Diversas teorias da conspiração ganharam força desde o início da pandemia do novo coronavírus, grande parte delas colocando a China como culpada, de alguma maneira, por gerar a crise de saúde que vem assolando o mundo desde o início de 2020. Mas quando se trata das teorias circulando apenas no país asiático, o vilão é outro: os Estados Unidos.
É o que mostra um estudo liderado pela professora de Ciência Social Computacional da Universidade de Wisconsin Kaiping Chen, publicado em novembro passado no arXiv, que analisou as conspirações sobre as origens da covid-19 mais populares no Weibo, rede social conhecida como o “Twitter chinês”.
A equipe da instituição americana coletou e analisou publicações relacionadas ao novo coronavírus feitas na plataforma entre os dias 1º de janeiro e 30 de abril de 2020, descobrindo que as teorias da conspiração chinesas são totalmente diferentes das que circulam nos Estados Unidos e servem de inspiração para pessoas de diversos países.
Muitos chineses acreditam que o novo coronavírus foi criado em laboratório pelos EUA para usar como arma biológica.Fonte: Rawpixel
No Weibo, os pesquisadores também encontraram postagens relacionando o Sars-CoV-2 ao cofundador da Microsoft Bill Gates e ao imunologista Anthony Fauci, como acontece nas plataformas ocidentais, além de usuários culpando o 5G pelo surgimento da doença que já matou mais de 2 milhões de pessoas. Mas elas estão presentes em uma quantidade muito menor por lá.
Ações de Trump influenciaram as teorias chinesas
De acordo com Chen, as teorias da conspiração sobre a covid-19 predominantes na China, no período de análise das postagens, colocavam a doença como sendo uma arma biológica deliberadamente criada pelos EUA ou alguma outra potência mundial.
Os pesquisadores também comentaram que o volume de teorias conspiratórias citando os EUA como a fonte original da covid-19 aumentou consideravelmente a partir do momento em que o então presidente americano Donald Trump endureceu o discurso contra a China.
A tecnologia 5G também é culpada pelos chineses, mas em menor quantidade.Fonte: Unsplash
Entre janeiro e abril do ano passado, Trump esteve envolvido em uma série de incidentes diplomáticos que enfureceram os chineses, entre os quais se referir ao coronavírus como “vírus chinês” e proibir a emissão de novos green cards (vistos permanentes), evitando a emigração para o país. Além disso, seu Secretário de Estado Mike Pompeo anunciou sanções à Huawei no fornecimento do 5G no país.
Essa tendência global ao nacionalismo, exacerbada com o início da pandemia e marcada pela grande quantidade de desinformação relacionada à doença, também é apontada pelos pesquisadores como um grande perigo para o plano de vacinação em massa da população mundial.
Estratégias para combater as fake news pandêmicas
A líder do estudo afirma que “a covid-19 é um exemplo de como a ciência pode ser distorcida para dividir as pessoas dentro de um país e entre nações”, por meio da disseminação de desinformação, e diz ser necessário investir em estratégias para combater as fake news.
Para tanto, ela aponta que os veículos de comunicação precisam evitar narrativas nacionalistas e com motivações políticas, além de ensinar o público a reconhecer teorias orientadas com objetivo de espalhar notícias falsas.
Investir na promoção de debates construtivos entre pessoas com pontos de vista diferentes e na escolha de fontes especializadas no tema são outras estratégias apontadas pela pesquisa como fundamentais nessa época de “infodemia”, termo usado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para se referir ao excesso de informações sobre a covid-19.
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