar as fronteiras e invadir a Libéria e Serra Leoa. Por isso, a notícia de que sete casos da doença haviam sido confirmados na comunidade rural de Gouéké, no sul do país, acendeu o alerta na comunidade médica mundial.
“É uma grande preocupação ver o ressurgimento do ebola na Guiné, país que já sofreu muito com a doença. No entanto, com base na perícia e experiência acumuladas durante o surto anterior, as equipes de saúde do país estão se movendo para rastrear rapidamente o caminho do vírus e reduzir outras infecções”, disse a diretora regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a África, a médica Matshidiso Moeti, ao anunciar a irrupção da doença.
Segundo as autoridades sanitárias do país, uma investigação inicial aponta como a origem do surto uma enfermeira da unidade de saúde local, que morreu no dia 28 de janeiro. Seis pessoas que compareceram ao enterro testaram positivo para a doença: duas morreram, enquanto as outras quatro continuam hospitalizadas.
A proibição de funerais comunitários (em que familiares lavam o corpo do morto) evita a propagação da doença.Fonte: Daniel Berehulak/Reprodução
Cinco variantes
Amostras dos casos confirmados foram enviadas a um laboratório do Instituto Pasteur, no Senegal, para que seja identificada, via sequenciamento do genoma, a cepa do ebola responsável pelo surto (existem cinco variantes: Bundibugyo, Costa do Marfim, Sudão, Reston – que infecta humanos mas não gera sintomas – e Zaire, nomes dados a partir dos locais de origem).
Segundo o representante da OMS na Guiné, Alfred George Ki-Zerbo, “vamos disponibilizar rapidamente recursos cruciais para ajudar a Guiné, que já tem uma experiência considerável no tratamento da doença. A resposta agora será mais forte e vamos aproveitar isso para conter a situação o mais rapidamente possível”.
A epidemia que varreu a África Ocidental matou mais de 11 mil pessoas e devastou os serviços de saúde e a economia dos países afetados.Fonte: Daniel Berehulak/Reprodução
O arsenal à disposição inclui uma vacina que conta com um estoque global de emergência de 500 mil doses, em poder da Global Alliance for Vaccines and Immunisation (Aliança Global para Vacinas e Imunização, ou GAVI Alliance).
Mas elas serão poucas se a doença se espalhar: Guiné, Libéria e Serra Leoa têm uma população conjunta de 22,5 milhões de habitantes, e o surto de ebola ocorre quando os laboratórios estão ocupados produzindo vacinas contra a pandemia de covid-19.
Três meses
A grande preocupação agora é impedir que a doença cruze as fronteiras. Desde o surto de 2014-2016, os países vizinhos desenvolveram mecanismos de pronta resposta para o caso de a doença ressurgir na região.
Enquanto na Libéria o presidente George Weah elevou o alerta sanitário no país, em Serra Leoa a OMS está ajudando a reforçar a vigilância comunitária de casos nas comunidades da fronteira, além de aumentar a testagem não apenas no país, como também na Costa do Marfim, em Mali, no Senegal e em outros países em risco na região.
A Guiné não é o único país que está lutando contra a doença: a República Democrática do Congo registrou três novos casos de ebola depois de declarar, em novembro, o fim da epidemia que infectou 130 pessoas, matando 55. Cerca de 40 mil pessoas foram vacinadas, o que conteve a doença no país.